quarta-feira, 30 de novembro de 2011

LIXO EXTRAORDINÁRIO


Brasil/Inglaterra, 2010
Direção: Lucy Walker, Karen Harley e João Jardim

"Lixo Extraordinário" foi a mais recente inclusão do Brasil no Oscar, onde concorreu a melhor documentário, perdendo para o filme do post anterior, "Trabalho Interno".

Apesar do filme ser totalmente retratado no Brasil, sobre um fato nacional, a direção foi dada à uma inglesa. Apesar da co-direção de João Jardim, houve um imbróglio desagradável pois inicialmente seu crédito não foi dado. Apesar de tudo, o povo torceu como se o filme fosse 100% nacional, o que infelizmente não era o caso, mas valeu pela comunidade do Jardim Gramacho, que foi belamente retratado na película e que no dia do Oscar, criou um clima de final de copa do mundo para acompanhar a premiação.

Sempre gostei do trabalho do artista plástico Vik Muniz, inclusive, fui a uma exposição no Paço das Artes, na Usp, que falava sobre seu processo de criação das obras que ilustram e deram origem ao documentário, bem antes de saber que havia um roteiro sendo preparado.

Famoso por seus retratos utilizando matérias primas diferentes como chocolate e diamantes, Vik encontrou no lixo do aterro do Jardim Gramacho, o material perfeito para sua mais recente empreitada. No mesmo local ele abordou pessoas que tiram seu sustento de lá e começou a identificar seus personagens. Contratou alguns para trabalharem no seu estúdio no Rio por um período determinado de duas semanas.

O resultado das obras é fantástico, mas o melhor de tudo foi o processo. Utilizando mão de obra local, mesmo que por tempo determinado, fez muito bem para todas as partes envolvidas. Para os recicladores, a esperança de que dias melhores virão e para a equipe de Vik, a certeza de ter feito algo realmente válido, que enche a alma de satisfação. Toda a renda das obras foram leiloadas em Londres e revertida para a comunidade de Gramacho.

Impossível no entanto não compará-lo ao belo "Estamira", na minha opinião, um filme maior em todos os aspectos. Em "Lixo Extraordinário" também têmos personagens cativantes, com histórias sensacionais. Têmos vária(o)s Estamiras, que emocionam com suas palavras. Mas isso não é difícil de encontrar e nem precisa ir longe. Você já conversou com o porteiro do seu prédio? Esse cara tem história ...

O grande conflito da trama é saber como estes personagens irão reagir quando o conto de fadas acabar e retomarem suas rotinas. Uma coisa é fato: foram duas semanas que mudaram a vida de todos os envolvidos para sempre. Exercite o desapego ao material.





terça-feira, 29 de novembro de 2011

TRABALHO INTERNO

EUA, 2010
Direção: Charles Fergunson

Vencedor do Oscar de melhor documentário de 2011, "Trabalho Interno", que segundo o economista Luiz Gonzaga Beluzzo, trata-se de uma expressão idiomática e portanto não cabe uma tradução literal, como foi feita no título em português (que novidade), trata da enorme crise econômica que explodiu em 2008 e que reflete até hoje no mundo globalizado.

Narrado por Matt Damon, Fergunson nos apresenta uma pesquisa hiper detalhada de todos os motivos que acarretaram na crise. Pesquisa essa que tornava algumas entrevistas hilárias, pelo fato dele ter argumentos para questionar qualquer resposta dúbia ou irrelevante dos envolvidos.

"Inside Job", escancara os podres de Wall Street e expõe uma mantelada de mentiras e condutas criminosas que prejudicaram a vida de milhões de pessoas mundialmente por conta da cobiça dos mentores do esquema.

Um rombo de 20 TRILHÕES de dólares que ocasionou no tsunami econômico de 2008, uma crise que não se via desde 1929.

O filme mostra a relação de acadêmicos respeitados de intuições educacionais de prestígio com o governo e a relação dos executivos de Wall Street com drogas e prostituição, o pedaço moralista da obra de Fergunson indispensável a toda obra americana.

O filme ainda revela que muitos dos agenciadores e conselheiros de Bush Jr, continuam a dar as cartas no governo Obama, mesmo após o ocorrido. Com isso a crise em países como Grécia, Espanha, Irlanda e Portugal, continua a demonstrar que o tsunami ainda ronda o planeta, restando a estas nações aceitarem a ajuda do FMI e enfatiza algo que infelizmente vêm se comprovando já faz algum tempo: Obama é um banana.

Mais que um documentário, uma aula de economia que revela para nós simples mortais, muito mais do que nossa vã filosofia permite.





segunda-feira, 28 de novembro de 2011

A QUESTÃO HUMANA

França, 2007
Direção: Nicolas Klotz

Um dos melhores atores franceses da atualidade, Mathieu Amalric, interpreta neste filme de Klotz, o psicólogo de uma grande empresa pertroquímica alemã.

Seu trabalho é evitar que o stress de demissões em massa por exemplo prejudique a produção da empresa. Outra função é supervisionar funcionários que se desviem da conduta da empresa e das expectativas da chefia.

Certo dia ele é designado por um diretor para monitorar os passos do vice-presidente, que anda apresentando dificuldades para tomar decisões importantes. A aproximação de Simon então deve ser meticulosa e delicada, mas logo o investigado dá conta de suas intenções e seus motivos.

A partir daí misteriosas cartas começam a surgir e o investigado dá declarações inesperadas da relação do alto escalão da empresa com o nazismo. E é aí que começa a crise de Simon. Ao justificar que apenas segue ordens, ele não estaria agindo como os antigos militares que permitiram o massacre dos judeus?

Uma comparação para se pensar, entre os métodos empregados de seleção racial e social dos nazistas e os competitivos processos internos das grandes corporações atuais.





terça-feira, 8 de novembro de 2011

BALANÇO DA 35º MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SÃO PAULO


Mais uma Mostra chegou ao fim, ou quase, ainda tá rolando a repescagem até 5º Feira, mas já é possível fazer um balanço da edição 2011.

Tem uma figurinha carimbada da Mostra, que comentou que essa era a pior Mostra que ele já frequentou. Que dá pra contar nos dedos das mãos os filmes realmente bons que vieram para SP. Infelizmente, tenho que concordar. Já senti emoções maiores em Mostras passadas. É claro que teve bons filmes, mas teve muitos medianos e ruins também.

Ele disse que o Festival do Rio foi muito melhor e que vários filmes que lá estavam, não vieram para cá. Os curadores ficam nessa rixa de ineditismo e quem sofre somos nós cinéfilos. Mas não é a primeira vez que ouço que o Festival de lá é melhor. Dizem que é mais organizado e muito mais fácil para adquirir os ingressos, poupando as pessoas de ficarem horas ao sol na fila da repescagem por exemplo.

Mas não há de ser nada. Eu amo a Mostra de SP mesmo assim. Já devo estar na minha 10º edição e no blog posto sobre ela desde a 29º Mostra. Neste ano conferi cerca de 30 filmes, poderia ser mais, muito mais, mas tá ótimo. Senti falta de títulos israelenses e não consegui conferir os poucos iranianos que por aqui passaram. Uma pena, pois trata-se de um cinema em extinção. Mas deu pra viajar bastante pelo Mundo e pelo Brasilzão. Conheci novos frequentadores, revi as figurinhas carimbadas e me diverti a valer, como sempre.

Foram noites mal dormidas e dias de alimentação duvidosa. Enquanto o sol brilhava lá fora, eu viajava com prazer na sala escura. Um prazer imensurável, que somente quem ama a 7º Arte como nós, frequentadores de longa data da Mostra, sabe o que é ficar o dia inteiro no cinema, das 14h à 0h, às vezes até mais e estar pronto pra outra no dia seguinte. Que venha a 36 º! Desta vez, sem o mentor Cakoff. Espero que onde quer que você esteja, tenha ao menos uma sala de cinema para lhe confortar. Obrigado e Vive le Cinéma!

A lista do Cinemadicto deste ano ficou assim:

ps: Lembrando sempre que se trata de minha opinião pessoal, afinal, cada um enxerga o cinema de uma maneira e ai que mora a beleza da arte.

Entenda a votação:



O MELHOR



NOTA 5








NOTA 4













SURPRESAS SUPER AGRADÁVEIS





BOMBAS





Até o ano que vem.



domingo, 6 de novembro de 2011

A MALETA MEXICANA

EUA/México, 2011
Direção: Trisha Ziff

Com depoimentos de refugiados da Guerra Civil Espanhola e de netos dos que foram mortos (foram mais de 500 mil), o lindo documentário narra através de fotos encontradas quase 70 anos depois no México, após terem sido consideradas perdidas, este triste episódio da humanidade.

As fotos foram tiradas por famosos fotógrafos como o alemão Robert Capa, a polesa Gerda Taro e o húngaro David Seymour, todos exilados de seus respectivos países e levaram o fotojornalismo de Guerra a outro patamar. Nunca havia-se chegado tão perto da ação, do front. Nunca as fotos de Guerra foram tão realistas.

São mais de 4500 fotos encontradas e que foram expostas em Nova York no ano de 2007. O filme conta também o sofrimento dos exilados na França e a relação com o México, que foi o único país que apoiou e aceitou os mesmos e a geração que nasceu por lá em virtude do exílio de seus avós.

Durante muito tempo o governo espanhol ignorou seu passado, que veio à tona com a necessidade e ânsia dos parentes afetados em saciar suas perguntas. Não se constrói um futuro sem memórias. Filmaço.






Programe-se:
09/11 - Frei Caneca - 19h45

sábado, 5 de novembro de 2011

FAUSTO

Rússia, 2011
Direção: Aleksander Sokurov

Vencedor do Leão de Ouro em Veneza, "Fausto" encerra a tetralogia de Sokurov sobre a natureza do poder. "Moloch", "Taurus" e "O Sol", são os outros filmes que completam a tetralogia.

Livremente inspirado em Fausto de Goethe, o filme conta a lenda alemã do médico que fez o pacto com o demônio (Mefistóteles) dando sua alma em troca da realização de sua cobiça e luxúria.

Lenda muito bem filmada com a linda fotografia característica dos filmes de Sokurov. Esperava um pouco mais, mas o filme é grandioso, a altura do épico de Goethe.






Programe-se:
05/11 - Cinesesc - 21h35