segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Em Busca da Vida


China/Hong Kong/Japão, 2006
Direção: Jia Zhang-Ke

Na cultura ocidental sempre buscamos respostas imediatas. Tudo deve ter começo, meio e fim ou ao menos aparentar tal estrutura. Quando não deparamos com respostas diluídas e mastigadas ficamos com uma sensação de vazio e imcompreensão. A cultura oriental nos mostra que não detemos a verdade absoluta e é isso que acontece com "Em Busca da Vida". Aqui, você precisa de um tempo a mais para amadurecer a mensagem.

Do mesmo diretor dos aclamados "O Mundo" e "A Plataforma", Jia Zhang faz parte da mais recente geração de cineastas chineses que buscam a realização de um cinema independente.

Somente agora a China está começando a se abrir para o mundo e assuntos como desemprego, prostituição e miséria sempre sofreram com a censura. Em "Em Busca Da Vida", todos estes assuntos são abordados. Zhang ainda propõe a utilização de atores não profissionais para que tal realidade seja mais crua e próxima do mundo real.

"Em Busca ..." está centrado em duas narrativas parecidas, porém independentes. Um homem retorna após 16 anos a sua cidade natal para procurar sua filha. Lá chegando, descobre que a casa em que morava foi coberta pela água devido a construção da usina hidrelética 3 gargantas.

A outra narrativa conta a história de uma mulher que vai até a mesma cidade em busca do seu marido que trabalha como engenheiro da obra da usina e que estava fora de casa a 2 anos.

Ambos vão em busca de respostas para a retomada de suas vidas. Zhang não titubeia ao mostrar a miséria e o contraste de uma China em busca do capitalismo. Ao mesmo tempo em que trabalhadores suam demolindo sua história por quase nada, novos capitalistas comemoraram a inauguração da iluminação de uma ponte dançando.

Os diálogos são pausados e lentos. O filme tem um tempo diferente, um tempo propício a ele mesmo. A paciência é uma virtude e no mundo ocidental, confundimos lentidão com marasmo.

Talvez minha parte oriental tenha me ajudado a ter tido a paciência necessária para divagar melhor sobre este filme e sobretudo, compreendê-lo, que nada mais é do que o retrato atual do caminho que um país antes comunista e fechado esta tomando com a chegada do capitalismo selvagem e a reação de seu povo. A revolução feminista que porporciona nos novos tempos que a mulher chinesa possa pedir o divórcio e assuntos antes tratados como tabu, sejam discutidos e apresentados como algo que não podemos ignorar.

Mesmo diante de uma paisagem em ruínas, miséria e injustiça, ainda assim, Zhang nos faz desviar o olhar para um prédio que vira foguete ou um equilibrista na corda bamba. Diante de tantas metáforas, a verdade pode ser interpretada como uma construção em ruínas.




A Comédia do Poder



Alemanha/França, 2006
Direção: Claude Chabrol

Fui com grande expectativa assistir a esta "fita" como diria meu amigo Seu José. O interesse dele em saber minha opinião era algo obsessivo e eu por falta de tempo, somente neste fim de semana consegui conferir. Quando ele me ligar perguntado se assisti minha resposta será: Era pegadinha né Seu José? hahaha.

Um Chabrol sempre estará acima da média, mas "A Comédia ..." não chega a ser tudo o que dizem. Na verdade acho que é mais babação em cima do diretor e aqui no nosso blog não existe babação amigos, vocês sabem disso. O que é bom é bom e o que é ruim é ruim, "INDEPENDENTE" do autor. Pois bem.

Aqui, a excelente Isabelle Huppert e musa de Chabrol, faz o papel de uma juíza que investiga um caso de corrupção que envolve o presidente de uma importante corporação e consequentemente descobre segredos do alto escalão. Descobre que até mesmo seu chefe, tem o rabo preso e joga isso na cara dele quando pede para ele comprar um par de colhões.

O roteiro poderia ser melhor, mais bem tramado. A impressão que tive, é a de que ele foi escrito totalmente voltado para o papel de Huppert. Ela é uma excelente atriz e entendo a obsessão de Chabrol, mas acho que aqui ele foi longe demais. O filme é a Isabelle, quer dizer, não existe um só plano em que ela não esteja presente. Neste filme, Isabelle é Deus. Onipresente, onisciente e etc. Ela está em tudo e em todos. Isso talvez não interfira na visão do espectador, mas com certeza interferiu no filme. É tudo em cima dela e dos passos que sua personagem irá tomar. Por que na verdade, na conclusão, nada se resolve. Qualquer semelhança não é mera coincidência.

Se você é fã de Isabelle não perca este filme de maneira alguma e se não for ... Taí uma boa pedida, porque mesmo não sendo seu melhor trabalho, um Chabrol sempre estará acima da média.




Cão Sem Dono


Brasil, 2007
Direção: Beto Brant

Em seu último trabalho "Crime Delicado", Brant já flertava com um cinema mais maduro, diferente do que o havia consagrado até então. Em "Cão sem Dono" eu acredito que ele tenha encontrado o ponto de equilíbrio. "Crime Delicado" foi um filme diferente de tudo o que ele já havia realizado, e ao meu ver, foi uma passagem meio forçada e sem estrutura. Já em "Cão sem Dono", ele assume de vez a maioridade e realiza um belo trabalho até onde o filme se propõe. É sim um filme pequeno por natureza, mas que atinge seus objetivos de forma integral.

Um homem desempregado em crise existencial envolve-se com uma modelo recém chegada a capital. Ela tem muitos sonhos e imagina o futuro a todo o momento. Ele só quer saber do presente e é cético com relação ao que está por vim. Nada de planos, apenas o aqui e agora interessam. E assim vão passando os dias, até quando ela resolve sumir sem deixar pistas.

Ela tem câncer e precisa afastar-se para o tratamento. Um baque para quem sempre teve tantos planos. Agora, este homem cético precisa aprender a viver sem a mulher que ele descobriu que amava, somente após sua perda.

Na verdade, ele é o próprio cão sem dono. De imediato ele entrega-se e desiste da vida. Nada mais importa, ele dispensa trabalho e se afunda no seu apartamento sujo. Todos já passamos por alguma decepção amorosa e sabemos que embora pareça que iremos morrer nos momentos que se seguem, o tempo começa a trabalhar. Ele resolve tudo e quando nos damos conta, um belo dia abrimos a janela e percebemos que o que passou, passou e é hora de recomeçar. Ele retoma sua vida, faz a barba, sacode a poeira, arruma um emprego e entra no trilho novamente.

O filme guarda belas e cômicas passagens como a descoberta de um novo amigo no motoboy que atropelou a personagem da talentosa Táina Muller ou no diálogo sincero com o pai a beira da praia.

Todo cão está sempre a procura de um dono e quando este é encontrado, você imagina que os tempos de solidão nunca mais voltarão e se isso acontece, perde seu rumo por alguns momentos até entrar no prumo novamente. E assim a vida continua, cheia de altos e baixos.
Brant demonstra com este filme que amadureceu. Belo trabalho.

PS: Aquele porteiro não existe né gente? hahahaha.




sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Wanda´s Trick



Alemanha, 1916
Direção: R. Portegg


Esta sendo realizado na Cinemateca, a 1° Jornada Brasileira de Cinema Silencioso. Por si só a programação já valeria a visita à cinemateca, mas não trata-se apenas da projeção dos filmes. Existe um acompanhamento musical realizado ao vivo com obras escritas para os filmes com coordenação de Lívio Tragtemberg. Ou seja, uma experiência sensorial maravilhosa.


Quer coisa melhor do que rever clássicos do Cinema como "Salomé", "O Gabinete do Dr. Caligari" e tantos outros com acompanhamento musical ao vivo?!

Realmente trata-se de uma experiência inigualável e extremamemente prazerosa. Se já era bom mudo ...


Estarão participando músicos como Arrigo Barnabé, André Abujamra, Wilson Sukorski e o maestro Júlio Medaglia entre outros. Um programa imperdível para qualquer pessoa que tenha o mínimo interesse por Cinema, na maravilhosa cinemateca que conta com instalações impecáveis e o melhor de tudo: É GRÁTIS!!!


Não fica de bobeira e corre pra lá, até domingo tem programação. Você verá que no cinema não é diferente, nada se cria, tudo se copia. M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-O!!!

Eu fui conferir a sessão do último dia 14, "A Esperteza de Wanda" e confesso que me apaixonei por tudo que envolve a jornada. Os filmes são mais curtos, quando você menos percebe já acabou e você fica pensando: Será que ainda tem lugar para a próxima sessão? rsss. Realmente, imperdível. Vai lá meu!


10 a 19 de Agosto na Cinemateca e de GRAÇA!





Saneamento Básico



Brasil, 2007
Direção: Jorge Furtado

Sempre fui fã de Jorge Furtado. Da leva de diretores brasileiros, ele sempre procurou fazer um cinema mais voltado para o público e não para seu ego. Filmes com temas mais simples e de fácil entendimento. Ele consegue ser popular, sem apelar para estereótipos ou fórmulas desgatadas e batidas, e thank´s god, sai da mesmice do cinema lavoura arcaica e miserável, onde só vemos desgraça e tristeza. Já vemos isso no dia a dia, não precisa aparecer na tela também. Não que não seja necessário abordar estes assuntos, mas é preciso variar e descobrir outros caminhos para quem sabe algum dia termos uma indústria cinematográfica onde poderemos fazer dinheiro com bilheteria e não continuarmos escravos das leis de incentivo.

Contudo, esperava mais deste último trabalho de Furtado. Ele faz uma sátira e ao mesmo tempo uma crítica do processo ainda amador de se fazer cinema no Brasil.

Em um vilarejo em algum lugar do sul, os moradores reinvidicam uma fossa para o bairro. Vão até a prefeitura e descobrem que verbas para obras públicas estão encerradas para aquele ano, massssss, existe uma verba de R$ 8 mil reais para a realização de um vídeo. Eis que a turma resolve fazer o vídeo para receber a verba e quem sabe conseguir construir a fossa.

O melhor do filme é a atuação de Wagner Moura que está impagável no papel de monstro, um pouco exagerado sim, mas talvez tenha sido opção de Furtado, espero que sim, rssss. O filme todo é muito forçado e os cineastas que tentam um lugar ao sol no cinema brasileiro, que têm sim que trabalhar com baixo orçamento talvez não gostem muito da crítica. O filme dentro do filme é muito trash e carregado nos clichês. Resumindo: é um besteirol sem fim. Um "American Pie" tupiniquim. Já ia me esquecendo das participações especiais de Zéu Britto e Lúcio Mauro Filho como os operários do "Monstro da Fossa". Hilário.
O resto do elenco não chega a destacar-se, a não ser Paulo José como cientista louco, mas este dispensa comentários.

Com certeza não é o melhor filme de Furtado. Acho que ele exagerou e pegou pesado ao comparar sua produção trash com a atual situação do cinema brasileiro. Não é bem assim. A cultura deve ser democratizada e para isso, a revolução das câmeras digitais chegou sim para ficar, embora a velha guarda torça o nariz. Quem está começando não consegue captar os milhões para uma produção como ele consegue e sinceramente, com a verba que ele tinha em mãos, eu faria melhor.

O filme é engraçadinho e despretensioso. Ponto para Furtado. Mas criticar a nova geração que sua para mostrar a cara e seu trabaho, pegou mal. O tempo passa para todos, espero que ele nunca se esqueça disso.



Medos Privados em Lugares Públicos



França/Itália, 2006
Direção: Alain Resnais

A eterna busca do amor. O filme retrata um mosaico de seis personagens que possuem em comum a dificuldade de se relacionar. Isso no entanto, não impede que eles continuem tentando. Talvez esse seja um dos principais motores da vida humana, a busca do amor verdadeiro.

Filmado em Paris e com ótimas atuações, principalmente dos ótimos André Dussolier que interpreta o corretor de imóveis e de Pierre Arditi, o barman misterioso que está sempre com um semblante triste. Isso na parte masculina, pois na feminina, um filme de Resnais não poderia existir sem a presença de sua musa, Sabine Azéma, que interpreta a carola com síndrome de Caim.

Ainda temos a presença da linda Laura Morante como a mulher do personagem de Lambert Wilson que quer porque quer, um apartamento com escritório. Detalhe: Ele não trabalha. É um ex militar que foi expulso do serviço sabe-se lá porque. Mas isso não vêm ao caso.

Os personagens são meio bizarros. Todos eles possuem suas estranhezas. Mas com certeza, Charlotte é a mais estranha de todas. Vive falando de religião e como esta mudou sua vida, mas nos chamados momentos privados, transforma-se. Temos Gaelle, aquela que marca encontros na internet e se dá mal na maioria das vezes, pois o suposto pretendente nunca dá as caras. Agora, Thierry é o melhor deles. O sujeito bonachão, aquele cara em que você pode confiar, mas que vive recluso no seu mundinho, imaginando loucuras com Charlotte. Agora Lionel, o barman, realmente é um personagem a ser descontruído e uma das melhores passagens do filme ocorre entre ele e Charlotte.

Eu já havia imaginado no início, e nesta cena em particular, minha tese comprovou-se. A neve pode ser considerada uma das protagonistas da película. Além de dividir as passagens, ela faz parte fundamental do filme, ao aparecer dentro da casa de Lionel em seu diálogo com Charlotte. A neve é fria, mas derrete-se rapidamente com o mínimo toque de calor. Os personagens são frios e tristes, mas buscam sempre o amor que irá esquentar seus corações e suas vidas.

O título original do filme é "Coeurs" que significa corações. Acho que eu não estou viajando tanto assim.

Para acabar, o roteiro esta muito bem tramado e a direção dispensa comentários. Um Resnais sempre estará acima da média da programação. Disso, não tenho dúvidas. Muito bom.





quinta-feira, 16 de agosto de 2007

A Javanesa



Direção: Marcio Aurélio
Elenco: Leopoldo Pacheco


"A Javanesa" conta a história de amor entre dois desconhecidos e seu reencontro 30 anos depois. Você vai perguntar: Mas não é um monológo? Sim, é. E como fica então? Leopoldo Pacheco prova mais uma vez o ótimo ator que é interpretando os dois personagens. Na primeira parte ele interpreta o homem, na segunda a mulher e ao final, acontece o diálogo do casal.

No começo você vai estranhar um pouco, mas depois, o belo texto e a excelente interpretação de Pacheco cativam o público. O cenário é composto apenas por uma cadeira e um tapete. O figurino é o mesmo para ambos os personagens, a única mudança é um cachecol que ele coloca quando está interpretando a mulher, que diga-se de passagem, ele o faz sem nenhum afetamento.

A segunda e a terceira parte da peça são as melhores. É quando o texto começa a fazer sentido e você fica curioso para saber o que vai acontecer. Ele não sabe o nome dela e a chama de Javanesa porque ela vive cantarolando uma música com este nome. Ela é daquelas que não gostam de compromisso, que se sentem podadas e presas ao assumirem um relacionamento. Ele é exatamente o contrário, mas é tão apaixonado, que sempre cede as vontades, caprichos e regras dela.


Ele não resiste. Eles fazem amor, brigam, sorriem e choram juntos, e é tudo muito claro e bonito. Nada como o poder do teatro e a força da imaginação. Poderia ser um pouco mais curto, mas isso não chega a incomodar.

Excelente trabalho de Pacheco. Excelente texto. Excelente programa.


Duro De Matar 4.0


EUA, 2007
Direção: Len Wiseman

OK OK, eu sei que havia dito na crítica do "Homem Aranha 3" que minha tolerância com os blockbusters estava se extinguindo e não menti, mas como resistir a dar uma conferida nos personagens que fizeram parte de minha infância e adolescência?

Quando eu tinha lá meus 13 anos e só queria saber de me divertir, John Maclane, o personagem de Bruce Willys, me fez vibrar inúmeras vezes, assim como Rock, Rambo, Van Damme. Steven Seagal e Chuck Norris não constavam da minha lista, esses eu sempre considerei lixo. Hoje amadureci culturalmente e posso dizer que meu gosto cinematográfico já está definido e os blockbusters já não possuem muito espaço para mim. Mas eu fico atiçado para conferir the old heroes. Mesmo sabendo que eles já não condizem com meu gosto, lá fui eu assistir mais um "Duro de Matar".

Sabia que a probabilidade de sair achando o filme um cocô era grande, mas mesmo assim eu fui conferir. Masoquista eu? Talvez hahaha, mas gosto de conferir para poder falar.

Assim como no último Rock, que foi uma decepção total para mim, o herói carequinha de "Duro de Matar" está decadente. John Maclane é um sujeito ultrapassado que parou no tempo. Isso é bom, só faltava após anos o homem ainda se achar. Neste último filme, John é convocado para levar um jovem hacker à delegacia, somente isso, mas como você já adivinhou, a missão não será tão simples como aparenta. Nada é fácil para Jonh Maclane.

A interação destes dois personagens funciona muito bem, pode-se dizer que é a melhor coisa do filme. O velho detetive careca que curte Credence com o jovem hacker que parece o sósia do Júnior irmão da Sandy. Trata-se de um "casamento" perfeito que mantém o ritmo do filme até começarem os absurdos. Absurdos? Fala sério vai, a hora que ele derruba o helicóptero com o carro já não dá mais pra levar o filme a sério. Daí você vai dizer: Mas é um filme de ação ... Concordo, mas ação não é fantasia. Quer ver um belo filme de ação? Aluga "Brothers" do Takeshi Kitano. As coisas tornam-se surreais na mão de Maclane, o cara faz coisas impossíveis e parece o Jason, NUNCA MORRE MEU!!!

Assim como John, estou mais velho hoje e por isso mesmo, muito mais maduro e ciente do que quero para minha vida e esses filmes já não me descem mais. Eu sei que vou sair da sala rindo pra não chorar. Cinema é fantasia, aventura, tem que ter isso mesmo você vai dizer e eu vou concordar, adoro ver uma comédia bem besta as vezes, amo animações, "Senhor dos Anéis", " Harry Potter", gosto de tudo isso, mas Jonh Maclane e Rock, beirando os 60 anos e fazendo papel de invencíveis e imortais, já deu né.

Trata-se de caça niqueís para atores e produções decadentes. Triste. Eu gostaria de lembrar destes dois personagens no auge. Agora, vou lembrar deles como dois tiozinhos patéticos que não viram o tempo passar.

Mas, voltando ao assunto das velhas continuações oportunistas, quando será que vai rolar o Rambo 5 e o Exterminador 4? hahaha. Como diria Zé Simão, "nóis sofre mas goza" hahaha.