domingo, 27 de janeiro de 2013

LINCOLN


EUA, 2012
Direção: Steven Spielberg

Lincoln mostra como o mítico ex-presidente americano conseguiu entrar para a história e tornar-se uma lenda ao abolir a escravidão na America.
Não se trata de uma biografia, pois o filme foca neste episódio marcante da história americana e o que Lincoln teve que fazer para conseguir que essa emenda fosse aprovada. O filme também mostra um pouco da intimidade do ex-presidente com sua família, principalmente sua esposa, interpretada magistralmente por Sally Field.
 
Aliás, o elenco é uma verdadeira constelação. Além do sempre excelente Daniel Day-Lewis , o filme ainda conta com as presenças magnéticas de David Strathairn, James Spader como você nunca viu e Tommy Lee Jones, que rouba a cena.

Trata-se de um filme muito particular, pois conta uma história muito específica dos EUA. Um épico muito bem realizado e produzido, mas que não encanta. São muitos detalhes e se você perde um diálogo, corre o risco de não conseguir acompanhar o restante.

Eu diria que têmos um filme com interpretações monstruosas, mas com um roteiro frio, muito quadrado e cheio de informações. 

Apesar de tudo, gostei da maneira como o filme mostra Lincoln, um ser humano perspicaz, inteligente e a frente de seu tempo, mas com suas fraquezas e defeitos. Em nenhum momento o filme cai na pieguice de endeusar ainda mais o mito americano.

Como estamos aqui para falar de cinema e não de história, eu digo o seguinte: Lincoln é filme para emocionar americano e professor de história. Trata-se de um filme de ator. Atuações soberbas, mas todo misticismo em torno do protagonista e centro da história, não foi suficiente para fazer de Lincoln um grande filme. É um bom filme. Daniel Day-lewis é barbada para o Oscar, mas achei Spielberg um tanto preguiçoso no desenvolvimento da película. Poderia ter feito muito mais.






sábado, 26 de janeiro de 2013

2 COELHOS


Brasil, 2012
Direção: Afonso Poyart

Na época de seu lançamento o filme foi muito comentado principalmente pelos efeitos visuais hollywoodianos e sua linguagem frenética, bem ao estilo de Guy Ritchie. O cinema de gênero no Brasil ainda engatinha e sinceramente, não sei se algum dia chegaremos a realizar películas que buscam apenas vender, não por falta de vontade, mas pela falta de "pegada". Felizmente 2 Coelhos não busca vender nada e até surpreende.

Como o próprio protagonista revela, ele era o nerd da turma, mas usou sua inteligência para ganhar a vida fazendo mil tramóias. Enveredou-se pelo lado das trevas, embora seja um cara do bem. Contraditório? Sim. Algo bem semelhante aos "hackers".

O roteiro apesar de bem amarrado é um tanto mirabolante e fantástico, mas têm o trunfo de conseguir prender a atenção até o último minuto, que é onde o espectador realmente descobre o propósito de seu esquema um tanto surreal. O plano arquitetado por Edgar é quase perfeito, mas difícil de engolir.

O filme conta com ótimos atores (Alessandra negrini, Caco Ciocler, Marat Descartes entre outros). A edição e toda arquitetura de efeitos visuais e áudio são realmente de primeiro mundo, mas tanta qualidade tecnológica não é suficiente. Talvez se o roteiro fosse menos "surreal" eu conseguisse dar mais crédito, mas não é o caso. Me parece um pastiche do cinema de gênero estrangeiro. Matrix encontra o romantismo do anime com uma pitada de Cidade de Deus.

Apesar disso, não restam dúvidas de que o diretor tem um promissor futuro pela frente, principalmente no mercado internacional, pois é o tipo de filme que Hollywood adora.

Boa sorte Afonso, mas o cinema de gênero não me atrai. Tanta vontade de ser inteligente e confundir o espectador em um gênero que despreza o pensar, fez com que o tiro, na minha humilde opinião, saísse pela culatra, mas com certeza irá conquistar cabeças mais juvenis que acham Guy Ritchie o máximo.






domingo, 13 de janeiro de 2013

ABRAHAM LINCOLN: CAÇADOR DE VAMPIROS

EUA, 2012
Direção: Timur Bekmambetov

Fazia tempo que não via uma bobageira dessas. Admito meu lado masoquista quando se trata de cinema. O roteiro é batido e previsível, as atuações duvidosas e os efeitos maravilhosos. Com 20 minutos de filme ou antes, já da pra saber como ele irá acabar e ainda assim, lá vou eu até o último minuto. É legal não precisar pensar as vezes e este tipo de filme cumpre muito bem o papel cineoco.

Pensei, ledo engano, que a viagem do diretor ao juntar o mítico presidente americano com vampiros (de novo eles), poderia talvez sair algo no mínimo diferente e vai saber, interessante. Talvez ele pudesse explorar essa exótica empreitada. Que nada. 

Na terra de Lincoln o mundo se divide entre vivos e mortos. Os mortos são poderosos e querem dominar o planeta e somente um homem poderá impedir que o mal impere. Quem? Quem? Ora bolas, Abraham Lincoln é claro! Coitado, o homem deve estar se revirando no túmulo até agora. 

Quando criança, Lincoln presencia sua mãe ser assassinada, mas não sabia até o dia da vingança de que se tratava de um morto-vivo.

Um vampiro do bem, que teve sua mulher morta pelos mesmos, resolve ajudá-lo e ensiná-lo a lutar contra estes seres das trevas. Lincoln vira então um grande caçador e com o tempo vai descobrindo o dom da política. De uma hora pra outra ele já é o presidente e usa a guerra para saciar sua sede de vingança.

Mas a guerra é contra os próprios vampiros. Eles são a grande ameaça para a liberdade dos homens americanos, aliás, eles são os grandes responsáveis pela escravidão ainda existir. E dá-lhe linguiça. 

Essa mirabolante fantasia só é possível graças ao cinema e gera curiosidade. E mesmo imaginando que boa coisa não sairia, lá fui eu conferir com os próprios olhos, para depois de 1h40 minutos poder tirar minhas próprias conclusões, que eu já sabia quais seriam antes mesmo de vê-lo, mas tudo bem.

Filme oco para um público oco. Espero que Spielberg faça jus ao nome do mito Lincoln com seu novo filme. O mega indicado ao Oscar que leva o nome do presidente americano. Também, com Daniel Day Lewis como protagonista as coisas ficam bem mais fáceis né.

Agora esse caçador de vampiros... Aff! Nem Tim Burton como produtor executivo salva.








quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

FEBRE DO RATO



Brasil, 2011
Direção: Claudio Assis

Uma porrada seguida de um abraço, talvez essa seja a melhor maneira para explicar o mais recente trabalho de Claudio Assis. Amarelo Manga e Baixio das Bestas fogem ao esquema, pois somente a porrada encontra-se presente, mas Febre do Rato nos apresenta um diretor mais "amaciado", contudo, sem nunca deixar a contravenção, a polêmica e o crú visceral. Essas características estão no sangue de Assis, pelo menos até que o próxime filme prove o contrário.

Febre do Rato é o nome do jornaleco bancado pelo poeta Zizo, interpretado magistralmente por Irandhir Santos. O nome do jornal é uma expressão popular utilizada em Recife e que quer dizer alguém fora de controle. 

Anárquico, Zizo é um tipo de profeta/messias de uma turma que lembra muito uma comunidade hippie. Todo mundo come todo mundo, todo mundo divide a comida, as drogas e outros prazeres.

Através de sua poesia ele tenta espalhar suas ideias e ideais anárquicos  por "Hellcife". Marginal, presenteia seus colegas com versos e vive intensamente. Revoltado e doce ao mesmo tempo. 

O filme não incomoda como seus trabalhos anteriores. A sinceridade revolta de Zizo encontra conforto na ternura de suas palavras e na beleza da fotografia em preto e branco do mestre Walter Carvalho. Eneida (Nanda Costa) chega para tumultuar a cabeça do poeta, provocando uma verdadeira "guerra" em seus sentimentos. Difícil não lembrar de Waly Salomão. Zizo lembra muito o poeta carioca. 

O filme ainda conta com a presença do sempre ótimo Matheus Nachtergaele, que faz o papel de um coveiro que vive uma relação amorosa impetuosa com um travesti. No elenco ainda têmos o excelente Juliano Cazarré e presenças um tanto inesperadas como o pianistaVitor Araújo e a veterana atriz Maria Gladys.

O submundo recifense torna-se muito envolvente no roteiro de Hilton Lacerda, que teve colaboração de Xico Sá. A trilha de Jorge Du Peixe sela essa belezura de filme de tal maneira, que os acertos se sobrepõem a qualquer erro que algum crítico mesquinho tente encontrar na obra. 

Endiabrado. Louco. Zizo é tudo isso e muito mais. Ele vai além, está além. É um personagem crú, visceral e marginal. Um poeta do povo, que luta pelo povo de maneira contagiosa e empolgante. 

O filme vai totalmente na contramão da grande indústria cinematográfica (se é que existe uma no Brasil), mas a "revolta" instigante de Assis, aparece aqui um tanto mais parcimoniosa. A essência anárquica porém, está mais presente do que nunca.

Um filme para poucos, assim como todos dele. Sorte de quem aprecia. Pra fechar, um poema do endiabrado Zizo.

“Valetes a varejo”.
Assim, só sendo assim, posso falar
Das espadas que são nós.
Nós que se enrolam e se vertem
De forma tão infinita que nem a lâmina
(fina e precisa)
Consegue desfazer
A corda atada a nós.
Nem as espadas outras,
Mesmo que pareçam singelas,
Tem o poder de ferir e inferir.
Mesmo que seja fundo o corte
E mesmo que seja fácil,
O tempo todo nós:
Ali, Acima, abaixo.
Superfície e espelho de nós,
Que nada parece mudar e desfazer.
E quando o tempo deixar nós cegos
Vamos à beira do rio
(espelho ruminante da cidade)
Pensar em desatar.
…será tarde.
E no fluxo rio das idéias
Nós vão indo, afeitos, refeitos, rarefeitos…
E lá vão eles juntos. Afoitos se completam…
Eles nós. Cheios de nós.
Reinventam-se a cada dique: açudes.
E rompem Sobre nós, sob nós, sobre nós.







quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

O PALHAÇO


Brasil, 2011
Direção: Selton Mello

Nada melhor que inaugurar os posts de 2013 com um belo filme nacional. Selton Mello dispensa comentários. Trata-se de um dos melhores atores deste país e cada vez mais firma-se como um grande diretor. Sua passagem para trás das câmeras tem sido realizada com louvor, pelo menos nos últimos trabalhos, pois seu filme de estreia "Feliz Natal" de 2008, achei bem afetado. Mas como era a estreia, tem que relevar, afinal o homem tem crédito te sobra.

Seu atual trabalho na direção, a série "Sessão de Terapia", versão da trama israelense "Be Tipul", é simplesmente viciante, com diálogos arrebatadores e personagens riquíssimos. Mas vamos falar do indicado brasileiro ao Oscar, que infelizmente não se classificou entre os 5 finalistas.

Em seu segundo trabalho como diretor, Selton arrebata a crítica com este filme delicado, simples e belo. Ele conta a história de uma trupe circense que percorre os rincões deste Brasil. O circo Esperança é liderado pelos palhaços Puro Sangue (Paulo José) e Pangaré (Selton Mello), pai e filho respectivamente.

Cabe a Pangaré resolver os problemas e tocar o circo, uma vez que seu pai já esta bem velhinho. Pangaré é um palhaço em crise de identidade e olhar tristonho. A dificuldade para manter a trupe é diária, tendo que sujeitar-se a puxar o saco dos prefeitos das cidades por onde o circo passa. Se não bastasse, Pangaré não conhece outra vida além dessa do circo. Esta cansado, triste e vive no mundo da lua sonhando com ventiladores.

Certa noite após uma bebedeira ele põe o espetáculo em risco e Puro Sangue resolve ter uma conversa com o filho. Ele diz que nessa vida, precisamos fazer aquilo que sabemos fazer, aquilo que gostamos, dando a entender, que se Pangaré quiser tomar outro rumo e experimentar novas sensações, descobrir a vida fora do circo, que o faça, desde que seja feliz.

Pangaré vai então atrás de algo que não sabe o que é. O mundo lhe pertence. Sua atitude faz com que descubra o que realmente lhe importa nesta vida. A cena do reencontro é belíssima (prepare o lenço).

Com uma direção de arte impecável e belas atuações, "O Palhaço" credencia-se como um dos melhores filmes nacionais dos últimos tempos. Um roteiro simples, mas muito bem amarrado. Uma direção firme, de um diretor que sabe o que quer.

O filme ainda conta com participações mais que especiais, como Ferrugem e Zé Bonitinho, para citar apenas duas. Um show de atuação de Selton e do mito Paulo José, completam esta película imperdível e inesquecível. Vida longa ao diretor Selton Mello, que ainda participou do roteiro e da montagem. Cinema na veia!

O gato bebe leite, o rato come queijo e eu .... eu sou palhaço.