sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

A ÚLTIMA ESTAÇÃO

Alemanha/Rússia/ Inlgaterra, 2009
Direção: Michael Hoffman

Everything I Know,
I know only because I love.

Tolstoy - War and Peace

Leon Tolstoy, o escritor do povo e idolatrado mundialmente, tido por muitos como o maior de todos os tempos, tem os últimos dias de sua vida retratados neste filme.

Um homem dividido entre sua ideologia e o casamento de 48 anos com Sofya, interpretada pela ótima e bela, Helen Mirren. Aliás, o elenco é de respeito. Além de Mirren, têmos Christopher Plummer, que recebeu indicação ao Oscar por sua interpretação de Tolstoy, Paul Giamatti no papel do discípulo Chertkov e James McAvoy no papel de Valentin, o secretário particular de Tolstoy, rebelde e sentimental.

Convivendo com o mito endeusado, Valentin descobre que Tolstoy também é de carne e osso. Descobre que o mestre também já aprontou das suas e que sim, possue desejos como todo humano.

O que gera o conflito da trama é o fato de Tolstoy querer abdicar de todos os direitos que possue sobre suas obras e simplesmente, repassá-los para o povo russo, o que deixa Ana Sofya transtornada, ocasionando assim conflitos de Ana com tudo e todos, exceto Valentin, que demonstra piedade e solidariedade para com Ana Sofya. Ao conhecer o mestre de perto, ele sabe que aquilo que faz talvez não seja o correto e uma mulher/companheira que te aguenta por 48 anos, não deve ser deixada de lado e ignorada da maneira como ocorreu.

Em tempos de reedição de livros clássicos da literatura russa por aqui (Guerra e Paz acaba de ser relançado em papel bíblia com mais de 2500 páginas), conferir um pouco deste escritor genial, que tinha até uma Igreja Tolstoyana com inúmeros seguidores, é uma ótima pedida, embora muito pouco para o tamanho deste incrível homem.





BRAVURA INDÔMITA

USA, 2010
Direção: Ethan Coen e Joel Coen

Refilmagem do clássico de 1969 onde John Wayne era o protagonista no papel que foi herdado por Jeff Bridges, a nova versão de "Bravura Indômita" foi super badalada na época. Recebeu inúmeros prêmios e revelou a boa atriz Hailee Steinfeld, embora sua personagem seja um tanto chata e difícil de engolir que com apenas 14 anos ela realmente era tudo aquilo. Chegaram a dizer que era a volta do clássico filme de faroeste e os irmãos Coen confessaram que fizeram questão de intervir o mínimo possível no roteiro original. Bom, como o tamanho da expectativa é proporcional ao da decepção, realmente não vi tudo isso que foi comentado. Esperava mais.

Uma jovem de 14 anos está obcecada para vingar a morte de seu pai e para tal, irá recrutar o delegado Rooster Cogburn (Bridges) e contará com a ajuda de LaBoeuf (Matt Damon), que também está na caça do criminoso Tom Chaney (Josh Brolin) por outras razões.

Bridges é perfeito para o papel do delegado bêbado e canastrão, mas cá entre nós, este papel que ele faz tão bem de bebaço preguiçoso com a voz enrolada já cansou. Relembrando um pouco de seus personagens, têmos vários similares, como em "O Grande Lebowski" e o mais recente "Coração Louco".

Quem realmente rouba a cena nesta refilmagem é Matt Damon, que já provou sua versatilidade para encarnar personagens distintos. LaBoeuf é ótimo.

Aos poucos, a garotinha consquista o respeito dos dois marmanjos, nascendo assim uma admiração recíproca entre os personagens.

O melhor para mim é a bela conclusão. Um tour de force que emociona, mas ainda assim, pouco para tanta badalação na minha humilde opinião. Mesmo não tendo achado tudo isso, um trabalho dos irmãos Coen costuma estar sempre acima da média.





DOIS IRMÃOS

Argentina, 2010
Direção: Daniel Burman

Daniel Burman é um diretor consagrado. Sempre focando seus filmes nas questões familiares, Burman consegue trazer para o telão as minúncias do cotidiano familiar com muita propriedade.

Embora tenha achado "Dois irmãos" mais fraquinho, guardo ótimas lembranças de filmes como "O Abraço Partido" e "As Leis de Família", que sempre farão com que me sinta atraído por um novo trabalho de Burman.

Bom, em "Dois Irmãos" o próprio título já entrega o mote. Dois irmãos, um homem e uma mulher, mais ou menos da mesma idade, que se amam e odeiam. Com a morte da mãe, Marcos fica meio perdido, pois seus dias resumiam-se a cuidar da senhora enferma. Sua irmã sugere então que o apartamento onde viviam seja vendido e que mude-se para o Uruguai, pois vivem praticamente na fronteira onde possuem residências de ambos os lados.

O filme foca na relação tumultuada dos irmãos, ambos solteirões e na terceira idade. O delicado e simpático Marcos e a problemática e invejosa Susana. Com o tempo, Marcos redescobre o prazer de viver, frequenta aulas de teatro e apaixona-se pelo professor. Susana leva mais tempo para descobrir os valores que importam nessa vida, mas nada que o tempo não resolva. Sua amargura transforma-se em doce. Filme fofo.





terça-feira, 13 de dezembro de 2011

ISTO NÃO É UM FILME

Irã, 2010
Direção: Jafar Panahi e Mojtaba Mirtahmasb

O cineasta iraniano que dirigiu filmes excelentes como "O Círculo" e "Fora de Jogo", não se conteve com a condenação do governo iraniano que lhe submeteu uma pena desumana. Alguns meses atrás ele foi preso por "exercer atividades contra a segurança nacional e propaganda contra o regime". Após grande repercussão internacional, Panahi foi liberado para cumprir sua sentença em prisão domiciliar, sentença esta que além dos 6 anos de privação, inclui 20 anos sem poder escrever roteiros, dirigir filmes e conceder entrevistas.

O documentário mostra um dia na vida de Panahi, que entediado, começa a filmar a esmo ideias que lhe vêem a cabeça no espaço restrito de seu apartamento. Como declaradamente não entende nada de técnica, ele chama o documentarista Mojtaba para lhe auxiliar na empreitada. Ele tenta por exemplo contar a história do filme em que estava trabalhando e que teve que ser engavetado por motivos óbvios. Com fita crepe, faz marcações no chão da sala tentando simular as locações, como o quarto da jovem protagonista. Ele se esforça, mas sua frustração é nítida e não consegue finalizar. Naquele momento é possível sentir toda sua angústia por estar de mãos atadas e não poder exercer sua paixão.

Panahi sabe que aquilo pode ser tedioso para a audiência e muda de assunto. Resolve analisar filmes passados que realizou e dá uma aula de direção ao revelar técnicas utilizadas com seus atores.

Mesmo sendo algo despretensioso e sem roteiro algum, os Deuses do cinema agraciam Panahi com a chegada do zelador que vai buscar seu lixo, o que proporciona uma sequência final que com certeza não seria tão boa se tivesse sido planejada. Triste, engraçada e emocionante.

Apenas pelo mote o filme já se basta. Um governo tirânico onde a maior preocupação é o desenvolvimento da bomba atômica não deve ser respeitado. Um país com leis da época da pedra, que humilha suas mulheres e priva seus artistas de se expressarem deve ser rejeitado mundialmente. Espero que você saia logo dessa Panahi e possamos enfim, desfrutar novamente de sua bela arte. Força!

Obs: O filme saiu do país por um pendrive. E mais uma vez os Deuses da Sétima Arte exerceram seu poder quando os censores não conferiram seu conteúdo. Obrigado.





O GAROTO DA BICICLETA

França, 2011
Direção: Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne

A personalidade humana é formada na infância, ou seja, faça o bem para o seu filho que a chance dele ser uma boa pessoa no futuro aumenta consideravelmente. Para quem não teve esta sorte, resta encontrar alguém que o faça no lugar dos pais, um professor, um tio ou simplesmente uma amiga.

Cyril é abandonado pelo pai em um lar para crianças. O garoto não acredita que o pai o tenha abandonado. Crê que ele irá voltar e tenta ir atrás de seu paradeiro a qualquer custo para descobrir quando estarão juntos novamente.

O garoto é doce, mas torna-se amargo e raivoso em decorrência de sua situação. Como por acidente, surge um anjo na sua vida e este anjo irá fazer de tudo para recuperar a esperança deste garoto. Samantha (o anjo) então localiza o pai e leva Cyril ao seu encontro.

Em plena formação, Cyril não se perde por pouco e mostra como é importante ter alguém presente no cotidiano da criança. No caso do filme, ele foi abandonado, mas existem muitos pais que literalmente desconhecem seus filhos. Só estão lá para colocar comida na mesa e cobrar. Não conversam, não se interessam e simplesmente não fazem ideia do que eles pensam. O que realmente importa é o amor, pois será disso que ele irá recordar quando for adulto. Façam sua parte como pais, pois do contrário no futuro, o abandonado pode ser você. E por justa causa.

Destaque para a marcante e excelente atuação do garoto Thomas Doret e a direção sempre precisa dos irmãos Dardenne. O roteiro é meio previsível, mas e daí? Ele é filmado belamente.





A PELE QUE HABITO


Espanha, 2011
Direção: Pedro Almodóvar

"A Pele que Habito" não é um Almodóvar qualquer, prepare-se para um filme diferente. As cores quentes e gritantes não estão presentes, mas nem por isso deixa de ser extremamente sexy. A polêmica, bem, essa não poderia faltar em tratando-se de Almodóvar e aqui ele aborda assuntos considerados "tabu", como a troca de sexo e a ética medicinal, ou a falta de.

Dezenove anos depois do sensacional "Ata-me", Antonio Banderas está de volta ao universo de Almodóvar. Aqui ele interpreta Robert, um cirurgião plástico que após perder a mulher queimada em um acidente de carro, fica obcecado pela criação da pele perfeita. Robert possue uma clínica dentro de sua bela residência, o que permite discrição para seus pacientes e liberdade para seus experimentos realizados sem escrúpulo algum.

Os tons frios utilizados são adequados para a profissão do protagonista, como na sala de cirurgia por exemplo, mas Almodóvar usa e abusa da bela cobaia e do sexy appeal de Banderas. Isso basta.

A primeira parte do filme é um tanto monorrenta, mas depois que as peças começam a encaixar, UAU! O filme vira um belo trhiller, onde é impossível não lembrar do trabalho do mestre Hitchcock. Almodóvar constrói seu Frankstein pelas mãos de Robert e nos proporciona uma viagem surreal e bizarra, bem à sua maneira. Androginia, mudança de sexo, tortura e falta de ética são apenas alguns elementos deste mais recente filmaço de Almodóvar. Banderas impecável na sua atuação e Marisa Paredes mais uma vez interpretando uma grande mãe.

Baseado na obra Mygale de Thierry Jonquet, "A Pele que Habito" é um suspense cruel, frio e instigante. Terrivelmente cruel. Um dos melhores de Almodóvar com certeza.

Obs: Destaque para a excelente trilha, com direito a bela voz rouca de Buika.





quarta-feira, 30 de novembro de 2011

LIXO EXTRAORDINÁRIO


Brasil/Inglaterra, 2010
Direção: Lucy Walker, Karen Harley e João Jardim

"Lixo Extraordinário" foi a mais recente inclusão do Brasil no Oscar, onde concorreu a melhor documentário, perdendo para o filme do post anterior, "Trabalho Interno".

Apesar do filme ser totalmente retratado no Brasil, sobre um fato nacional, a direção foi dada à uma inglesa. Apesar da co-direção de João Jardim, houve um imbróglio desagradável pois inicialmente seu crédito não foi dado. Apesar de tudo, o povo torceu como se o filme fosse 100% nacional, o que infelizmente não era o caso, mas valeu pela comunidade do Jardim Gramacho, que foi belamente retratado na película e que no dia do Oscar, criou um clima de final de copa do mundo para acompanhar a premiação.

Sempre gostei do trabalho do artista plástico Vik Muniz, inclusive, fui a uma exposição no Paço das Artes, na Usp, que falava sobre seu processo de criação das obras que ilustram e deram origem ao documentário, bem antes de saber que havia um roteiro sendo preparado.

Famoso por seus retratos utilizando matérias primas diferentes como chocolate e diamantes, Vik encontrou no lixo do aterro do Jardim Gramacho, o material perfeito para sua mais recente empreitada. No mesmo local ele abordou pessoas que tiram seu sustento de lá e começou a identificar seus personagens. Contratou alguns para trabalharem no seu estúdio no Rio por um período determinado de duas semanas.

O resultado das obras é fantástico, mas o melhor de tudo foi o processo. Utilizando mão de obra local, mesmo que por tempo determinado, fez muito bem para todas as partes envolvidas. Para os recicladores, a esperança de que dias melhores virão e para a equipe de Vik, a certeza de ter feito algo realmente válido, que enche a alma de satisfação. Toda a renda das obras foram leiloadas em Londres e revertida para a comunidade de Gramacho.

Impossível no entanto não compará-lo ao belo "Estamira", na minha opinião, um filme maior em todos os aspectos. Em "Lixo Extraordinário" também têmos personagens cativantes, com histórias sensacionais. Têmos vária(o)s Estamiras, que emocionam com suas palavras. Mas isso não é difícil de encontrar e nem precisa ir longe. Você já conversou com o porteiro do seu prédio? Esse cara tem história ...

O grande conflito da trama é saber como estes personagens irão reagir quando o conto de fadas acabar e retomarem suas rotinas. Uma coisa é fato: foram duas semanas que mudaram a vida de todos os envolvidos para sempre. Exercite o desapego ao material.





terça-feira, 29 de novembro de 2011

TRABALHO INTERNO

EUA, 2010
Direção: Charles Fergunson

Vencedor do Oscar de melhor documentário de 2011, "Trabalho Interno", que segundo o economista Luiz Gonzaga Beluzzo, trata-se de uma expressão idiomática e portanto não cabe uma tradução literal, como foi feita no título em português (que novidade), trata da enorme crise econômica que explodiu em 2008 e que reflete até hoje no mundo globalizado.

Narrado por Matt Damon, Fergunson nos apresenta uma pesquisa hiper detalhada de todos os motivos que acarretaram na crise. Pesquisa essa que tornava algumas entrevistas hilárias, pelo fato dele ter argumentos para questionar qualquer resposta dúbia ou irrelevante dos envolvidos.

"Inside Job", escancara os podres de Wall Street e expõe uma mantelada de mentiras e condutas criminosas que prejudicaram a vida de milhões de pessoas mundialmente por conta da cobiça dos mentores do esquema.

Um rombo de 20 TRILHÕES de dólares que ocasionou no tsunami econômico de 2008, uma crise que não se via desde 1929.

O filme mostra a relação de acadêmicos respeitados de intuições educacionais de prestígio com o governo e a relação dos executivos de Wall Street com drogas e prostituição, o pedaço moralista da obra de Fergunson indispensável a toda obra americana.

O filme ainda revela que muitos dos agenciadores e conselheiros de Bush Jr, continuam a dar as cartas no governo Obama, mesmo após o ocorrido. Com isso a crise em países como Grécia, Espanha, Irlanda e Portugal, continua a demonstrar que o tsunami ainda ronda o planeta, restando a estas nações aceitarem a ajuda do FMI e enfatiza algo que infelizmente vêm se comprovando já faz algum tempo: Obama é um banana.

Mais que um documentário, uma aula de economia que revela para nós simples mortais, muito mais do que nossa vã filosofia permite.





segunda-feira, 28 de novembro de 2011

A QUESTÃO HUMANA

França, 2007
Direção: Nicolas Klotz

Um dos melhores atores franceses da atualidade, Mathieu Amalric, interpreta neste filme de Klotz, o psicólogo de uma grande empresa pertroquímica alemã.

Seu trabalho é evitar que o stress de demissões em massa por exemplo prejudique a produção da empresa. Outra função é supervisionar funcionários que se desviem da conduta da empresa e das expectativas da chefia.

Certo dia ele é designado por um diretor para monitorar os passos do vice-presidente, que anda apresentando dificuldades para tomar decisões importantes. A aproximação de Simon então deve ser meticulosa e delicada, mas logo o investigado dá conta de suas intenções e seus motivos.

A partir daí misteriosas cartas começam a surgir e o investigado dá declarações inesperadas da relação do alto escalão da empresa com o nazismo. E é aí que começa a crise de Simon. Ao justificar que apenas segue ordens, ele não estaria agindo como os antigos militares que permitiram o massacre dos judeus?

Uma comparação para se pensar, entre os métodos empregados de seleção racial e social dos nazistas e os competitivos processos internos das grandes corporações atuais.