quarta-feira, 26 de abril de 2006

Festival Sesc dos Melhores Filmes de 2005

Todo ano o Sesc realiza o Festival Sesc do melhores filmes do ano anterior. São duas semanas, geralmente no mês de Abril onde é possível ver aqueles filmes tão comentados do ano que passou e você não teve a oportunidade de conferir.

Você pode dizer: Não tem drama, eu vejo em dvd depois. Ok, realmente alguns títulos você poderá conferir em dvd, mas outros não. A programação é baseada nos chamados filmes de arte e normalmente, poucos são blockbusters que você poderá apreciar no conforto de seu lar.

Não bastasse o chorinho, os ingressos saem por apenas R$ 4,00 ( INTEIRA!!!) e a sala dispensa comentários. O Cinesesc é o xodó de vários cinéfilos de São Paulo e não poderia ser diferente comigo.

O Sesc merece uma menção honrosa por tudo o que faz pela cultura no Brasil. Uma das poucas, senão a única instituição que funciona em nosso país. Peças de qualidade, shows com artistas consagrados e filmes, muitos filmes, tudo isso por um valor se não considerado ideal para nossos padrões, ao menos viável para a maioria, ou você acha R$ 2,00 muito para assistir um bom filme?

É isso ai, parabéns ao Sesc, sou um dos milhares de fãs.

Este ano fui conferir dois filmes da retrospectiva: Manderlay e Irmãos. O primeiro, uma das sessões mais concorridas da última mostra internacional de São Paulo e o segundo, um tiro no escuro, ao menos para mim que desconhecia sobre o filme. Vamos aos comentários.

Manderlay



Dinamarca/Suécia/Holanda/França/Alemanha/EUA, 2005
Direção: Lars Von Trier

Segundo filme da trilogia que aborda a sociedade norte-americana pela visão do diretor Lars Von Trier.

Lars é um dos fundadores do movimento dinarmaquês Dogma, onde não existe bela fotografia, super produções e etc... O filme fica centrado na direção e interpretação, algo mais próximo do cinema idealizado por Glauber. Além de Lars, Thomas Vinterberg de " Querida Wendy", também surgiu do mesmo movimento.
Você não precisa ter assistido Dogville para ver Manderlay, são histórias separadas com alguns personagens em comum. Ambas dissecando a sociedade americana. Manderlay coloca o racismo em questão. Antes de falar do filme, quero comentar um detalhe: Assim como Dogville, Manderlay é filmado em um único set, como no teatro por exemplo. Não existe cenário e sim marcações no chão. A pessoa bate na porta, mas a porta não esta ali, somente os efeitos sonoros.

Confesso que ao ver este formato em Dogville, demorei uns 20 minuntos para entrar no filme, até minha mente assimilar e aceitar algo novo. Algo bem teatral, mas com um roteiro poderoso e atores idem, o resultado surpreende. É isso que acontece nos dois filmes.
Manderlay é uma cidade fictícia no Alabama. A história se passa em 1933. Grace, a personagem central da trilogia, chega à uma fazenda de algodão onde a escravidão não foi abolida. Resolve ficar para ser a heroína dos escravos e libertá-los, ou ao menos tentar. A trama do filme baseia-se nisso.

A crítica contra os EUA é ácida e certeira em ambos os filmes, mesmo com Lars nunca tendo pisado na América, ele consegue passar muito bem o íntimo do povo americano, sempre para o lado negativo é claro.

Sendo um tema muito forte e polêmico, vide Crash que ganhou o Oscar, o filme não poderia ser diferente. Manderlay é poderoso. Crú na maioria do tempo, direção impecável, sarcástico, atores ótimos, com um humor negro inteligente e sútil.

Assim como em Dogville, Manderlay guarda uma surpresinha para os últimos instantes que muda o rumo da história. Quando você viu .... já foi. Muito bom!







Irmãos



França, 2003
Direção: Patrice Chéreau
Este era um dos poucos filmes que eu desconhecia da retrospectiva. Fui atrás de informações e a sinopse não me agradou, mas movido por forças alheias, lá fui eu conferir a película francesa.

O filme é meio deprê. Conta a história de dois irmãos que nunca se bicaram muito. O mais velho descobre que tem uma doença terminal e vai pedir ajuda ao irmão mais novo, que por sua vez é homossexual e claro, o irmão mais velho não sabe.

Pois é, todos os elementos para um grande drama estão presentes, mas a interpretação blasé dos atores não deixa que isso aconteça. Não, não foi um elogio não. Com certeza foi a intenção do diretor, mas não me agradou. Claro, o tema proporciona cenas de tensão e alguns bons diálogos, mas não passa muito disso.

O filme é parado, ok, mas o conjunto da obra não colabora para você não se ater à este detalhe. Além disso, Patrice é daqueles diretores que gostam de mostrar tudo nos míííííííííínimos detalhes, como a cena da depilação do irmão mais velho para ser operado, quase em tempo real.

Tudo proposital e devidamente calculado, é claro. E a música, a única aliás, que toca ao final do filme é tãoooooo depressiva. Patrice não deve ter dormido até achar a música. Tudo muito calculado para ser algo cool e desprentesioso. Na minha visão, falhou. O filme tem lá suas virtudes, uma ou duas.