domingo, 29 de dezembro de 2013

GRAVIDADE


As maiores paixões de minha vida sempre foram cinema e música. Sinto que devo ao menos uma breve explicação aos poucos, mas fiéis leitores do Cinemadicto sobre minha ausência durante os últimos seis meses. Acontece que surgiu em minha vida a maior de todas as paixões, e por ela, praticamente me abstraí de todo o resto. Ela tem 14 meses de vida e se chama Manuela. O melhor e maior acontecimento de minha vida. Desde então nunca mais fui ao cinema e ontem (26/12/13) foi o reencontro com a querida e saudosa sala escura. De férias, vovô, vovó e titia se ofereceram para ficar com a baixinha para papai e mamãe poderem curtir e namorar um pouco. Então é isso, vamos ao último post de 2013. Desejo um 2014 cinematográfico para todos nós!

EUA/REINO UNIDO, 2013
Direção: Alfonso Cuarón

Desde o momento em que assisti ao trailer pensei comigo mesmo: Tenho que ver este filme. E tem que ser na telona, de preferência em Imax. Para minha sorte ele ainda estava em cartaz no Imax. 

Somente o fato de ser uma ficção e proporcionar imagens arrebatadoras do espaço já eram atrativos suficientes para mim, uma vez que sou fascinado pelo universo das estrelas. Mas havia algo mais: A direção do mexicano Alfonso Cuarón, cujo trabalho sempre me agradou bastante. Claro que ele não poderia fugir muito do esquemão blockbuster hollywoodiano, mas deixar sua pitada chicana, com certeza, poderia e o fez. Espero que José Padilha tenha conseguido o mesmo na refilmagem de Robocop, se bem que o filme original é bem ruinzinho.

Sandra Bullock e Clooney são dois astronautas que têm a missão de consertar o telescópio Hubble. Ele é experiente e bonachão, ou seja, o mesmo Clooney de quase todos os papéis, mas sempre cativante. Ela é uma doutora super reconhecida, mas com nenhuma experiência no espaço. Durante o conserto são surpreendidos por uma chuva de destroços de um satélite destruído por um míssil russo e são jogados literalmente no infinito do espaço sideral. Ficam à deriva, sem contato algum com a base na Terra, buscando meios de sobreviver naquele ambiente totalmente inóspito para a raça humana.

O filme é angustiante do início ao fim. Extremamente bem filmado, retrata como nenhuma outra ficção a falta de gravidade no espaço. Enquanto destroços passam raspando por suas cabeças, Clooney tenta acalmar a doutora com suas piadas. Para fãs de ficção, o filme é de tirar o fôlego. Bullock vai muito bem no papel principal e faz com que soframos com sua personagem. 

O roteiro proporciona ótimos diálogos no infinito solitário do espaço e destaco como ápice, o momento em que a personagem de Sandra encontra-se sozinha na Soyuz chinesa buscando forças para escapar da  enrascada. Diante de tamanha solidão, mais uma vez caímos no clichê de que realmente, as coisas mais simples são o que realmente importa nesta vida. Não sei se quer dizer algo, mas segundo James "A



vatar" Cameron, trata-se do melhor filme de espaço já realizado.

Mergulhe no Imax de cabeça e deixe-se levar. Tente abstrair algumas forçadas de barra e ao final da sessão, você será uma pessoa mais feliz.

Ground control do Major Tom...




domingo, 2 de junho de 2013

AMOR


Direção: Michael Haneke
Áustria, 2012

Muito comentou-se sobre o último filme de Haneke. Foi dito que tratava-se de um filme diferente do diretor, conhecido pela violência como cerne de sua cinematografia. A violência de Haneke não é tão explícita como a de Tarantino, não se vê sangue jorrando na tela. Sua violência é basicamente social, sobre a maldade do ser humano.
 
Vencedor da Palma de Ouro em Cannes de 2012 e do Oscar de melhor filme estrangeiro de 2013, "Amor", apesar do nome está longe de ser um romance. Foi dito que a violência de Haneke não está presente em "Amor".  Discordo e explicarei porque.
 
O filme conta a história presente do casal de músicos aposentados Georges e Anne.
 
Os dois devem ter por volta dos 80 anos e possuem uma filha ausente interpretada por Isabelle Huppert. Um dia Anne sofre um ataque. O Alzheimer instala-se na residência. E é aí que começa a violência de Haneke em "Amor". A violência da velhice.
 
 
A saúde de Anne piora gradativamente e consequentemente, o amor de Georges é colocado em cheque.
 
A chegada da velhice é muito violenta e por inúmeras vezes cruel e triste. Haneke explora isso ao máximo no filme.
 
Georges então já não faz mais nada a não ser dedicar-se à tentar recuperar a sanidade da esposa, mas nada surte efeito.
 
Trata-se de um filme de ator. O casal protagonista interpretado por Emmanuelle Riva e Jean-Louis Trintgnant está soberbo, escoltados pela mão segura de Haneke. Fazer com que a estrela Isabelle Huppert saia apagada de um filme é coisa rara. Pois é isso o que acontece aqui.
 
O filme é seco e cortante durante quase todo seu decorrer, mas sua lúdica conclusão somente a magia da sétima arte pode proporcionar.
 
O filme acaba na tela, mas permanece na cabeça por dias. O amor de Georges por Anne e vice-versa é maravilhoso e belo, mas a violência de Haneke, com certeza está embutida nesse amor. Magistralmente cruel. Incrivelmente belo.



sábado, 9 de fevereiro de 2013

ARGO

EUA, 2012
Direção: Ben Affleck

O grande trunfo de Argo na minha opinião é sua incrível história. Em 1980 o Irã clama por justiça e quer de qualquer jeito que os EUA extradite o líder político Ruhollah Khomeini. A politicagem entre os dois países na época no entanto torna tal fato inconcebível e os iranianos resolvem invadir o consulado americano na tentativa de forçar a extradição através da violência, fazendo 60 reféns americanos.

No entanto seis americanos conseguem escapar no momento da invasão e refugiam-se no consulado canadense. De início os rebeldes iranianos desconheciam a fuga destes elementos. 

Apesar de no momento da invasão da embaixada os funcionários terem tentado destruir todos os documentos, um verdadeiro batalhão iraniano trabalhava para tentar desvendá-los e era apenas questão de tempo até que a fuga fosse descoberta. Uma vez que isso acontecesse, os fugitivos estariam fadados a morte em praça pública. 

E é ai que entra a CIA na tentativa de bolar um plano para resgatar os fujões. Os primeiros planos são estapafúrdios, mas ao assistir Planeta dos Macacos, Tony Mendez têm a ideia que iria salvar seus compatriotas: Realizar um filme falso utilizando o Irã como locação. 

Na época as ficções científicas eram uma verdadeira febre. Mendez então procura um amigo (John Goodman) especialista em efeitos especiais que ganhara vários prêmios. Ele topa a empreitada, mas para o negócio ser convicente, precisariam de um astro. Eis que entra Lester Siegel, interpretado pelo sempre ótimo Alan Arkin

Siegel sugere que um filme não existe sem mídia. Promovem então uma coletiva com direito a leitura do roteiro. Ele têm um poster, um astro e divulgação na mídia. O filme existe.

Com tudo preparado, Mendez parte para o Irã com roteiro, storyboard e pôster nas mãos para tentar o resgate.

O filme é tenso, daqueles que tiram o fôlego, mas a conclusão é decepcionante. A história por si só já é sensacional. Acredito que não havia necessidade de torná-la tão hollywoodiana, pois fica difícil engolir. Sabe aquelas aventuras da Sessão da Tarde onde tudo dá certo no último segundo? Pois é. Assim é a parte final de Argo. Fica tudo tão falso que faltando meia hora pra acabar já é possível prever a cena final.
Os atores são ótimos. John Goodman e Alan Arkin apesar de aparecerem muito pouco, roubam a cena, mas quem se destaca mesmo na atuação é Bryan Cranston, que interpreta o homem da CIA que designou Mendez para a operação. Ben Affleck, bem .... é Ben Affleck, ou seja, atuação insossa.

O filme seria muito melhor se não tivessem fantasiado tanto na fuga, mas é forte candidato ao Oscar após ter arrebatado os principais prêmios cinematográficos até agora. É esperar pra ver.

domingo, 27 de janeiro de 2013

LINCOLN


EUA, 2012
Direção: Steven Spielberg

Lincoln mostra como o mítico ex-presidente americano conseguiu entrar para a história e tornar-se uma lenda ao abolir a escravidão na America.
Não se trata de uma biografia, pois o filme foca neste episódio marcante da história americana e o que Lincoln teve que fazer para conseguir que essa emenda fosse aprovada. O filme também mostra um pouco da intimidade do ex-presidente com sua família, principalmente sua esposa, interpretada magistralmente por Sally Field.
 
Aliás, o elenco é uma verdadeira constelação. Além do sempre excelente Daniel Day-Lewis , o filme ainda conta com as presenças magnéticas de David Strathairn, James Spader como você nunca viu e Tommy Lee Jones, que rouba a cena.

Trata-se de um filme muito particular, pois conta uma história muito específica dos EUA. Um épico muito bem realizado e produzido, mas que não encanta. São muitos detalhes e se você perde um diálogo, corre o risco de não conseguir acompanhar o restante.

Eu diria que têmos um filme com interpretações monstruosas, mas com um roteiro frio, muito quadrado e cheio de informações. 

Apesar de tudo, gostei da maneira como o filme mostra Lincoln, um ser humano perspicaz, inteligente e a frente de seu tempo, mas com suas fraquezas e defeitos. Em nenhum momento o filme cai na pieguice de endeusar ainda mais o mito americano.

Como estamos aqui para falar de cinema e não de história, eu digo o seguinte: Lincoln é filme para emocionar americano e professor de história. Trata-se de um filme de ator. Atuações soberbas, mas todo misticismo em torno do protagonista e centro da história, não foi suficiente para fazer de Lincoln um grande filme. É um bom filme. Daniel Day-lewis é barbada para o Oscar, mas achei Spielberg um tanto preguiçoso no desenvolvimento da película. Poderia ter feito muito mais.






sábado, 26 de janeiro de 2013

2 COELHOS


Brasil, 2012
Direção: Afonso Poyart

Na época de seu lançamento o filme foi muito comentado principalmente pelos efeitos visuais hollywoodianos e sua linguagem frenética, bem ao estilo de Guy Ritchie. O cinema de gênero no Brasil ainda engatinha e sinceramente, não sei se algum dia chegaremos a realizar películas que buscam apenas vender, não por falta de vontade, mas pela falta de "pegada". Felizmente 2 Coelhos não busca vender nada e até surpreende.

Como o próprio protagonista revela, ele era o nerd da turma, mas usou sua inteligência para ganhar a vida fazendo mil tramóias. Enveredou-se pelo lado das trevas, embora seja um cara do bem. Contraditório? Sim. Algo bem semelhante aos "hackers".

O roteiro apesar de bem amarrado é um tanto mirabolante e fantástico, mas têm o trunfo de conseguir prender a atenção até o último minuto, que é onde o espectador realmente descobre o propósito de seu esquema um tanto surreal. O plano arquitetado por Edgar é quase perfeito, mas difícil de engolir.

O filme conta com ótimos atores (Alessandra negrini, Caco Ciocler, Marat Descartes entre outros). A edição e toda arquitetura de efeitos visuais e áudio são realmente de primeiro mundo, mas tanta qualidade tecnológica não é suficiente. Talvez se o roteiro fosse menos "surreal" eu conseguisse dar mais crédito, mas não é o caso. Me parece um pastiche do cinema de gênero estrangeiro. Matrix encontra o romantismo do anime com uma pitada de Cidade de Deus.

Apesar disso, não restam dúvidas de que o diretor tem um promissor futuro pela frente, principalmente no mercado internacional, pois é o tipo de filme que Hollywood adora.

Boa sorte Afonso, mas o cinema de gênero não me atrai. Tanta vontade de ser inteligente e confundir o espectador em um gênero que despreza o pensar, fez com que o tiro, na minha humilde opinião, saísse pela culatra, mas com certeza irá conquistar cabeças mais juvenis que acham Guy Ritchie o máximo.






domingo, 13 de janeiro de 2013

ABRAHAM LINCOLN: CAÇADOR DE VAMPIROS

EUA, 2012
Direção: Timur Bekmambetov

Fazia tempo que não via uma bobageira dessas. Admito meu lado masoquista quando se trata de cinema. O roteiro é batido e previsível, as atuações duvidosas e os efeitos maravilhosos. Com 20 minutos de filme ou antes, já da pra saber como ele irá acabar e ainda assim, lá vou eu até o último minuto. É legal não precisar pensar as vezes e este tipo de filme cumpre muito bem o papel cineoco.

Pensei, ledo engano, que a viagem do diretor ao juntar o mítico presidente americano com vampiros (de novo eles), poderia talvez sair algo no mínimo diferente e vai saber, interessante. Talvez ele pudesse explorar essa exótica empreitada. Que nada. 

Na terra de Lincoln o mundo se divide entre vivos e mortos. Os mortos são poderosos e querem dominar o planeta e somente um homem poderá impedir que o mal impere. Quem? Quem? Ora bolas, Abraham Lincoln é claro! Coitado, o homem deve estar se revirando no túmulo até agora. 

Quando criança, Lincoln presencia sua mãe ser assassinada, mas não sabia até o dia da vingança de que se tratava de um morto-vivo.

Um vampiro do bem, que teve sua mulher morta pelos mesmos, resolve ajudá-lo e ensiná-lo a lutar contra estes seres das trevas. Lincoln vira então um grande caçador e com o tempo vai descobrindo o dom da política. De uma hora pra outra ele já é o presidente e usa a guerra para saciar sua sede de vingança.

Mas a guerra é contra os próprios vampiros. Eles são a grande ameaça para a liberdade dos homens americanos, aliás, eles são os grandes responsáveis pela escravidão ainda existir. E dá-lhe linguiça. 

Essa mirabolante fantasia só é possível graças ao cinema e gera curiosidade. E mesmo imaginando que boa coisa não sairia, lá fui eu conferir com os próprios olhos, para depois de 1h40 minutos poder tirar minhas próprias conclusões, que eu já sabia quais seriam antes mesmo de vê-lo, mas tudo bem.

Filme oco para um público oco. Espero que Spielberg faça jus ao nome do mito Lincoln com seu novo filme. O mega indicado ao Oscar que leva o nome do presidente americano. Também, com Daniel Day Lewis como protagonista as coisas ficam bem mais fáceis né.

Agora esse caçador de vampiros... Aff! Nem Tim Burton como produtor executivo salva.








quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

FEBRE DO RATO



Brasil, 2011
Direção: Claudio Assis

Uma porrada seguida de um abraço, talvez essa seja a melhor maneira para explicar o mais recente trabalho de Claudio Assis. Amarelo Manga e Baixio das Bestas fogem ao esquema, pois somente a porrada encontra-se presente, mas Febre do Rato nos apresenta um diretor mais "amaciado", contudo, sem nunca deixar a contravenção, a polêmica e o crú visceral. Essas características estão no sangue de Assis, pelo menos até que o próxime filme prove o contrário.

Febre do Rato é o nome do jornaleco bancado pelo poeta Zizo, interpretado magistralmente por Irandhir Santos. O nome do jornal é uma expressão popular utilizada em Recife e que quer dizer alguém fora de controle. 

Anárquico, Zizo é um tipo de profeta/messias de uma turma que lembra muito uma comunidade hippie. Todo mundo come todo mundo, todo mundo divide a comida, as drogas e outros prazeres.

Através de sua poesia ele tenta espalhar suas ideias e ideais anárquicos  por "Hellcife". Marginal, presenteia seus colegas com versos e vive intensamente. Revoltado e doce ao mesmo tempo. 

O filme não incomoda como seus trabalhos anteriores. A sinceridade revolta de Zizo encontra conforto na ternura de suas palavras e na beleza da fotografia em preto e branco do mestre Walter Carvalho. Eneida (Nanda Costa) chega para tumultuar a cabeça do poeta, provocando uma verdadeira "guerra" em seus sentimentos. Difícil não lembrar de Waly Salomão. Zizo lembra muito o poeta carioca. 

O filme ainda conta com a presença do sempre ótimo Matheus Nachtergaele, que faz o papel de um coveiro que vive uma relação amorosa impetuosa com um travesti. No elenco ainda têmos o excelente Juliano Cazarré e presenças um tanto inesperadas como o pianistaVitor Araújo e a veterana atriz Maria Gladys.

O submundo recifense torna-se muito envolvente no roteiro de Hilton Lacerda, que teve colaboração de Xico Sá. A trilha de Jorge Du Peixe sela essa belezura de filme de tal maneira, que os acertos se sobrepõem a qualquer erro que algum crítico mesquinho tente encontrar na obra. 

Endiabrado. Louco. Zizo é tudo isso e muito mais. Ele vai além, está além. É um personagem crú, visceral e marginal. Um poeta do povo, que luta pelo povo de maneira contagiosa e empolgante. 

O filme vai totalmente na contramão da grande indústria cinematográfica (se é que existe uma no Brasil), mas a "revolta" instigante de Assis, aparece aqui um tanto mais parcimoniosa. A essência anárquica porém, está mais presente do que nunca.

Um filme para poucos, assim como todos dele. Sorte de quem aprecia. Pra fechar, um poema do endiabrado Zizo.

“Valetes a varejo”.
Assim, só sendo assim, posso falar
Das espadas que são nós.
Nós que se enrolam e se vertem
De forma tão infinita que nem a lâmina
(fina e precisa)
Consegue desfazer
A corda atada a nós.
Nem as espadas outras,
Mesmo que pareçam singelas,
Tem o poder de ferir e inferir.
Mesmo que seja fundo o corte
E mesmo que seja fácil,
O tempo todo nós:
Ali, Acima, abaixo.
Superfície e espelho de nós,
Que nada parece mudar e desfazer.
E quando o tempo deixar nós cegos
Vamos à beira do rio
(espelho ruminante da cidade)
Pensar em desatar.
…será tarde.
E no fluxo rio das idéias
Nós vão indo, afeitos, refeitos, rarefeitos…
E lá vão eles juntos. Afoitos se completam…
Eles nós. Cheios de nós.
Reinventam-se a cada dique: açudes.
E rompem Sobre nós, sob nós, sobre nós.







quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

O PALHAÇO


Brasil, 2011
Direção: Selton Mello

Nada melhor que inaugurar os posts de 2013 com um belo filme nacional. Selton Mello dispensa comentários. Trata-se de um dos melhores atores deste país e cada vez mais firma-se como um grande diretor. Sua passagem para trás das câmeras tem sido realizada com louvor, pelo menos nos últimos trabalhos, pois seu filme de estreia "Feliz Natal" de 2008, achei bem afetado. Mas como era a estreia, tem que relevar, afinal o homem tem crédito te sobra.

Seu atual trabalho na direção, a série "Sessão de Terapia", versão da trama israelense "Be Tipul", é simplesmente viciante, com diálogos arrebatadores e personagens riquíssimos. Mas vamos falar do indicado brasileiro ao Oscar, que infelizmente não se classificou entre os 5 finalistas.

Em seu segundo trabalho como diretor, Selton arrebata a crítica com este filme delicado, simples e belo. Ele conta a história de uma trupe circense que percorre os rincões deste Brasil. O circo Esperança é liderado pelos palhaços Puro Sangue (Paulo José) e Pangaré (Selton Mello), pai e filho respectivamente.

Cabe a Pangaré resolver os problemas e tocar o circo, uma vez que seu pai já esta bem velhinho. Pangaré é um palhaço em crise de identidade e olhar tristonho. A dificuldade para manter a trupe é diária, tendo que sujeitar-se a puxar o saco dos prefeitos das cidades por onde o circo passa. Se não bastasse, Pangaré não conhece outra vida além dessa do circo. Esta cansado, triste e vive no mundo da lua sonhando com ventiladores.

Certa noite após uma bebedeira ele põe o espetáculo em risco e Puro Sangue resolve ter uma conversa com o filho. Ele diz que nessa vida, precisamos fazer aquilo que sabemos fazer, aquilo que gostamos, dando a entender, que se Pangaré quiser tomar outro rumo e experimentar novas sensações, descobrir a vida fora do circo, que o faça, desde que seja feliz.

Pangaré vai então atrás de algo que não sabe o que é. O mundo lhe pertence. Sua atitude faz com que descubra o que realmente lhe importa nesta vida. A cena do reencontro é belíssima (prepare o lenço).

Com uma direção de arte impecável e belas atuações, "O Palhaço" credencia-se como um dos melhores filmes nacionais dos últimos tempos. Um roteiro simples, mas muito bem amarrado. Uma direção firme, de um diretor que sabe o que quer.

O filme ainda conta com participações mais que especiais, como Ferrugem e Zé Bonitinho, para citar apenas duas. Um show de atuação de Selton e do mito Paulo José, completam esta película imperdível e inesquecível. Vida longa ao diretor Selton Mello, que ainda participou do roteiro e da montagem. Cinema na veia!

O gato bebe leite, o rato come queijo e eu .... eu sou palhaço.