quinta-feira, 19 de junho de 2008

O ÚLTIMO BANDONEÓN


Argentina, 2003
Direção: Alejandro Saderman
Este filme foi paixão à primeira vista literalmente. Na Mostra de São Paulo do ano passado, eu tinha que fazer hora para ver à algum filme da noite e então resolvi conferir "O Último Bandoneón" simplesmente para fazer hora. Havia lido a sinopse e parecia ser interessante, enfim, um bom passatempo. A maior felicidade para um cinéfilo que frequenta a Mostra é descobrir um filme. Aquele que ninguém resenhou e não se faz idéia do que esperar. O documentário é apaixonante e guardada as devidas proporções, posso dizer que trata-se do "Buena Vista" argentino.
O documentário gira em torno da formação de uma Orquestra de Tango que será comandada pelo Maestro Rodolfo Mederos e uma jovem bandoneonista que é convocada para integrar a orquestra, porém, ela precisa de um novo instrumento. Na procura pelo instrumento ideal, ela conhece os grandes Maestros do Tango e os bailes da cidade.
Não trata da história do Tango, mas sim, do resgate desta arte pelos mais jovens, que é o caso da jovem protagonista e de sua perseverança para conseguir o instrumento apesar das adversidades como o fato de ser mãe solteira e a falta de dinheiro.
Tecnicamente está longe de ser um primor. A todo momento vemos o boom entrar em quadro e algumas câmeras, mas o roteiro é todo emoção. Costumo dizer que o roteiro é tudo e apoiei a greve dos mesmos em Hollywood. Concordo que o trabalho do roteirista deva ser muito mais valorizado, tamanha sua importância. Este documentário é o exemplo maior da importância do roteiro. O resto é consequência.
Para quem gosta de música, trata-se de um programa obrigatório. Você sai apaixonado pelos músicos e pela música. Maravilhado pelas reuniões semanais dos velhos bandoneonistas que se reunem pelo simples prazer de tocar este instrumento que como os próprios músicos dizem, possue vida própria, uma vez que ele "respira". Encantado com o interesse dos jovens músicos da orquestra e com o bailar da velha geração de dançarinos.
Emoção à flor da pele. Yo quiero mi bandoneón ahora!!!
ps: bandoneón é um instrumento da família do acordeón, só que muito mais charmoso.


LUZ SILENCIOSA


México/França/Holanda, 2007
Direção: Carlos Reygadas

Típico diretor de Festivais, Reygadas, que teve seus três filmes lançados em Cannes, mostra uma grande evolução como diretor neste seu terceiro trabalho que ganhou o prêmio do júri no mesmo. Seus dois primeiros filmes são, "Japon" e o desastroso "Batalha no Céu".

"Luz Silenciosa" conta a história de Johan, pai de família com inúmeros filhos que vive em uma comunidade Menonita no México. A comunidade Menonita é muita fechada e possue um dialeto próximo do alemão muito peculiar. Seus integrantes levam uma vida voltada à religião e seguem à risca costumes que datam de centenas de anos. No entanto, aceitam alguns confortos da vida moderna como carros e energia elétrica.

O filme começa com uma das introduções mais lindas da atualidade cinematográfica. A câmera posicionada no horizonte, vai registrando o amanhecer em tempo real e a tal luz silenciosa se faz presente. Silenciosa e misteriosa. Quais os segredos que esta luz revelará? Ao final do filme, Reygadas faz o contrário. A luz vai desaparecendo até chegar o anoitecer e as primeiras estrelas. Uma fotografia e principalmente, uma luz maravilhosa. A abertura e a conclusão do filme, servem de moldura para este belo trabalho de Reygadas.

Logo na cena inicial da família tomando o café da manhã, pode-se sentir o incomôdo de Johan à mesa, que quando encontra-se sozinho, debulha-se em lágrimas angustiantes. Logo depois, descobrimos que ele possue uma amante. Talvez pelo fato de a comunidade aceitar alguns aspectos da modernidade, ele tenha se aventurado em um caso extraconjugal, mas sua dor é terrível pela traição à esposa e as suas próprias convicções. Ta formado o triâgulo amoroso mais doloroso dos últimos tempos. Sua esposa sabe da amante e não suporta a pressão. A amante por sua vez, resolve acabar com a relação e eles fazem amor pela última vez, um amor frio, sem emoção, talvez próprio da comunidade. Ela termina com a frase: "A paz é mais confortável que o amor." Aliás, o filme está repleto de poucos, mas grande diálogos, como por exemplo quando Johan pede conselhos ao pai : "Fale comigo como um pai e não como um Pastor!".

O filme é lento, mas é proposital, uma vez que os costumes menonitas se baseiam no século passado, não poderia ser diferente. A angústia de Johan, que é representado por um verdadeiro integrante da comunidade, é contagiante e o clímax chega com um castigo inesperado. Caímos no velho ditado de só valorizar as coisas quando as perdemos. Mas quem disse que a morte é eterna?

O filme de Reygadas foi muito bem pensado e cada minuto tem sua representação. Não existem vazios, apesar do ritmo lento. Eu sempre costumo dizer que não deve-se avaliar e julgar de imediato um filme que causa desconforto e estranheza. Um filme que faz você continuar pensando por dias após assisti-lo, é merecedor de elogios e o transe causado por "Luz Silenciosa" nos faz refletir a todo momento.

Difícil? Sim. Lento? Sim. Mas possuidor de uma Luz deslumbrante.



terça-feira, 10 de junho de 2008

SEX AND THE CITY - O FILME



EUA, 2008
Direção: Michael Patrick King


Para quem já conhece a série não será novidade alguma, aliás, acredito que para ninguém será novidade, afinal, quem já não ouviu falar das 4 quarentonas de uma das séries mais bem sucedidas da televisão americana, um fenômeno globalizado? Não é preciso ter acompanhado a série para entrar no universo de Carrie e cia. O filme possue longos 150 minutos e resume bem para quem não está familiarizado. A fórmula que deu certo é seguida à risca, a narração em off da protagonista, o universo feminino e a eterna perseguição do final feliz. Será que é desta vez que Mr. Big pára de enrolar Carrie e à leva para o altar? Pois é, o desfecho desta história de amor é o apelo principal do filme para os que já acompanhavam a série. O sucesso de "O Diabo Veste Prada", foi a chancela final para os produtores de "Sex and the City" apostarem em um filme exclusivamente feminino.

Miranda, a racional da turma passa por problemas no casamento. Charlote, a mocinha ingênua e meiga nunca esteve tão feliz, esposa e mãe. Samantha vive em L.A e sofre muito tentanto à todo custo manter-se fiel, será que ela consegue? E Carrie, bem, essa mais uma vez está nas mãos de Mr. Big, um dos únicos personagens masculinos que tem um pouco de destaque. Um ótimo acréscimo ao elenco é a presença de Jennifer Hudson, que levou o Oscar de atriz coadjuvante por "Dreamgirls" como assistente de Carrie. Apesar do pequeno papel, sua personagem é de importância fundamental para o desfecho da trama.

As piadas continuam as mesmas. Homens, relações, o glamour do universo de Carrie e as taradices de Samantha. Enquanto Miranda e Carrie se encarregam de manter a dramaticidade da película, Charlote e Samantha equilibram o jogo com seu humor. O filme é bom, mas achei que arrastou-se demais. 30 minutos a menos de filme não seriam nem notados. O dilema de Samantha e do casal Carrie e Mr. big poderiam ter sido encurtados ou substituídos por um papel mais encorpado da coadjuvante Jennifer Hudson. Mas no final das contas "Sex and the City" cumpre muito bem o que propôs: ser um episódio maior da série e angariar novos fãs. Pelo tamanho do sucesso, parece que a continuação é inevitável, afinal, o filme arrecadou em seu primeiro fim de semana nos EUA $57 milhões. ( custou $ 65 mi )

Enfim, o filme diverte e no final sempre gira em cima da mesa coisa: Amor e amizade. Comédia romântica com uma dose de drama com personagens consagradas. Fórmula perfeita. Está longe de ser ótimo, mas é justo. Nem sempre queremos sair do cinema com a cabeça fundida não é mesmo?

ps para o público masculino: Não se aborreça se sua namorada quiser ver o filme, vá com ela. Apesar de poder ser maçante em alguns momentos devido ao excesso de marcas famosas do mundinho fashion e das surtadas de Samantha para com Danteeee, o filme pode ser um excelente aliado da ala masculina para conseguir entender um pouquinho mais o complexo universo feminino. É claro que não quero generalizar, mas amor, é igual no mundo todo.



sexta-feira, 6 de junho de 2008

ANTES QUE O DIABO SAIBA QUE VOCÊ ESTA MORTO


EUA, 2007
Direção: Sidney Lumet


Este foi mais um dos concorridíssimos filmes da Mostra de São Paulo do ano passado. Não poderia ser de outra maneira, afinal, trata-se do mais recente trabalho do excelente Sidney Lumet, cineasta veterano autor de clássicos como "Um Dia de Cão" e "Rede de Intrigas".

Consegui assistir ao filme em um das últimas sessões da Mostra, aquelas das 23 horas em um dia de semana que nem me lembro mais e talvez por este motivo e também pelo fato de ter visto inúmeros filmes, eu nem me recordava de tê-lo assistido e acabou que semana passada fui confêri-lo novamente, achando que eu não tinha visto. Mas quer saber ... Foi ótimo.

"Antes que o Diabo Saiba Que Você Esta Morto", conta a história de dois irmão que se encontram com problemas financeiros e resolvem realizar um roubo que tinha tudo para ser o plano perfeito se não fosse realizado por amadores. Tudo sai errado e a família que já não era das mais unidas, simplesmente desmorona.

Contando com dois protagonistas de peso, Philip Seymour Hoffman e Ethan Hawke e dois coadjuvantes que não aparecem tanto, mas são fundamentais para o desenvolvimento da história, Marisa Tomei e Albert Finney, em excelente performance como o pai dos irmãos, "Antes que o Diabo Saiba que Você está Morto" mostra que Lumet não perdeu a mão e perto dos 80 anos, ainda dirige magistralmente.

O roteiro tinha tudo para ser forçado e não agradar, mas a presença de Lumet trabalhando com grandes atores, torna o filme intrigante e agonizante em alguns momentos, no sentido positivo da palavra. A ótima edição atemporal também colabora muito para dar a força necessária à película.
Um filme sobre a hipocrisia humana e o lado podre que toda família possue. Aqui, Lumet escancara com primor a fragilidade familiar e dirige com maestria um dos melhores thrillers recentes com mão de ferro! Ótimo programa para pessoas fortes. A vida como ela é.





ROLLING STONES SHINE A LIGHT


EUA, 2007
Direção: Martin Scorcese


Eu realmente estava curioso para conferir este "show" dos Stones no telão. Então, foi em uma noite de Sábado que dirigi-me para uma de minhas salas preferidas do circuito paulistano: O gigante e sobrevivente Gemini.

Stones sempre foi uma de minhas bandas preferidas e Scorsese também está no hall dos meus diretores, logo, a curiosidade era natural, mas a impressão ficou longe de ser das melhores.

Este foi um show bancado pela ong do ex-presidente dos EUA Bill Clinton, no famoso Beacon Theater de New York. Logo seria o show ideal para Martin montar sua parafernália e tentar captar o show sob o olhar de suas lentes nervosas, mas a única presença do diretor neste show, além de sua assinatura é claro, são suas piadinhas sem graça no decorrer do mesmo.

Trata-se de um show que chega a beirar o tédio, mesmo tendo como protagonistas, a maior banda do mundo, afinal, trata-se de um evento político. Platéia envelhecida e bem comportada. Temos que aturar a presença da mãe de Hillary Clinton e toda aquela pose artificial comum em eventos do gênero.

Pra não dizer que é tudo horrível, existem dois pontos altos no show: Jack White, vocalista e mentor do "White Stripes" e o veteraníssimo "Buddy Guy" com seu vozeirão e sua guitarra esquizofrênica. E é só. Christina Aguilera não chega a fazer feio, afinal, ela canta muito. Mas alguém consegue me explicar o que ela está fazendo lá? Mick Jagger visivelmente poupa voz e energia, inclusive, na primeira hora do filme sua voz lembra muito a do vocalista dos "Bee Gees", ou seja, MEDONHO!

O momento mais cinematográfico que existe são as entrevistas antigas de arquivo com o membros ainda jovens dando declarações sobre a longevidade da banda e etc, aliás, horrivelmente utilizadas por Martin, pois são tão óbvias a maneira como foi montado que chega a ser ... esquece. Falta vibração, falta energia, faltou ROCK N´ROLL!

Resumindo, mesmo que você seja super fã da banda e do diretor, não vale a pena ir ao cinema para conferir. Espere o dvd e assista no conforto de sua casa, porque pelo menos quando estiver chato, você pode ir ao banheiro ou fazer aquela pipoca sem titubear, mesmo porque, passa longe de ser o melhor registro de um show dos Stones e Scorsese ... bem, como já disse, ele perdeu uma ótima oportunidade de ficar quieto. Vai ser ruim de piada assim lá na casa du ...