quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

No Vale Das Sombras



EUA, 2007
Direção: Paul Haggis


Paul Haggis, roteirista premiado, mostra amadurecimento na direção. Tá certo que os atores colaboram e muito. Tommy Lee Jones é o cara neste filme, praticamente um solo e como sempre, manda muito bem. Na realidade, nunca concordei muito com a vitória de "Crash" no Oscar, sempre achei que haviam filmes melhores concorrendo. Paul Haggis embora escreva sobre fatos verdadeiros do cotidiano, sempre gosta de dar uma fantasiada e consequentemente exagera na dose na minha opinião. Em "Crash" ele mostrou que milagres acontecem e em "No Vale das Sombras", ele cria um personagem durão que se acha auto-suficiente para resolver tudo sozinho, praticamente um Rambo e sabemos que na vida real não é bem assim. Mas isso aqui é cinema né?!

Ambos os filmes possuem teores políticos e sociais. Acredito que "No Vale das Sombras" seja um filme maior que "Crash" neste aspecto, apesar do pai super herói que quer fazer justiça com as próprias mãos, mas a mensagem é muito válida e cai como uma luva para a atormentada sociedade americana.

Um pai vai atrás do paradeiro de seu filho que acabara de voltar do Iraque e sumiu sem dar notícias. Nessa procura, ele descobre que conhecia muito pouco seu filho. Ponto para Haggis que captou muito bem que é impossível um filho não ter segredos para com seus pais. Em dado momento, o personagem de Lee Jones concorda com o fato de que deveria ter conversado mais com seus filhos. Ele descobre imagens feitas no celular do filho, onde este aparece torturando cidadãos iraquianos. Seu filho e toda a horda de militares que confundem a guerra com um jogo de playstation. Como cobrar maturidade de adolescentes e jovens que sequer estão formados? Como colocar tamanha responsabilidade de reconstruir um país na mão de jovens delinquentes? É isso que acontece na Guerra do Iraque e aconteceu em tantas outras.

Haggis tenta mandar a mensagem de que os EUA é um país a beira de um colapso. Um país que não cuida de sua juventude cada vez mais atormentada pelas mensagens de terrorismo e horror. Eles apontam o inimigo e resta a seus jovens acreditar que aquele iraquiano na sua frente é o responsável por todo o mau existente no planeta. A mensagem é forte e verdadeira e a passagem da bandeira de cabeça para baixo, não poderia ter sido melhor. O velho império americano clama por socorro.





sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Jogo de Cena



Brasil, 2007
Direção: Eduardo Coutinho


Michael Moore realizou um grande feito ao fazer a massa prestar atenção nos documentários. O ápice foi quando ele venceu Cannes com "Fahrenheit", algo até então inimaginável. E o mundo aplaudiu. Desde então o gênero documentário vem popularizando-se e criando grandes sucessos como o francês "A Marcha dos Pinguins" e o ótimo "Homem Urso", para citar apenas alguns exemplos globais. No Brasil não poderia ser diferente, vide os excelentes "Estamira" e "Santiago", na minha opinião, um dos melhores do ano.

Finalmente chegamos a obra de Eduardo Coutinho que dispensa comentários. Este senhor de 70 e poucos anos é um dos mais produtivos cineastas da atualidade, tendo produzido quase um filme por ano nos últimos cinco. Realmente um fenômeno que deve alcançar se o destino permitir a longevidade de nosso conterrâneo Manoel Oliveira, trata-se de dois grandes mestres.

Aprendemos com a popularização do documentário que este tipo de filme é sinônimo de veracidade e realidade, vide o nome do maior festival de documentários do país, o "É TUDO VERDADE". Pois bem, era tudo verdade. Com "Jogo de Cena", Coutinho chega para inovar o gênero e quebrar todos os protocolos, pois aqui, a verdade se confunde com a ficção.

Num jogo de interpretações e depoimentos, Coutinho cria um emaranhado de declarações onde o telespectador tem que descobrir quem está falando a verdade, quem é personagem e quem é atriz. Com participações de Fernanda Torres, Andréa Beltrão e Marília Pêra, Coutinho mostra realmente tratar-se de um monstro da cinematografia nacional, tamanho respeito que essas atrizes tem por ele. Ele sabe como ninguém entrevistar pessoas e retirar delas o mais puro e emocionante depoimento.

Jogo de Cena intercala depoimentos reais com representações das atrizes aqui citadas. A partir de um anúncio de jornal onde procuravam-se mulheres acima de 18 anos com histórias pra contar, a sempre reduzida equipe de Coutinho aguarda as candidatas em um teatro vazio onde ocorrem as filmagens.

São depoimentos muito tristes no geral, mas verdadeiros e a forma como Coutinho conduz, não deixa os depoimentos cairem no sentimentalismo piegas. São histórias trágicas, tocantes. Uma em especial me chamou muita atenção. A de uma mãe que não se dá bem com a filha e gostaria de tentar uma reaproximação. Seu depoimento é riquissímo e mistura angústia com tristeza e despero, além da comédia no teor de suas declarações. Ao final, ela canta uma música com a qual costumava ninar sua filha, por coincidência, a mesma que minha mãe cantou para mim na infância. Lindo, emocionante e original. Vida longa à Coutinho. SENSACIONAL!





quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Chris Cornell no Credicard Hall



Desde que despontou na era grunge com o extinto e maravilhoso Soundgarden que sou fã de Chris. Para mim, ele é sim uma das grandes vozes do Rock e não poderia perder este show por nada.

Após ter passado pelo Soundgarden e Audioslave, Chris agora segue muito bem em carreira solo e quem sai ganhando somos nós, porque sua passagem por estas duas bandas nos garantem um show cheio de hits do passado além dos seus atuais na carreira solo como a bela "You Know my Name", trilha do último 007.

O homem canta muito e o show foi DUCARALHO! Sucessos como "Outshined" e "Spoon Man" do Soundgarden fizeram o Credicard tremer, mas o grande momento da noite sem dúvida alguma foi "Hunger Strike" da sua extinta banda com Eddie Veder, Temple of the Dog. Ao ouvir os primeiros acordes confesso que me arrepiei e não pude evitar as lágrimas de emoção por estar escutando ao vivo uma das músicas que marcaram minha adolescência. Lindo! E ainda cantou seus sucessos com o Audioslave e algumas covers inusitadas como "Billie Jean" em uma versão acústica maravilhosa e ainda arriscaram "Whole Lotta Love" do Led. Rock n roll na veia!

Assisti a grandes shows este ano, mas com certeza este foi um dos tops. Muito rock n roll com uma das maiores vozes da atualidade, uma banda competente e muita energia! Pesado quando tem que ser pesado, leve quando tem que ser leve, Chris é um artista completo e no auge de sua maturidade. Puta que o pariu, QUE SHOWZAÇO!




quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Tropa de Elite



Brasil, 2007
Direção: José Padilha

Finalmente fui conferir o filme mais comentado do ano, e não foi em dvd pirata não, foi no cinemão! O que falar do que tudo mundo já sabe? A história da pirataria não poderia ter tido efeito melhor para a divulgação do filme. Tropa caiu na boca do povo com este episódio onde os mais radicais até acreditam que o tal dvd deixou-se vazar propositalmente. E sinceramente, eu acho que essa tese é muiiito possível. Enfim, vamos ao filme.

"Tropa de Elite" = Capitão Nascimento. O personagem de Wagner Moura é o que segura o filme todo. Na realidade, a trinca formada por Wagner, Junqueira e o excelente estreante Ramiro segura o filme. O roteiro não é lá essas coisas, mas a força do personagem Capitão Nascimento é incrível. Você percebe até a mudança no seu tom de voz, realmente um trabalho incrível. André Ramiro e Caio Junqueira não ficam atrás como os "aspiras", candidatos a uma vaga na elite da polícia militar. O produtor de casting foi extremamente feliz na escolha desta trinca, os outros personagens contudo são fracos e vazios. Talvez tenha sido proposital, porque você abomina facilmente a turminha playboy e maconheira da elite carioca que faz passeatas pela paz e vende drogas na faculdade.

A polêmica levantada pelo filme de que o usuário patrocina o tráfico e consequentemente seus crimes e mortes foi muito bem colocada, mas o tom do discurso foi muito radical e o buraco é muito mais embaixo. É muito fácil culpar o sistema por tudo e assim justificar a polícia corrupta e todos os abusos e subornos que ocorrem. O filme mostra que, ou você entra no esquema do sistema ou se dá mal. Ser bonzinho e honesto não leva a nada e até os mais incorruptíveis, que no caso do filme, são os aspiras, tem seus momentos de fraqueza e entram na onda, nem que estejam mais para Robin Hood do que Al Capone. Ninguém está imune e talvez ninguém queira estar. Faz parte do jogo.

Tropa é aquele tipo de filme em que a ala masculina sai do cinema na pele do personagem. Tipo Rocky, Karatê Kid, Rambo. Você sai da sala se achando o próprio Capitão Nascimento e talvez aí esteja a explicação para a popularizaçao dos bordões do filme que estão na boca do povo como "coloca na conta do papa", "pede pra sair" e "o senhor é um fanfarrão" hahaha. Ótimo!

Tropa é tendência e caiu na graça popular. Também, não poderia ser diferente, uma vez que seu lançamento foi praticamente realizado nas ruas das grandes metrópoles brasileiras. Acho que depois dessa, vai ter muito filme vazando pros pirateiros rs. Capitão Nascimento rules! Tropa de Elite pega um pega geral e com certeza vai pegar você, se ja não pegou.






quinta-feira, 29 de novembro de 2007

João Bosco No Fecap


O clima do show era o seguinte: imagine-se na sala de João Bosco. Você e amigos desfrutando de uma noite de música na maior intimidade com um dos maiores artistas da MPB. Foram assim suas oito noites de espetáculo no excelente e intimista Teatro Fecap. Uma delícia.

O show não tinha roteiro, logo, João dedilhava seu violão com o que viesse na cabeça. Passando por clássicos seus, de outros autores, músicas inéditas, outras nem tanto.

Quem pensou que seria um show de um artista decadente enganou-se profundamente. João continua produzindo e compondo à toda e mostrou composições inéditas candidatas a tornarem-se clássicos do cancioneiro tupiniquim.
Lindo e emocionante, sim fui a lágrimas algumas vezes, este show não poderia ter sido melhor. Além de tudo, o homem toca muito! Longa vida à obra e ao homem João Bosco. Valeu pela canja de quase duas horas. M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-O!


A Via Láctea


Brasil, 2007
Direção: Lina Chamie

Mais um filme que retrata um pouco do caos romântico paulistano. Nos recentes lançamentos nacionais podemos conferir a cidade de São Paulo que vem sendo descoberta por nossos cineastas como uma "bela" locação. Além dos nacionais, já passaram por aqui produções americanas como a estrelada pelo Tarzan Brandon Frasier e mais recentemente a produção intercontinental "Blindness" com Julianne Moore, Danny Glover, Mark Ruffalo entre outros, mas vamos falar do filme de Chamie.

Realmente trata-se de um sopro de inovação na cinematografia nacional. Chamie utiliza-se dos poemas e textos de grandes mestres que são interpretados por seus protagonistas no decorrer da película. Se não bastasse, a trilha é entoada pela música clássica de Bach.

Em alguns momentos pode-se achar que existe uma certa arrogância na forma erudita de conduzir o filme, mas essa foi somente uma impressão que tive, não podendo afirmar que ela realmente exista.

Marco Ricca como sempre dá um show de interpretação neste papel que cai como uma luva para ele e ainda tem a presença da linda e talentosa Alice Braga que não foi muito exigida neste papel. Assista "Cidade Baixa" para saber do que estou falando. A moça é ótima.

São Paulo é uma das personagens mais importantes e influi diretamente no desenvolvimento da trama. Realmente um dos maiores acertos foi a escolha da linguagem da direção de fotografia que casou perfeitamente com a necessidade de uma câmera nervosa para este roteiro. Tá certo que as vezes o telespectador deve ficar meio perdido e até tonto, mas faz parte da mensagem que Chamie quer passar. É mostrado o lado feio e belo da cidade.

Com o desfecho do filme contudo, o cinéfilo poderá reunir as peças e montar seu próprio quebra-cabeça. De início achei que tal epílogo fôra muito óbvio, mas refletindo depois, conclui de que não poderia ter sido feito de melhor maneira. E não poderia ter sido tão óbvio mesmo, uma vez que você começa a desconfiar das coisas a partir do meio para o fim.

Acredito que a direção poderia ter sido melhor, mas tá na cara que trata-se de um filme autoral e fica difícil avaliar algo quando a executora não está interessada no que os outros tem a falar. O roteiro é ótimo e a direção de fotografia excelente. Além dos poemas de Drummond, Bilac, Bandeira ... Não é imperdível, mas se houver oportunidade, vá conferir.




quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Todas As Belas Promessas



França, 2003
Direção: Jean Paul Civeyrac

Marianne é violoncelista de uma orquestra e inicia um romance com um de seus colegas, Etienne. Eles passam a noite juntos e ela logo se envolve. Oferece-lhe as chaves do apartamento, mas ele as recusa. Desapontada, Marianne precisa então enfrentar a morte da mãe, que sempre reaparece em sua imaginação fazendo-lhe lembrar da infância. Lendo o testamento nunca executado do pai, descobre que ele tinha uma amante, Beatrice, assim como a mãe também. Fica curiosa em conhecer a outra mulher do pai e decide abandonar Etienne. Eles brigam e ela parte sozinha em busca de Beatrice, uma pianista, com quem acaba fazendo amizade. Elas então rememoram juntas o passado e a música “Hymne à l’Amour”. Livremente adaptado do romance “Hymnes à l’Amour”, de Anne Wiazemsky, atriz de filmes de Jean-Luc Godard (com quem foi casada) e Pier Paolo Pasolini. O título do filme evoca um verso da canção homônima do livro, sucesso na voz de Edith Piaf. Na trilha sonora, composições do alemão do período romântico Felix Mendelssohn (1809-1847). Vencedor do prêmio francês independente Jean Vigo, em 2003. Participou da 27ª Mostra.

Agora sim posso dizer que começo a entender um pouco melhor o trabalho de Civeyrac. Se você não conhece seu trabalho, recomendo que assista à este filme primeiramente. Belo trabalho. O filme é dividido em capítulos, assim como "Através da Floresta", e mais uma vez a música tem um papel importantíssimo na obra. Outra característica de seus filmes, pelo menos dos dois que assisti, é a volta ao passado. Ele deve ter um passado mal resolvido ou algum trauma. Não importa. O que importa é que em "Todas as Belas Promessas", Civeyrac mostra porque é um dos destaques do cinema francês. Nada como um dia após o outro ... Muito bom filme.

Através Da Floresta



França, 2005
Direção: Jean Paul Civeyrac

Depois da morte de Renaud num acidente de motocicleta, Armelle não consegue mais esquecer o seu amor e acredita que o jovem ainda está ao seu lado. Ela até o vê em aparições durante a noite e conta o fato às irmãs Roxanne e Berenice, deixando-as preocupadas. Roxanne, então, sugere procurar uma médium. Durante a sessão, Armelle conhece Hyppolite, um amigo de Roxanne que chega por acaso e é a cara de Renaud. Trilha sonora com composições de John Cage.

Não conhecia ainda o trabalho de Civeyrac. Este filme é um tanto estranho. Estava curioso para conhecer este diretor, mas na realidade, achei ele bem francês, rs. Os filmes franceses em sua grande maioria são parecidos em alguns aspectos, como por exemplo os planos e sequências detalhistas. Achei que o roteiro poderia ser melhor trabalhado, mas é um bom filme no geral, não chega a cativar, mas valeu. John Cage na trilha também foi um grande atrativo confesso.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Listão 31° Mostra de São Paulo

MELHORES:


1° - DO OUTRO LADO (2007)
2° - EM PARIS (2006)
3° - BEAUFORT (2007)
4° - PERSÉPOLIS (2007)
5° - A BANDA (2007)
6° - O BANHEIRO DO PAPA (2007)
7° - I’M NOT THERE (2007)
8° - A VIDA DOS OUTROS (2006)
9° - ESTAÇÃO SECA (2006)
10° - CÉU DE DEZEMBRO (2007)


OUTROS DESTAQUES:


- ESTÔMAGO (2007)
- OS OTIMISTAS (2006)
- INTO THE WILD (2007)
- EL OTRO (2007)
- EL ORFANATO (2007)
- ENTREVISTA (2007)
- UM AMOR JOVEM (2006)
- LONDRES PROIBIDA (2006)
- PARANOID PARK (2007)
- INÚTIL (2007)


PIORES:


1° - SOB AMESMA LUA (2006)
2° - SAVAGE GRACE (2006)
3° - PRINCIPIANTE (2007)
4° - O PONTO VERMELHO (2007)
5° - CARAMEL (2007)
6° - COCHOCHI (2007)
7° - INDO PARA CASA (2007)
8° - A ILHA (2006)
9° - DE CABEÇA PARA BAIXO (2006)
10° - PANCHO VILLA, A REVOLUÇÃO NÃO ACABOU (2006)


É isso aí amigos. Agora é aproveitar o resto do chorinho e aguardar ansiosamente pela Mostra 2008. Vejo vocês lá. Grande abraço e obrigado por ler.

domingo, 4 de novembro de 2007

I´m Not There



EUA, 2007
Direção: Todd Haynes

Uma biografia diferente do maior ícone do rock’n’roll americano, Bob Dylan, numa narrativa fragmentada e em tom estiloso. Sete atores, entre eles grandes astros de Hollywood, interpretam o músico em diferentes períodos de sua vida e carreira, entre os anos 60 e 70. Uma das interpretações mais originais nesse inusitado formato deu a Cate Blanchett – no filme morena, com cabelos cacheados e de óculos escuros – o Copa Volpi de melhor atriz no festival de Veneza 2007. A produção também conquistou o Prêmio Especial do Júri e o “CinemAvvenire”, dedicado a produções inovadoras que apontam o futuro do cinema. Em outra escolha curiosa, o jovem aventureiro Dylan é vivido pelo garoto negro Marcus Carl Franklin. A trilha sonora recorre a versões originais e a covers do bardo, incluindo do hit “Like a Rolling Stone”.

Original, inovador, sensacional. Não se trata de um filme comercial e com certeza os fãs de Dylan sairão na frente na compreensão deste filme documentário que é um pouco difícil para quem não conhece muita a obra e vida do biografado. Uma performance mostruosa de Cate Blanchet e tudo isso embalado pela música de Bob Dylan. Perfeito. Para ver e rever, mesmo porque, da primeira vez você não entenderá muita coisa, mas ainda assim, maravilhoso.

Into The Wild



EUA, 2007
Direção: Sean Penn

O que é ser americano - e o que significa um ser humano - quando a civilização se torna uma fonte de alienação e mazelas. O ídolo de Sean Penn é Christopher McCandless, o jovem anti-herói do livro-reportagem Na Natureza Selvagem, de Jon Krakauer, no qual o filme é baseado. Nascido em meio à riqueza e privilégios, McCandless jogou tudo para o alto no dia em que se formou na faculdade em 1990, doando todo seu dinheiro para a OXFAM e queimando sua carteira de identidade. Ele então pegou a estrada e encontrou outros que escolheram destinos não convencionais, de um ex-presidiário manipulador de drogas ao mochileiro hippie engajado em construir uma comunidade alternativa em algum lugar deserto. Essa jornada acaba por levar McCandless a se perder no Alaska, uma última provação inspirada nos grandes escritores - especialmente Leon Tolstói, Henry David Thoreau e Jack London - que enfrentaram a natureza e as pressões da alma humana.

Romântico? Ideológico? Talvez, mas se você não for atrás dos seus sonhos e lutar por aquilo em que você acredita ninguém o fará. Sean Penn apresenta amadurecimento como diretor e com certeza ainda nos presenteará com grandes trabalhos. Ótimo trabalho do ator e do diretor, um roteiro que por si só já encanta e tudo isso embalado pela maravilhosa trilha de Eddie Veder. Impossível não comparar esta história com a do sensacional Homem Urso. Grandes homens que fizeram de tudo para levar a vida do modo que acreditavam ser o correto. Alex Supertramp contudo demorou muito para descobrir a verdadeira mensagem do filme: A felicidade deve ser compartilhada!

Paranoid Park



EUA, 2007
Direção: Gus Van Sant

Alex, um adolescente skatista de 16 anos, mata acidentalmente um guarda na vizinhança de Paranoid Park, parque rodeado por ruas violentas de Portland. Ele resolve não falar nada a respeito. Ele e seu amigo visitam um mitológico parque de skate. A atração que a juventude sente por essa cultura, marcada pela liberdade punk e pelo hipnótico ritmo das rodas batendo no concreto, leva Alex a uma rápida amizade com um anarquista de sarjeta. Algo terrível acontece perto dos trilhos de trem, e de repente o jovem se torna o centro de uma investigação criminal. Mas que crime ele cometeu, se o cometeu? O mundo jovem reforça o isolamento que Alex sente em relação a qualquer estranho à sua significativa subcultura.

Mais uma vez Van Sant entra no seu universo predileto: Adolescentes problemáticos e deliquentes. E ninguém melhor do que ele para retratá-los. Com certeza não é um dos seus melhores filmes, mas mesmo assim, ainda está muito acima da média. A angústia, a paranóia criada em torno do protagonista são muito bem realizadas. As cenas de skate filmadas em super 8 ao som de Bach são simplesmente arrebatadoras. Não poderia ser diferente, uma vez que o fotógrafo de Paranoid é o mesmo dos filmes de Wong-Kar-Wai. Consequentemente, o abuso do slow motion torna-se uma ferramenta perfeita para criar o clima buscado por Gus.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Savage Grace



Espanha/EUA, 2006
Direção: Tom Kalin

O filme conta a verdadeira história de Barbara Daly, que se casou com Brooks Baekeland, herdeiro da indústria de plásticos Baquelita. Bonita, ruiva e carismática, Barbara ainda não se entendeu com o marido rico. O nascimento do filho faz a estrutura do casal balançar. Tony, filho único, é um fracassado aos olhos do pai. Ele amadurece e se torna cada vez mais próximo da mãe solitária. O filme avança em seis atos, entre 1946 e 1972, quando Barbara é assassinada. Os Baekelands vivem em busca de distinção social e da fabulosa “boa vida” em Nova York, Paris, Maiorca e Londres. Mas um grande escândalo abalará a sociedade e mudará o rumo da família para sempre.

Ok ok, a história é real, mas acredito que não seja merecedora de ser contada. O filme começa bem, mas perde-se do meio para o fim. Realmente não entendi o objetivo de contar esta história de uma família tão bizarra. Só há uma razão: Chocar. Se esta foi a intenção do diretor acredito que ele tenha conseguido, pois ele trata de assuntos tabus para a sociedade. E o tabu incomoda muita gente que se sente constrangida ao deparar com tais fatos na tela. Como exemplo cito a mulher que teve ataque de risos ao ver a mãe transar com filho. Reação típica de pessoas desconcertadas. História que poderia passar em branco para a humanidade. Mas como tem louco pra tudo ... Talvez alguém tenha gostado, afinal, o filme estava na repescagem. Vai entender ...

Cada Um Com Seu Cinema



Em honra ao 60º aniversário do Festival de Cinema de Cannes, o presidente do festival, Gilles Jacob, convidou mais de trinta cineastas para fazer contribuições de três minutos a uma obra coletiva. O tema que os une nesse trabalho é, naturalmente, o amor ao cinema. A diversidade dos filmes prova que enquanto o entusiasmo pelo cinema é possivelmente universal, cada experiência cultural que advém dele – isso para não falar de cada espectador – é completamente única. O conjunto dos canônicos cineastas representa cinco continentes e 25 países. David Cronenberg atua em seu provocativo e deslocado At the Suicide of the Last Jew. Abbas Kiarostami fotografa o choro das mulheres ante à perspectiva trágica de Franco Zeffirelli em Romeu e Julieta (1968). A hilária autobiografia de Nanni Moretti Diary of a Moviegoer é uma lamúria sobre o estado do cinema. Electric Princess Picture House, de Hou Hsiao-hsien, lamenta o declínio dos dias de glória do cinema europeu, mostrando Mouchette, de Robert Bresson, exibido num cinema vazio. Tsai Ming-liang em It’s a Dream é igualmente nostálgico, ao lembrar dos filmes aos quais assistia em sua infância nos anos 70, na Malásia (nesse caso, com uma grande contribuição de cineastas asiáticos como Wong Kar-wai, Chen Kaige, Zhang Yimou e Takeshi Kitano). Em frente a um cinema brasileiro que exibe Os Incompreendidos (Les 400 Coups, 1959), de François Truffaut, o brasileiro Walter Salles cria uma paralisante performance musical com seu filme 8944 km from Cannes, cujo tema é o próprio festival. Theo Angelopoulos ainda consegue juntar Jeanne Moreau e Marcello Mastroianni em Three Minutes (a obra coletiva autoral é dedicada na verdade ao grande guru de Mastroianni, Federico Fellini). E a lista continua. Os nomes dos autores só são revelados após cada um dos curtas, permitindo que o espectador tente adivinhar qual cineasta está por trás de cada uma das contribuições. Ponto comum é que vários cineastas focaram na decadência de algumas salas de cinema que eles amaram desde a juventude. Como a experiência coletiva de estar no escuro com centenas de outros espectadores está dando lugar à solitária experiência de ficar na frente do computador, muitos lamentam o fim de uma era que os definiu, enquanto outros celebram as mudanças radicais que estão desvelando uma nova era.

Filme realizado sob encomenda para o Festival de Cannes. Como não gostar de um filme como esse? Ver os maiores cineastas do mundo apresentarem suas visões da sétima arte é simplesmente uma delícia. Uma linda homenagem a esta arte magnífica e apaixonante.

Beaufort



Israel, 2007
Direção: Joseph Cedar

Líbano, ano 2000: não muito distante do velho forte Beaufort, há uma base militar com o mesmo nome, mantida pelo exército israelense. O bem resguardado posto existe desde a guerra que aconteceu no país em 1982. É um símbolo não só da mais controversa campanha israelense pelo controle militar do Líbano, mas também de uma batalha sacrificante na qual muitos soldados perderam suas vidas. As tropas israelenses se movem para o Líbano e deixam sua base em Beaufort para trás. Na manhã de 24 de maio, a base é destruída, sendo coberta por centenas de minas. O poder da explosão marca o fim de 18 anos de ocupação israelense. O filme conta a história de Liraz Liberti, o comandante de Beaufort de 22 anos, e de sua tropa durante os últimos meses antes da remoção das forças israelenses. A trama não se concentra na guerra, mas na retirada. A base ainda está sob fogo inimigo quando Liraz se prepara para explodir o local, apesar de com isso destruir tudo aquilo pelo que seus amigos e companheiros morreram para defender.

Excelente filme. Claustrofóbico e angustiante psicologicamente. O suspense criado remete bastante aos filmes de ficção como "Alien" e "2001". Os israelenses sabem como fazer bom cinema e seus atores na maioria das vezes são muito bons. Ótima pedida.

Brand Upon The Brain



Canadá/EUA, 2007
Direção: Guy Maddin

O cineasta canadense Guy Maddin, homenageado com uma retrospectiva na 28ª Mostra, empresta seu nome ao protagonista deste que, mais que um filme, é um projeto bastante audacioso. Realizada em preto-e-branco, a produção tem uma versão sonora e outra muda. Ambas serão exibidas na 31ª Mostra. A novidade é que a versão silenciosa vem numa embalagem luxuosa: música e sonoplastia serão executadas ao vivo no SESC Pinheiros, em única apresentação. Para o chamado foley live, os efeitos executados à frente da platéia, três artistas integrados à equipe do filme exercitam-se no palco mexendo num tanque com água, retirando som dos objetos mais diversos e até tocando instrumentos exóticos como o didjeridoo, peça de sopro dos aborígines australianos. O trio é acompanhado de um castrato e, na execução ao vivo da trilha, de um grupo de onze músicos e uma cantora do Centro Tom Jobim, formado por alunos e professores. Na regência do conjunto está o maestro norte-americano David Hattner. Mas há também um narrador convidado. Nas exibições do projeto nos Estados Unidos e na Europa, como ocorreu no festival de Berlim, a apresentação ao vivo contou com personalidades como os músicos Laurie Anderson e Lou Reed, o poeta John Ashbery e as atrizes Cate Blanchett e Isabella Rossellini, responsável pela narração na versão sonora. A filha de Roberto Rossellini, aliás, é colaboradora constante de Maddin, que dirigiu o curta-metragem Meu Pai Tem 100 Anos, homenagem de Isabella ao cineasta e exibido na 29ª Mostra. Em São Paulo, a narradora especialmente convidada para a exibição/performance da versão muda é a jornalista, apresentadora, atriz e cantora Marília Gabriela, que ao seu desempenho multimídia acrescenta agora essa participação ímpar e marcante a frente do espetáculo imaginado por Maddin. Na trama de Brand Upon the Brain, o jovem personagem Guy Maddin é marcado pela convivência com a mãe protetora e tirânica e o pai cientista, que trabalha secretamente no porão. Guy passa seus dias pouco estimulantes numa misteriosa ilha, acompanhado da irmã adolescente. Seus amigos são crianças abandonadas que vivem num orfanato. Depois que os pais, que recentemente adotaram algumas delas, começam a perceber feridas nas cabeças de seus filhos, chegam à ilha os detetives mirins Wendy e Chance Hale. Guy fica de pernas bambas ao se render à paixão por Wendy, enquanto a irmã passa pelo mesmo em relação a Chance. Tudo sempre bem escondido da mãe. Enquanto a investigação avança, os garotos são guiados para as mais sombrias regiões da revelação e da opressão. A busca perde perigosamente o controle quando terríveis segredos da família de Guy são revelados. CENTRO TOM JOBIM - É um núcleo cultural e educacional, de formação, produção e difusão dos repertórios de música clássica e popular. Administrado pela Associação Amigos do Centro Tom Jobim, o Centro Tom Jobim é uma Organização Social da Cultura ligada à Secretaria de Estado da Cultura do Governo do Estado de São Paulo. O Centro reúne atualmente a Universidade Livre de Música (a ULM, centro de referência em ensino musical em todos os níveis, com 2,5 mil alunos regulares), grupos musicais profissionais (Jazz Sinfônica e Banda Sinfônica do Estado), grupos musicais de bolsistas (Orquestra Sinfônica Jovem do Estado de São Paulo, Banda Sinfônica Jovem do Estado, Orquestra Jovem Tom Jobim, Coral Sinfônico do Estado), eventos artísticos e culturais (Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão, o projeto Ópera Estúdio), o Núcleo de Música Antiga (único permanente no Brasil), doze grupos artísticos formados apenas por alunos, o programa "Supertônica", na Rádio Cultura, e o Teatro Caetano de Campos, além de uma série de outras atividades por todo o Estado de São Paulo. Desta forma, o Centro Tom Jobim oferece uma perspectiva ampla a crianças e jovens, que encontram formação musical completa com alguns dos melhores músicos do país e a oportunidade de aperfeiçoamento e profissionalização, inicialmente nos concertos didáticos, com continuidade na ULM, nos grupos jovens e festivais e com a possibilidade de no futuro integrar os corpos profissionais do Centro Tom Jobim.

Trata-se de um filme muito difícil. Guy Maddin tentou recriar o universo dos filmes mudos e conseguiu. Vale pela ousadia, mas a grande diferença é que os filmes mudos de antigamente raramente ultrapassavam os 60 minutos. Assistir a um filme deste estilo com mais tempo que isso torna-se uma tarefa um pouco cansativa, ainda mais para um filme cheio de mensagens subliminares. Ele utilizou muito bem a ferramenta dos frames, mas realmente é difícil discernir sobre ele. Confira com os próprios olhos quando tiver a oportunidade.