quinta-feira, 29 de novembro de 2007

João Bosco No Fecap


O clima do show era o seguinte: imagine-se na sala de João Bosco. Você e amigos desfrutando de uma noite de música na maior intimidade com um dos maiores artistas da MPB. Foram assim suas oito noites de espetáculo no excelente e intimista Teatro Fecap. Uma delícia.

O show não tinha roteiro, logo, João dedilhava seu violão com o que viesse na cabeça. Passando por clássicos seus, de outros autores, músicas inéditas, outras nem tanto.

Quem pensou que seria um show de um artista decadente enganou-se profundamente. João continua produzindo e compondo à toda e mostrou composições inéditas candidatas a tornarem-se clássicos do cancioneiro tupiniquim.
Lindo e emocionante, sim fui a lágrimas algumas vezes, este show não poderia ter sido melhor. Além de tudo, o homem toca muito! Longa vida à obra e ao homem João Bosco. Valeu pela canja de quase duas horas. M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-O!


A Via Láctea


Brasil, 2007
Direção: Lina Chamie

Mais um filme que retrata um pouco do caos romântico paulistano. Nos recentes lançamentos nacionais podemos conferir a cidade de São Paulo que vem sendo descoberta por nossos cineastas como uma "bela" locação. Além dos nacionais, já passaram por aqui produções americanas como a estrelada pelo Tarzan Brandon Frasier e mais recentemente a produção intercontinental "Blindness" com Julianne Moore, Danny Glover, Mark Ruffalo entre outros, mas vamos falar do filme de Chamie.

Realmente trata-se de um sopro de inovação na cinematografia nacional. Chamie utiliza-se dos poemas e textos de grandes mestres que são interpretados por seus protagonistas no decorrer da película. Se não bastasse, a trilha é entoada pela música clássica de Bach.

Em alguns momentos pode-se achar que existe uma certa arrogância na forma erudita de conduzir o filme, mas essa foi somente uma impressão que tive, não podendo afirmar que ela realmente exista.

Marco Ricca como sempre dá um show de interpretação neste papel que cai como uma luva para ele e ainda tem a presença da linda e talentosa Alice Braga que não foi muito exigida neste papel. Assista "Cidade Baixa" para saber do que estou falando. A moça é ótima.

São Paulo é uma das personagens mais importantes e influi diretamente no desenvolvimento da trama. Realmente um dos maiores acertos foi a escolha da linguagem da direção de fotografia que casou perfeitamente com a necessidade de uma câmera nervosa para este roteiro. Tá certo que as vezes o telespectador deve ficar meio perdido e até tonto, mas faz parte da mensagem que Chamie quer passar. É mostrado o lado feio e belo da cidade.

Com o desfecho do filme contudo, o cinéfilo poderá reunir as peças e montar seu próprio quebra-cabeça. De início achei que tal epílogo fôra muito óbvio, mas refletindo depois, conclui de que não poderia ter sido feito de melhor maneira. E não poderia ter sido tão óbvio mesmo, uma vez que você começa a desconfiar das coisas a partir do meio para o fim.

Acredito que a direção poderia ter sido melhor, mas tá na cara que trata-se de um filme autoral e fica difícil avaliar algo quando a executora não está interessada no que os outros tem a falar. O roteiro é ótimo e a direção de fotografia excelente. Além dos poemas de Drummond, Bilac, Bandeira ... Não é imperdível, mas se houver oportunidade, vá conferir.




quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Todas As Belas Promessas



França, 2003
Direção: Jean Paul Civeyrac

Marianne é violoncelista de uma orquestra e inicia um romance com um de seus colegas, Etienne. Eles passam a noite juntos e ela logo se envolve. Oferece-lhe as chaves do apartamento, mas ele as recusa. Desapontada, Marianne precisa então enfrentar a morte da mãe, que sempre reaparece em sua imaginação fazendo-lhe lembrar da infância. Lendo o testamento nunca executado do pai, descobre que ele tinha uma amante, Beatrice, assim como a mãe também. Fica curiosa em conhecer a outra mulher do pai e decide abandonar Etienne. Eles brigam e ela parte sozinha em busca de Beatrice, uma pianista, com quem acaba fazendo amizade. Elas então rememoram juntas o passado e a música “Hymne à l’Amour”. Livremente adaptado do romance “Hymnes à l’Amour”, de Anne Wiazemsky, atriz de filmes de Jean-Luc Godard (com quem foi casada) e Pier Paolo Pasolini. O título do filme evoca um verso da canção homônima do livro, sucesso na voz de Edith Piaf. Na trilha sonora, composições do alemão do período romântico Felix Mendelssohn (1809-1847). Vencedor do prêmio francês independente Jean Vigo, em 2003. Participou da 27ª Mostra.

Agora sim posso dizer que começo a entender um pouco melhor o trabalho de Civeyrac. Se você não conhece seu trabalho, recomendo que assista à este filme primeiramente. Belo trabalho. O filme é dividido em capítulos, assim como "Através da Floresta", e mais uma vez a música tem um papel importantíssimo na obra. Outra característica de seus filmes, pelo menos dos dois que assisti, é a volta ao passado. Ele deve ter um passado mal resolvido ou algum trauma. Não importa. O que importa é que em "Todas as Belas Promessas", Civeyrac mostra porque é um dos destaques do cinema francês. Nada como um dia após o outro ... Muito bom filme.

Através Da Floresta



França, 2005
Direção: Jean Paul Civeyrac

Depois da morte de Renaud num acidente de motocicleta, Armelle não consegue mais esquecer o seu amor e acredita que o jovem ainda está ao seu lado. Ela até o vê em aparições durante a noite e conta o fato às irmãs Roxanne e Berenice, deixando-as preocupadas. Roxanne, então, sugere procurar uma médium. Durante a sessão, Armelle conhece Hyppolite, um amigo de Roxanne que chega por acaso e é a cara de Renaud. Trilha sonora com composições de John Cage.

Não conhecia ainda o trabalho de Civeyrac. Este filme é um tanto estranho. Estava curioso para conhecer este diretor, mas na realidade, achei ele bem francês, rs. Os filmes franceses em sua grande maioria são parecidos em alguns aspectos, como por exemplo os planos e sequências detalhistas. Achei que o roteiro poderia ser melhor trabalhado, mas é um bom filme no geral, não chega a cativar, mas valeu. John Cage na trilha também foi um grande atrativo confesso.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Listão 31° Mostra de São Paulo

MELHORES:


1° - DO OUTRO LADO (2007)
2° - EM PARIS (2006)
3° - BEAUFORT (2007)
4° - PERSÉPOLIS (2007)
5° - A BANDA (2007)
6° - O BANHEIRO DO PAPA (2007)
7° - I’M NOT THERE (2007)
8° - A VIDA DOS OUTROS (2006)
9° - ESTAÇÃO SECA (2006)
10° - CÉU DE DEZEMBRO (2007)


OUTROS DESTAQUES:


- ESTÔMAGO (2007)
- OS OTIMISTAS (2006)
- INTO THE WILD (2007)
- EL OTRO (2007)
- EL ORFANATO (2007)
- ENTREVISTA (2007)
- UM AMOR JOVEM (2006)
- LONDRES PROIBIDA (2006)
- PARANOID PARK (2007)
- INÚTIL (2007)


PIORES:


1° - SOB AMESMA LUA (2006)
2° - SAVAGE GRACE (2006)
3° - PRINCIPIANTE (2007)
4° - O PONTO VERMELHO (2007)
5° - CARAMEL (2007)
6° - COCHOCHI (2007)
7° - INDO PARA CASA (2007)
8° - A ILHA (2006)
9° - DE CABEÇA PARA BAIXO (2006)
10° - PANCHO VILLA, A REVOLUÇÃO NÃO ACABOU (2006)


É isso aí amigos. Agora é aproveitar o resto do chorinho e aguardar ansiosamente pela Mostra 2008. Vejo vocês lá. Grande abraço e obrigado por ler.

domingo, 4 de novembro de 2007

I´m Not There



EUA, 2007
Direção: Todd Haynes

Uma biografia diferente do maior ícone do rock’n’roll americano, Bob Dylan, numa narrativa fragmentada e em tom estiloso. Sete atores, entre eles grandes astros de Hollywood, interpretam o músico em diferentes períodos de sua vida e carreira, entre os anos 60 e 70. Uma das interpretações mais originais nesse inusitado formato deu a Cate Blanchett – no filme morena, com cabelos cacheados e de óculos escuros – o Copa Volpi de melhor atriz no festival de Veneza 2007. A produção também conquistou o Prêmio Especial do Júri e o “CinemAvvenire”, dedicado a produções inovadoras que apontam o futuro do cinema. Em outra escolha curiosa, o jovem aventureiro Dylan é vivido pelo garoto negro Marcus Carl Franklin. A trilha sonora recorre a versões originais e a covers do bardo, incluindo do hit “Like a Rolling Stone”.

Original, inovador, sensacional. Não se trata de um filme comercial e com certeza os fãs de Dylan sairão na frente na compreensão deste filme documentário que é um pouco difícil para quem não conhece muita a obra e vida do biografado. Uma performance mostruosa de Cate Blanchet e tudo isso embalado pela música de Bob Dylan. Perfeito. Para ver e rever, mesmo porque, da primeira vez você não entenderá muita coisa, mas ainda assim, maravilhoso.

Into The Wild



EUA, 2007
Direção: Sean Penn

O que é ser americano - e o que significa um ser humano - quando a civilização se torna uma fonte de alienação e mazelas. O ídolo de Sean Penn é Christopher McCandless, o jovem anti-herói do livro-reportagem Na Natureza Selvagem, de Jon Krakauer, no qual o filme é baseado. Nascido em meio à riqueza e privilégios, McCandless jogou tudo para o alto no dia em que se formou na faculdade em 1990, doando todo seu dinheiro para a OXFAM e queimando sua carteira de identidade. Ele então pegou a estrada e encontrou outros que escolheram destinos não convencionais, de um ex-presidiário manipulador de drogas ao mochileiro hippie engajado em construir uma comunidade alternativa em algum lugar deserto. Essa jornada acaba por levar McCandless a se perder no Alaska, uma última provação inspirada nos grandes escritores - especialmente Leon Tolstói, Henry David Thoreau e Jack London - que enfrentaram a natureza e as pressões da alma humana.

Romântico? Ideológico? Talvez, mas se você não for atrás dos seus sonhos e lutar por aquilo em que você acredita ninguém o fará. Sean Penn apresenta amadurecimento como diretor e com certeza ainda nos presenteará com grandes trabalhos. Ótimo trabalho do ator e do diretor, um roteiro que por si só já encanta e tudo isso embalado pela maravilhosa trilha de Eddie Veder. Impossível não comparar esta história com a do sensacional Homem Urso. Grandes homens que fizeram de tudo para levar a vida do modo que acreditavam ser o correto. Alex Supertramp contudo demorou muito para descobrir a verdadeira mensagem do filme: A felicidade deve ser compartilhada!

Paranoid Park



EUA, 2007
Direção: Gus Van Sant

Alex, um adolescente skatista de 16 anos, mata acidentalmente um guarda na vizinhança de Paranoid Park, parque rodeado por ruas violentas de Portland. Ele resolve não falar nada a respeito. Ele e seu amigo visitam um mitológico parque de skate. A atração que a juventude sente por essa cultura, marcada pela liberdade punk e pelo hipnótico ritmo das rodas batendo no concreto, leva Alex a uma rápida amizade com um anarquista de sarjeta. Algo terrível acontece perto dos trilhos de trem, e de repente o jovem se torna o centro de uma investigação criminal. Mas que crime ele cometeu, se o cometeu? O mundo jovem reforça o isolamento que Alex sente em relação a qualquer estranho à sua significativa subcultura.

Mais uma vez Van Sant entra no seu universo predileto: Adolescentes problemáticos e deliquentes. E ninguém melhor do que ele para retratá-los. Com certeza não é um dos seus melhores filmes, mas mesmo assim, ainda está muito acima da média. A angústia, a paranóia criada em torno do protagonista são muito bem realizadas. As cenas de skate filmadas em super 8 ao som de Bach são simplesmente arrebatadoras. Não poderia ser diferente, uma vez que o fotógrafo de Paranoid é o mesmo dos filmes de Wong-Kar-Wai. Consequentemente, o abuso do slow motion torna-se uma ferramenta perfeita para criar o clima buscado por Gus.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Savage Grace



Espanha/EUA, 2006
Direção: Tom Kalin

O filme conta a verdadeira história de Barbara Daly, que se casou com Brooks Baekeland, herdeiro da indústria de plásticos Baquelita. Bonita, ruiva e carismática, Barbara ainda não se entendeu com o marido rico. O nascimento do filho faz a estrutura do casal balançar. Tony, filho único, é um fracassado aos olhos do pai. Ele amadurece e se torna cada vez mais próximo da mãe solitária. O filme avança em seis atos, entre 1946 e 1972, quando Barbara é assassinada. Os Baekelands vivem em busca de distinção social e da fabulosa “boa vida” em Nova York, Paris, Maiorca e Londres. Mas um grande escândalo abalará a sociedade e mudará o rumo da família para sempre.

Ok ok, a história é real, mas acredito que não seja merecedora de ser contada. O filme começa bem, mas perde-se do meio para o fim. Realmente não entendi o objetivo de contar esta história de uma família tão bizarra. Só há uma razão: Chocar. Se esta foi a intenção do diretor acredito que ele tenha conseguido, pois ele trata de assuntos tabus para a sociedade. E o tabu incomoda muita gente que se sente constrangida ao deparar com tais fatos na tela. Como exemplo cito a mulher que teve ataque de risos ao ver a mãe transar com filho. Reação típica de pessoas desconcertadas. História que poderia passar em branco para a humanidade. Mas como tem louco pra tudo ... Talvez alguém tenha gostado, afinal, o filme estava na repescagem. Vai entender ...

Cada Um Com Seu Cinema



Em honra ao 60º aniversário do Festival de Cinema de Cannes, o presidente do festival, Gilles Jacob, convidou mais de trinta cineastas para fazer contribuições de três minutos a uma obra coletiva. O tema que os une nesse trabalho é, naturalmente, o amor ao cinema. A diversidade dos filmes prova que enquanto o entusiasmo pelo cinema é possivelmente universal, cada experiência cultural que advém dele – isso para não falar de cada espectador – é completamente única. O conjunto dos canônicos cineastas representa cinco continentes e 25 países. David Cronenberg atua em seu provocativo e deslocado At the Suicide of the Last Jew. Abbas Kiarostami fotografa o choro das mulheres ante à perspectiva trágica de Franco Zeffirelli em Romeu e Julieta (1968). A hilária autobiografia de Nanni Moretti Diary of a Moviegoer é uma lamúria sobre o estado do cinema. Electric Princess Picture House, de Hou Hsiao-hsien, lamenta o declínio dos dias de glória do cinema europeu, mostrando Mouchette, de Robert Bresson, exibido num cinema vazio. Tsai Ming-liang em It’s a Dream é igualmente nostálgico, ao lembrar dos filmes aos quais assistia em sua infância nos anos 70, na Malásia (nesse caso, com uma grande contribuição de cineastas asiáticos como Wong Kar-wai, Chen Kaige, Zhang Yimou e Takeshi Kitano). Em frente a um cinema brasileiro que exibe Os Incompreendidos (Les 400 Coups, 1959), de François Truffaut, o brasileiro Walter Salles cria uma paralisante performance musical com seu filme 8944 km from Cannes, cujo tema é o próprio festival. Theo Angelopoulos ainda consegue juntar Jeanne Moreau e Marcello Mastroianni em Three Minutes (a obra coletiva autoral é dedicada na verdade ao grande guru de Mastroianni, Federico Fellini). E a lista continua. Os nomes dos autores só são revelados após cada um dos curtas, permitindo que o espectador tente adivinhar qual cineasta está por trás de cada uma das contribuições. Ponto comum é que vários cineastas focaram na decadência de algumas salas de cinema que eles amaram desde a juventude. Como a experiência coletiva de estar no escuro com centenas de outros espectadores está dando lugar à solitária experiência de ficar na frente do computador, muitos lamentam o fim de uma era que os definiu, enquanto outros celebram as mudanças radicais que estão desvelando uma nova era.

Filme realizado sob encomenda para o Festival de Cannes. Como não gostar de um filme como esse? Ver os maiores cineastas do mundo apresentarem suas visões da sétima arte é simplesmente uma delícia. Uma linda homenagem a esta arte magnífica e apaixonante.

Beaufort



Israel, 2007
Direção: Joseph Cedar

Líbano, ano 2000: não muito distante do velho forte Beaufort, há uma base militar com o mesmo nome, mantida pelo exército israelense. O bem resguardado posto existe desde a guerra que aconteceu no país em 1982. É um símbolo não só da mais controversa campanha israelense pelo controle militar do Líbano, mas também de uma batalha sacrificante na qual muitos soldados perderam suas vidas. As tropas israelenses se movem para o Líbano e deixam sua base em Beaufort para trás. Na manhã de 24 de maio, a base é destruída, sendo coberta por centenas de minas. O poder da explosão marca o fim de 18 anos de ocupação israelense. O filme conta a história de Liraz Liberti, o comandante de Beaufort de 22 anos, e de sua tropa durante os últimos meses antes da remoção das forças israelenses. A trama não se concentra na guerra, mas na retirada. A base ainda está sob fogo inimigo quando Liraz se prepara para explodir o local, apesar de com isso destruir tudo aquilo pelo que seus amigos e companheiros morreram para defender.

Excelente filme. Claustrofóbico e angustiante psicologicamente. O suspense criado remete bastante aos filmes de ficção como "Alien" e "2001". Os israelenses sabem como fazer bom cinema e seus atores na maioria das vezes são muito bons. Ótima pedida.

Brand Upon The Brain



Canadá/EUA, 2007
Direção: Guy Maddin

O cineasta canadense Guy Maddin, homenageado com uma retrospectiva na 28ª Mostra, empresta seu nome ao protagonista deste que, mais que um filme, é um projeto bastante audacioso. Realizada em preto-e-branco, a produção tem uma versão sonora e outra muda. Ambas serão exibidas na 31ª Mostra. A novidade é que a versão silenciosa vem numa embalagem luxuosa: música e sonoplastia serão executadas ao vivo no SESC Pinheiros, em única apresentação. Para o chamado foley live, os efeitos executados à frente da platéia, três artistas integrados à equipe do filme exercitam-se no palco mexendo num tanque com água, retirando som dos objetos mais diversos e até tocando instrumentos exóticos como o didjeridoo, peça de sopro dos aborígines australianos. O trio é acompanhado de um castrato e, na execução ao vivo da trilha, de um grupo de onze músicos e uma cantora do Centro Tom Jobim, formado por alunos e professores. Na regência do conjunto está o maestro norte-americano David Hattner. Mas há também um narrador convidado. Nas exibições do projeto nos Estados Unidos e na Europa, como ocorreu no festival de Berlim, a apresentação ao vivo contou com personalidades como os músicos Laurie Anderson e Lou Reed, o poeta John Ashbery e as atrizes Cate Blanchett e Isabella Rossellini, responsável pela narração na versão sonora. A filha de Roberto Rossellini, aliás, é colaboradora constante de Maddin, que dirigiu o curta-metragem Meu Pai Tem 100 Anos, homenagem de Isabella ao cineasta e exibido na 29ª Mostra. Em São Paulo, a narradora especialmente convidada para a exibição/performance da versão muda é a jornalista, apresentadora, atriz e cantora Marília Gabriela, que ao seu desempenho multimídia acrescenta agora essa participação ímpar e marcante a frente do espetáculo imaginado por Maddin. Na trama de Brand Upon the Brain, o jovem personagem Guy Maddin é marcado pela convivência com a mãe protetora e tirânica e o pai cientista, que trabalha secretamente no porão. Guy passa seus dias pouco estimulantes numa misteriosa ilha, acompanhado da irmã adolescente. Seus amigos são crianças abandonadas que vivem num orfanato. Depois que os pais, que recentemente adotaram algumas delas, começam a perceber feridas nas cabeças de seus filhos, chegam à ilha os detetives mirins Wendy e Chance Hale. Guy fica de pernas bambas ao se render à paixão por Wendy, enquanto a irmã passa pelo mesmo em relação a Chance. Tudo sempre bem escondido da mãe. Enquanto a investigação avança, os garotos são guiados para as mais sombrias regiões da revelação e da opressão. A busca perde perigosamente o controle quando terríveis segredos da família de Guy são revelados. CENTRO TOM JOBIM - É um núcleo cultural e educacional, de formação, produção e difusão dos repertórios de música clássica e popular. Administrado pela Associação Amigos do Centro Tom Jobim, o Centro Tom Jobim é uma Organização Social da Cultura ligada à Secretaria de Estado da Cultura do Governo do Estado de São Paulo. O Centro reúne atualmente a Universidade Livre de Música (a ULM, centro de referência em ensino musical em todos os níveis, com 2,5 mil alunos regulares), grupos musicais profissionais (Jazz Sinfônica e Banda Sinfônica do Estado), grupos musicais de bolsistas (Orquestra Sinfônica Jovem do Estado de São Paulo, Banda Sinfônica Jovem do Estado, Orquestra Jovem Tom Jobim, Coral Sinfônico do Estado), eventos artísticos e culturais (Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão, o projeto Ópera Estúdio), o Núcleo de Música Antiga (único permanente no Brasil), doze grupos artísticos formados apenas por alunos, o programa "Supertônica", na Rádio Cultura, e o Teatro Caetano de Campos, além de uma série de outras atividades por todo o Estado de São Paulo. Desta forma, o Centro Tom Jobim oferece uma perspectiva ampla a crianças e jovens, que encontram formação musical completa com alguns dos melhores músicos do país e a oportunidade de aperfeiçoamento e profissionalização, inicialmente nos concertos didáticos, com continuidade na ULM, nos grupos jovens e festivais e com a possibilidade de no futuro integrar os corpos profissionais do Centro Tom Jobim.

Trata-se de um filme muito difícil. Guy Maddin tentou recriar o universo dos filmes mudos e conseguiu. Vale pela ousadia, mas a grande diferença é que os filmes mudos de antigamente raramente ultrapassavam os 60 minutos. Assistir a um filme deste estilo com mais tempo que isso torna-se uma tarefa um pouco cansativa, ainda mais para um filme cheio de mensagens subliminares. Ele utilizou muito bem a ferramenta dos frames, mas realmente é difícil discernir sobre ele. Confira com os próprios olhos quando tiver a oportunidade.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Canções de Amor



França, 2007
Direção: Christophe Honoré

As origens de Canções de Amor remetem a um material musical pré-existente: as canções escritas por Alex Beaupain. Os personagens começam a cantar assim que se apaixonam, porque são incapazes de expressar paixão de outra forma. Os cenários, como os apartamentos dos pais, retornam como um coro, com um tom diferente de acordo com o que foi cantado previamente. E assim como numa música, em que certos instrumentos retornam ou desaparecem enquanto outros são adicionados, os personagens secundários dão um ímpeto refrescante à história enquanto outros são eliminados dela. Ismaël perambula sem direção, mas a despeito de tudo continua caminhando. Erwann apressa um pouco seu passo. Já Jeanne é condenada à imobilidade: ela lembra um ponto fixo, pois a tragédia a congela. E Alice anda ao lado de Ismaël, mas ela resolve se afastar do seu caminho para seguir outra história, agora com um rapaz bretão que acaba de conhecer.

Após deleitar-me com o maravilhoso "Em Paris", não poderia deixar de conferir o outro trabalho de Honoré na Mostra. Este também com a participação de um dos meus atores preferidos da atual nova geração: Louis Garrel. A música é muito importante no trabalho de Honoré. No filme "Em Paris", ele nos presenteia com uma sequência extraordinária embalada por uma canção executada através de uma conversa por telefone. Fiquei imaginando então o que ele teria feito em um filme cujo título é "Canções de Amor". Criei muita expectativa. "Canções" é um bom filme, mas com certeza, menor que "Em Paris". Mesmo assim é uma delícia e você não deve perder esta última chance de conferir um pouco da deliciosa cinematografia de Honoré. "Naõ me ame muito, mas me ame por muito tempo."

03/11 sábado18:40
CineSesc

Persépolis




França, 2007
Direção: Marjane Satrapi, Vincent Paronnaud


Teerã 1978: Marjane, de oito anos, sonha em ser uma profetisa do futuro, para assim salvar o mundo. Querida pelos pais cultos e modernos e adorada pela avó, ela acompanha avidamente os acontecimentos que conduziram à queda do xá e de seu regime brutal. A entrada da nova República Islâmica inaugura a era dos “Guardiões da Revolução”, que controlam como as pessoas devem agir e se vestir. Marjane, que agora deve usar véu, sonha em se transformar numa revolucionária. Pouco depois, a cidade é bombardeada durante a guerra contra o Iraque. Com as restrições impostas pelo conflito e o desaparecimento rotineiro de membros da família e entes queridos, a repressão torna-se cada dia mais severa. Como o ambiente fica a cada dia mais perigoso, a rebeldia de Marjane sugere um grave problema. Seus pais decidem mandá-la para a Áustria, para sua própria proteção. Em Viena, Marjane vive outras revoluções aos 14 anos: adolescência, liberdade e o peso do amor mas, além de toda a também excitação, vem também a sensação de exílio e solidão e o gosto amargo de estar à margem da sociedade. No elenco de dubladores, a atriz Chiara Mastroianni dá voz à Marjane criança e adolescente, enquanto que sua mãe na vida real, a veterana Catherine Deneuve, vocaliza a mãe de Marjane, Tadji.


Lindo trabalho de Satrapi que leva os quadrinhos à telona. Uma história maravilhosa que acompanha a protagonista desde sua infância até a idade adulta mostrando todas as dificuldades enfrentadas em seu país e depois como estrangeira em um país que descrimina sua raça. Muito bom e possível candidato da França ao Oscar de filme estrangeiro.