sábado, 31 de outubro de 2009

DENTE CANINO



Grécia, 2009
Direção: Yorgos Lanthimos

Pai, mãe e três filhos vivem nos arredores de uma cidade. A casa é isolada por uma alta cerca que os filhos nunca puderam ultrapassar. Eles são educados, entretidos, entediados e exercitados da maneira que seus pais acham correto, sem nenhuma interferência do mundo externo. Acreditam que o avião que veem passando ao longe no céu é um simples brinquedo, e zumbis são flores pequenas e amarelas. A única pessoa autorizada a entrar na casa é Christina, que trabalha como segurança no escritório do pai e visita o filho a fim de satisfazer suas necessidades sexuais. Toda a família gosta dela, em especial a filha mais velha. Um dia, Christina dá a ela uma bandana que brilha no escuro e pede uma outra coisa em troca.

E se tudo o que você soubesse do mundo fosse baseado no que seus pais lhe dizem? E se você nunca tivesse tido contato algum com o mundo externo, nunca tivesse conhecido ninguém que não fosse seus pais e irmãos? É claro que acreditaria em tudo o que eles dizem, como por exemplo: Atingimos a maioridade quando o canino cai. Gato é um animal feroz e perigoso que come gente. Vagina é uma grande lâmpada. Isso é "Dogtooth". Vencedor da Mostra um Certo Olhar em Cannes, é o típico filme ame ou odeie. Eu amei. É polêmico, esquisito e bizarro, mas muito, mas muito instigante. A maioria do povo saiu indignado, xingando o filme até dizer chega, mas é preciso um pouco de paciência para dissertar sobre ele. Freud talvez explique. Hitler com muito menos fez os alemães acreditarem através da propaganda de Goebbels que eles eram a raça superior. O filme não dá ponto sem nó. Todos os diálogos são memoráveis. As cenas provocantes e a partir do momento que a filha mais velha tem um mínimo de contato com o mundo real através de 2 fitas de vídeo, acontece uma verdadeira revolução, mostrando que a mente humana é muito complexa e não se contenta com pouco, mesmo não sabendo de nada. G-E-N-I-A-L! Pode me xingar depois, mas este filme é pra discutir por horas, um prato cheio para um belo debate. Não perca, nem que seja para dizer: QUE BOSTA!
Sessão 1137 02/11 22:00 Eldorado

Indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro.

NINGUÉM SABE DOS GATOS PERSAS



Irã, 2009
Direção: Bahman Ghobadi

Recém-saídos da prisão, dois jovens músicos, um homem e uma mulher, decidem formar uma banda. Juntos, eles andam pelo submundo de Teerã à procura de outros instrumentistas. Proibidos pelas autoridades de tocarem no Irã, eles planejam fugir de sua existência clandestina e sonham em tocar na Europa. Porém, sem dinheiro e sem passaportes, nada será tão fácil.

Era disso que eu tava precisando e sentindo falta. Toda Mostra sempre tem aquele filme que eu saio suspirando e feliz. Ainda não tinha acontecido isso. "Ninguém Sabe dos Gatos Persas" veio para arrancar um suspiro de felicidade enorme de minha pessoa. Como esse homem filma bem. Do mesmo diretor de "Tartarugas Podem Voar" e "Half Moon", Bahman nos presenteia mais uma vez com um belíssimo filme. Neste novo trabalho podemos acompanhar um grupo de jovens iranianos buscando um caminho para expressar sua arte e paixão: a música. Difícil missão em um país onde a repressão e tirania impera. Uma visão da nova geração iraniana que sonha com mudanças, mas ao mesmo tempo encontra-se aprisionada nas leis desumanas e pré-históricas daquele país. Seus sonhos, desejos e anseios. Um roteiro soberbo, atores maravilhosos com destaque para o personagem Nader, fotografia linda e belas canções embalam este filme que tem tudo para ser um dos melhores da Mostra. Na minha lista ja é com certeza. Destaque para a linda sequência em que Nader mostra seu lado artístico. Maravilhoso e imperdível.

Sessão 960 01/11 12:00 Frei Caneca 1

O HOMEM QUE COMIA CEREJAS



Irã, 2009
Direção: Payman Haghani

Reza, um trabalhador comum que sofre de impotência sexual, é condenado por um tribunal de família a pagar o dote à sua mulher, que está pedindo o divórcio. Com o objetivo de conseguir o dinheiro e provar que é uma pessoa capaz, ele tem que considerar algumas opções. Ao lembrar que um de seus colegas de trabalho perdeu os dedos enquanto trabalhava numa fábrica e recebeu uma indenização da companhia de seguros, ele tem uma idéia.

Retrato do sofrimento de um homem abandonado pela esposa. Apesar de apresentar alguns momentos cômicos, no fundo, a história toda é muito triste. O que um homem é capaz de fazer em momentos de desespero. Uma visão um pouco diferente do universo machista iraniano. Diferente e sincero. Bom filme.

Sessão 1032 01/11 17:40 HSBC
Sessão 1127 02/11 13:30 Cinesesc
Sessão 1196 03/11 18:20 Bombril 2


sexta-feira, 30 de outubro de 2009

FRONTIER BLUES



Irã, Inglaterra, Itália - 2009

Direção: Babak Jalali

Quatro histórias do norte do Irã, na fronteira com o Turcomenistão. Na primeira, Alam, um rapaz de 28 anos, vive com o pai em uma fazenda e estuda inglês para casar com uma moça chamada Ana e levá-la a Baku. Na segunda, Hassan, um jovem persa, vive com o tio, um burro de estimação e um toca-fitas. Seu tio, Hazem, tem uma loja de roupas, mas as roupas que ele tenta vender nunca são do tamanho dos clientes. Em outra, um compositor turcomeno de 55 anos é tema do livro de um fotógrafo de Teerã. Sua mulher foi levada por um pastor religioso em uma Mercedes verde muitos anos atrás. Uma história de desejos, lembranças, esperas, homens desesperados e mulheres ausentes.

O filme não é ruim não, mas é chato que dói. Acredito que este tipo de filme tenha sua valia. Além do aspecto geográfico, de poder conhecer um pouco mais de culturas tão distantes, eles ensinam a ler as entrelinhas. Isso mesmo, está tudo no ar, cabe ao espectador decifrá-las. Esse triste filme mostra que seus personagens embora almejem conseguir algo melhor para suas vidas, o destino é cruel e nos lembra que nem sempre querer é poder. Devagar, chato, mas bonito. Não temos nossas vidas em nossas mãos, podemos ajuda-la a achar o caminho, mas nem tudo depende somente de nós.

Sessão 861 31/10 16:20 Frei Caneca 3
Sessão 1057 01/11 15:30 Mis

O APEDREJAMENTO DE SORAYA M



EUA, 2008

Direção: Cyrus Nowrasteh


Abandonado em uma remota aldeia iraniana, um jornalista francês é abordado por Zahra, uma mulher que tem uma história horrível para narrar sobre sua sobrinha, Soraya, e as circunstâncias da sua morte sangrenta no dia anterior. Enquanto o jornalista liga o gravador, Zahra nos leva de volta ao começo da história que envolve o marido de Soraya, um falso mulá (líder da mesquita muçulmana), e uma cidade envolta em mentiras, repressão e pânico. As mulheres, despojadas de todos os direitos e sem recursos, nobremente confrontam os desejos devastadores dos homens corruptos, que usam e abusam da autoridade para condenar Soraya, uma esposa inocente mas inconveniente, a uma morte injusta e cruel. Um drama sobre o poder do crime, um mundo fora da lei e a falta de direitos humanos para as mulheres. A última esperança de alguma justiça está nas mãos do jornalista, que deve escapar com a história – e sua vida – para que o mundo tome conhecimento. Baseado no livro homônimo do autor franco-iraniano Freidoune Sahebjam.

Filme para corações fortes. Uma verdadeira paulada! Ou seria uma pedrada? Enfim, desculpe a piada infâme, o assunto aqui é muito sério. A sinopse resume bem o filme. Uma adaptação muito boa do livro, atores bem dirigidos e convincentes, você fica com vontade de estrangular o marido de Soraya. O final também é ótimo. Incrível que ainda existam punições como essa. E ainda fazem tudo isso dizendo que é em nome de seu grande Deus. Da vergonha de ser humano ao ver uma coisa dessas. Um horror. O filme envolve e emociona. O pior de tudo, é saber que tudo aquilo, realmente aconteceu e ainda acontece. Que pesadelo nascer naquele lugar. Destaque para a participação de Jim (JESUS) Caviezel no papel do jornalista que conseguiu fugir para contar esta história ao mundo.

Sessão 1398 05/11 19:30 Unibanco Augusta


QUERIDO LEMON LIMA



EUA, 2009

Direção: Suzi Yoonessi

Vanessa Lemor, 13 anos, uma solitária Yup’ik, descendente de indígenas do Alasca, é abandonada pelo seu verdadeiro amor - o intelectual Philip Georgey, de 14 - e passa o verão obcecada com essa desilusão. Ela então conta os dias para começar o semestre na Nichols, uma rígida escola preparatória de Fairbanks, no Alasca, onde vive a família de Georgey. Recompensada com uma bolsa de estudos destinada a minorias, a nova vida de Vanessa é um pesadelo. Após um verão na França, Philip é elevado ao status de garoto popular, enquanto Vanessa é rebaixada ao grupo dos que não merecem reconhecimento. Para piorar a situação, ela é eleita capitã de uma nova equipe no Campeonato de Sobrevivência em Tempestades de Neve, evento que satiriza os tradicionais Jogos Olímpicos dos Esquimós. Vanessa, porém, acredita que a vitória nessa infame competição é a única maneira de recuperar o coração de Philip. Para isso, ela monta uma equipe de excluídos sociais da escola.

Um retrato interessante da bizarra e competitiva sociedade americana onde sempre prevalece a lei do mais forte, ou melhor, quase sempre. Participar do clube do rifle tudo bem, mas disputar as olimpíadas esquimó esta fora de cogitação. Vai entender. Micahel Moore explica rs. Um país que insiste em separar os cidadãos em populares x losers. Bonito filme sobre o que realmente importa nesta vida. Amizade, amor e compaixão. Vencer é legal, mas o que você ganha com isso? Status? Que eu saiba a 7 palmos ele não servirá para nada. Destaque para a atriz que interpreta a protagonista. Ótima.

Sessão 748 30/10 14:50 Frei Caneca 3
Sessão 937 31/10 17:30 Pompéia 2


quinta-feira, 29 de outubro de 2009

MAU DIA PARA PESCAR




Uruguai, Espanha, 2009
Direção: Alvaro Brechner

Jacob van Oppen, que um dia já foi conhecido como o homem mais forte da Terra, e Orsini, seu agente cínico e trapaceiro que se autointitula “o Príncipe”, viajam por cidadezinhas da América do Sul promovendo espetáculos de luta livre. Jacob é um gigante incontrolável de dimensões impressionantes que só se acalma ao ouvir a suave melodia de “Lili Marlene”. Quando eles chegam ao vilarejo de Santa María, na Argentina, são tão bem acolhidos pelo povo que Orsini resolve faturar mais lançando um desafio inesperado: mil dólares para aquele que resistir por três minutos no ringue contra Jacob. Um forte quitandeiro aceita o desafio, mas Orsini não tem o dinheiro para honrar a aposta. Jacob resistirá a esse “jovem gigante”? Baseado em um conto do escritor uruguaio Juan Carlos Onetti.

Se eu não tivesse alguns amigos uruguaios, diria pela cinematografia do país que trata-se de um povo muito triste. Podemos citar 2 exemplos de filmes melancólicos, com personagens que parecem estarem prontos para debulhar-se em lágrimas a qualquer momento: o excelente "Whisky" e o meio brasileiro meio uruguaio "O Banheiro do Papa". "Mau Dia para Pescar" não foge a regra. Talvez eles achem mais fácil tocar o coração do espectador desta maneira. Personagens melancólicos, piadas tristes, daquelas que você ri para não chorar, tudo sempre no limite. Mas isso não pode ser uma fórmula, tem que estar dentro do contexto. A história é tão bobinha, não tem anda de especial e não engrena, você fica na expectativa o filme todo de que alguma hora vá melhorar, mas não acontece. O diretor estava presente e o melhor da sessão foi sua revelação de que o título "Mau Dia Para Pescar", refere-se a uma expressão utilizada no Uruguai quando a seleção de futebol local perde, o que segundo suas próprias palavras, tem sido sempre hehehe. Seu nervosismo com a projeção fora de foco comoveu mais que o filme. Ele corria pra lá e pra cá indignado. Coitado. Mas o filme é ruinzinho.

Sessão 677 29/10 15:50 Unibanco 3
Sessão 912 31/10 21:50 Reserva Cultural

SHERAZADE, CONTE UMA HISTÓRIA



Egito, 2009
Direção: Yousry Nashallah

Hebba, uma apresentadora da TV egípcia, comanda um talk-show político de sucesso em uma emissora de TV privada. Karim, seu marido, é editor-assistente de um jornal estatal e tem a ambição de tornar-se editor-chefe. Ele é levado a crer pelos chefões da empresa que o envolvimento da esposa com a política da oposição pode pôr em perigo sua promoção. Consegue convencer Hebba a ficar longe da política e dedicar seu programa a questões sociais para os quais o governo não pode ser responsabilizado. Ela começa então uma série de talk-shows em torno de questões que envolvem mulheres. Ouve depoimentos de mulheres fortes que, como Sherazade em As Mil e Uma Noites, contam histórias para se manterem vivas. Aos poucos, Hebba se vê em um campo minado de abusos e repressão sexual, religiosa, social e política.

Belo filme sobre um tema polêmico e por incrível que pareça pouco explorado: A repressão que ainda existe contra as mulheres abertamente em tantos países, neste caso em especial, no Egito. Em pleno século 21 ainda temos países que desrespeitam e as tratam como seres inferiores. Felizmente existem as revoltadas que não aceitam tal situação e lutam por seus direitos, mas daí são perseguidas, tem que abandonar o país e por aí vai. Muito triste esta cultura machista que muitos países carregam. Espero que isso diminua cada vez mais até desaparecer daqui pelo menos umas 2 gerações. Belo roteiro, bem amarrado e com histórias que prendem sua atenção na tela. Necessário e urgente.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

LYMELIFE



EUA, 2008
Direção: Derick Martini

Scott Bartlett é um garoto de 15 anos desajeitado e sensível. Sua vida familiar está de cabeça para baixo depois que um surto da doença de Lyme atinge a comunidade, com a propagação da enfermidade e a paranoia geral. Mickey, o pai workaholic, e Brenda, a mãe superprotetora, estão à beira de um divórcio, enquanto o irmão mais velho Jim vai ser enviado para a guerra. Para complicar as coisas, Scott apaixona-se pela vizinha, Adrianna Bragg, que parece ser a única pessoa no mundo que o entende, provando-se igualmente problemática.

Sejamos sinceros, filmes como "Lymelife" existem as pencas. O filme é legal, os irmãos Culkin mandam bem e o resto do elenco também segura a onda. Mas o roteiro poderia ser um pouco mais original. Filmes sobre famílias bizarras com um toque de humor negro não faltam. Ta certo que fiquei um pouco comovido com o protagonista. Suas lágrimas escorrendo ao ouvirem os pais discutindo me remete a experiência bem similar de minha vida. Os pais são responsáveis pelos traumas que os filhos carregam, portanto senhores, muita responsabilidade na hora de criar seus pequenos ok. Da pra encaixar naquele buraco da programação, mas não espere nada demais. Ponto para a ótima trilha sonora regada a muito "Bad Company", que eu particularmente adoro. Mas isso é um gosto pessoal.

Sessão 626 28/10 20:20 Matilha Cultural
Sessão 627 29/10 12:00 Frei Caneca 1
Sessão 765 30/10 14:00 Cinema da Vila

INDEPENDÊNCIA



Filipinas, França, Alemanha, Holanda, 2009
Direção: Raya Martin

Filipinas, início do século XX. Os sons de guerra indicam a chegada dos americanos. Uma mãe idosa e seu filho fogem para as montanhas, esperando por uma vida tranquila. Um dia, o filho descobre uma mulher ferida no meio da floresta, e decide levá-la para casa. Passam-se os anos. O homem, a mulher resgatada e a criança vivem em total isolamento do caos crescente em todo o país. Mas uma tempestade logo ameaça suas rotinas, e as tropas americanas se aproximam.

É estranho? Cheio de metáforas? Cenas diferentes e bizarras? E ainda é PB? UAUUUUU. Pronto, os críticos adoraram. Eles e mais meia dúzia de gatos pingados, pois afinal, para eles quanto mais bizarro, fora do comum e inexplicável, melhor. Na verdade o filme é óbvio, mas utiliza-se de uma linguagem toda diferente. Na realidade não existe novidade alguma. Foi todo filmado em estúdio? Sim e daí? Von Trier ja fez isso hà muito tempo. Aaaaa, é todo pb e no fim vemos a cor? Ok, não é nenhuma novidade também. Alguém ai lembra da "Lista de Schindler"? Pois é. O diretor utilizou-se de uma linguagem metafórica e fantasiosa para representar as atrocidades cometidas pelos americanos na Filipinas. A fantasia e a arte talvez apazigue um pouco a violência. Achei o filme muito afetado, cheio de tiques de autor e seus filmes de arte. Em dado momento o filme simula o fim do rolo. Esta cena deve ter feito os críticos terem orgasmos. Não gostei, mas somente pelo fato da discussão que esta gerando, acredito que seja válido confêri-lo, nem que seja para criticar depois.

Sessão 550 28/10 16:20 Cinema da Vila
Sessão 906 31/10 21:10 Unibanco Augusta
Sessão 1075 02/11 15:20 Frei Caneca 2

terça-feira, 27 de outubro de 2009

AMANHÃ AO AMANHECER



França, 2009
Direção: Denis Dercourt

Paul, o caçula de dois irmãos, tem uma paixão por batalhas históricas que o isola da realidade. Após um pedido da mãe, Mathieu, o mais velho, tenta ajudá-lo a superar sua dependência desse mundo secreto e misterioso, onde as fronteiras entre realidade e representação se misturam. Para ajudar o irmão, Mathieu não tem outra escolha senão tornar-se parte desse mundo.

Onde acaba a fantasia e começa a realidade? Qual o limite? Que belo filme meus amigos. Meu primeiro 5 da Mostra com muito entusiasmo. Um tema aparentemente bobo, é tratado aqui com muita elegância e firmeza. A relação entre dois irmãos e suas vidas paralelas. E no meio disso tudo, o motivo do reencontro: A doença da mãe. Um filme sobre família e o amor incondicional que nos impulsiona. Tudo isso regado a uma batalha fantasiosa, mas que no fundo, não foge tanto da realidade. Dercourt acertou em cheio. O roteiro é excelente e os atores sensacionais. Entre eles, o ótimo Jérémie Renier, onipresente do cinema francês. Justamente. Maravilhoso.

Sessão 506 27/10 15:00 Faap
Sessão 629 29/10 13:50 Frei Caneca 1
Sessão 1147 02/11 20:10 Bourbon 10

IBRAHIM LABYAD



Egito, 2009
Direção: Marwan Hamed

Nos becos sombrios do Cairo, esconde-se um mundo subterrâneo que tem sido mantido em segredo desde o século passado, um mundo que só vem à tona quando alguma guerra de gangues é declarada. Por muito tempo, assassinos e bandidos têm controlado os abandonados bairros miseráveis do Egito, marcando seu território com derramamento de sangue e guerras com outros bandidos. Antes de armas e facões, eram usados lâminas de barbear e vidros quebrados. Em um lugar esquecido do resto da cidade, essas gangues são marcadas pela pobreza e pela crueldade. Divididas em duas grandes facções, elas têm tomado conta das ruas com suas próprias leis de sobrevivência. Baseado em uma história real.

Do mesmo diretor de "Edifíco Yacoubian, 2006" , que foi bem comentado na 30ª Mostra, chega "Ibrahim Labyad".
Trata-se de um filme de ação egípcio. Uma mistura de "Cidade de Deus" com "Quem Quer Ser um Milionário". Uma mistura bem ruim na verdade. Brigas de gangues, negócios escusos, muita pancadaria e muito sangue.
Atuações muito "over", exageradas que lembram o cinema de Bollywood com uma pitada de drama mexicano. Muito forçado. Roteiro ruim e um final... Terrível.
Para não dizer que nada se salva, ponto para a bela fotografia. E só.

Sessão 441 27/10 16:30 Frei Caneca 4
Sessão 546 28/10 18:00 Frei Caneca 5

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

33ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo


Começou. Então vamos ao balanço do primeiro fim de semana. Ainda tem muito por vir. Ainda não peguei nenhuma bomba. Ufa! Mas foi quase. Te vejo na sala escura. Destaque para "Todos os Outros" e "Elevador Armadilha".

ELEVADOR ARMADILHA



Japão, 2009
Direção: Keisuke Horibe

É noite. Três homens e uma mulher que não se conhecem ficam presos em um elevador. Conforme as horas passam e a ansiedade e a irritação deles aumentam, seus segredos começam a vir à tona. Na verdade, esse é o começo de um crime perfeito.

Personagens cômicos e ricos. Um roteiro excelente e super criativo. Junte tudo isso a uma bela pitada trash e temos o mais novo candidato a cult movie da temporada. Com uma homenagem ao suspense de Agatha Christie, "Elevador Armadilha" é uma trama muito bem feita com garantia de boas gargalhadas. Vale arriscar. É bom para relaxar depois de tantos filmes "cabeça" de pseudo-intelectuais.

Sessão 599 28/10 14:00 Bourbon 2

PARTIR



França, 2009

Direção: Catherine Corsini


Suzanne, uma mãe de família, é casada com um médico e mora no sul da França. A ociosidade da vida burguesa a cansa, e ela decide retomar seu trabalho como fisioterapeuta, que havia largado para cuidar dos filhos. Convence o marido a ajudá-la a instalar um consultório. No trabalho, conhece Ivan, responsável pelo site da empresa, e a atração é imediata, mútua e violenta. Suzanne decide deixar tudo para trás e viver essa paixão.

Não chega a ser uma bomba, mas é ruim. Uma pena que a excelente Kristin Scott Thomas, linda como nunca aqui, tenha aceitado participar deste filme. Deve ser amizade rs. O roteiro é muito ruim e do meio para o fim, degringola totalmente. Se fosse possível viver somente de amor, seria uma maravilha, mas a vida não é só isso, precisamos sobreviver e para sobreviver, precisamos de dinheiro. O romantismo acaba assim que você usa sua última nota. O filme todo é muito óbvio e a conclusão ... Terrível. E ainda tem a pachorra de usar a música de Kar-Wai.

Sessão 1310 04/11 21:00 Cinesesc
Sessão 1375 05/11 14:00 Cinema da Vila

COMO SER MR. KOTCHIE



Alemanha, 2009
Direção: Norbert Baumgarten


Pouco antes de seu 50º aniversário, Jürgen Kotschie entra em depressão e passa por uma profunda crise existencial. Sua vida atual é algo para se orgulhar: família, casa grande, bom trabalho. No entanto, Kotschie repentinamente questiona tudo. De alguma forma as coisas não funcionam mais. A insanidade da vida cotidiana é demais para ele. E pior, começa a decadência física: ganho de peso, surtos de transpiração, falta de ar. Kotschie passa então a prestar mais atenção em si. Mas os sonhos recorrentes com Carmen, seu antigo amor, não lhe deixam ver o presente com novos olhos. Contra a própria natureza, o herói se torna rebelde e tenta fugir.

Taí uma bela surpresa. Um homem na famigerada crise dos 50. A ansiedade toma conta de si, ele sua frio, tem taquicardias e de repente, parece que o mundo virou-se contra ele. A vida estável, a esposa dedicada e a família doriana ja não o satisfazem mais, não preenchem aquele vazio que tomou conta dele. Mr Kotchie vai então atrás de aventuras. Joga o celular fora e mete o pé na estrada para reencontrar um antigo amor. Chegando lá ... Bem, as crises são passageiras, do mesmo modo que chegam, partem. Normal. Um belo dia você acorda e parece que o Sol nasceu somente para você. Renovando-se diariamente, com direito é claro, a algumas crises. Somos humanos certo? Muito bom.

Sessão 366 26/10 16:30 Cinemateca Petrobrás
Sessão 540 28/10 15:50 Frei Caneca 4

À PROCURA DE ELLY



Irã, 2009
Direção: Asghar Farhadi

Depois de muitos anos vivendo na Alemanha, Ahmad volta ao Irã. Sua amiga Sepideh organiza uma viagem com ele e todos os amigos para passar três dias nas margens do mar Cáspio. Sem avisar o grupo, convida uma estranha, Elly, professora de sua filha em uma creche. Ahmad, que teve um casamento infeliz com uma alemã, quer unir-se a uma mulher iraniana. No segundo dia, quando tudo parece estar indo bem, um estranho incidente acontece e Elly desaparece. A atmosfera alegre e a harmonia se dissolvem, enquanto os amigos tentam descobrir o motivo do estranho desaparecimento. A família de Elly é contatada, mas nenhum dos familiares sabe de seu paradeiro. Os amigos entram em pânico e começam a culpar uns aos outros pelo desaparecimento de Elly.

Um thriller iraniano? Pois é, sei que não é comum, mas achei muito legal poder ver um filme do gênero vindo de um país que não detém esta tradição cinematográfica. O que era pra ser diversão vira tragédia. Um afogamento, uma tentativa de resgate e um desparecimento. Pronto, ta armada a bomba. As acusações, os questionamentos e a tensão gerada entre todos os personagens é muito interessante. A direção é boa, mas o final poderia ser menos óbvio.

Sessão 390 26/10 16:30 Cinesesc

TODOS OS OUTROS



Alemanha, 2009

Direção: Maren Ade

Chris e Gitti estão em um aparente idílio amoroso durante férias na Sardenha. Porém, em meio às brincadeiras, rituais íntimos e hábitos fúteis, esconde-se uma tensão. Cheia de entusiasmo, ela não teme expressar seu amor por Chris, enquanto ele é mais reservado em relação à exposição de sua vida pessoal e profissional, demonstrando certa insegurança. Numa tola tentativa de viver perigosamente, Chris começa a revelar seu gênio voluntarioso, querendo mostrar à namorada quem domina a relação. Com isso, a confiança que ela tinha por ele sofre um duro golpe. Gitti tenta se conformar com o novo comportamento de Chris, mas o que começara como uma experiência lúdica logo se transforma numa luta contra sua própria personalidade. Enquanto ele se afirma como o mais forte da relação, ela começa a perder a cabeça.

Um casal expõe suas incertezas, dúvidas, ansiedades e medos. Em um momento amor, no outro ódio. Um retrato sincero, crú e fidedigno da relação a dois. Ela diz: As vezes olho para as outras mulheres e penso que elas combinam muito mais com você do que comigo. Ela sempre passional e ele sempre contido, mas isso não quer dizer que ele a ame menos. Mais sincero impossível. O melhor que conferi neste fim de semana. Ótimo.

Sessão 521 27/10 19:40 Matilha Cultural
Sessão 1269 04/11 18:50 Frei Caneca 3

ALTIPLANO



Alemanha, Bélgica, Holanda, 2009
Direção: Peter Brosens e Jessica Woodworth

Grace, fotógrafa de guerra traumatizada após um violento incidente no Iraque, decide abandonar a carreira. Max, seu marido belga, é um cirurgião oftálmico que trabalha em uma clínica na Cordilheira dos Andes, no Peru. Perto dali, os camponeses de Turubamba estão morrendo de doenças causadas pelo vazamento de mercúrio da mina local. Uma das vítimas é o noivo da jovem Saturnina. Ignorando as verdadeiras causas da epidemia, os camponeses dirigem seu ódio contra os médicos estrangeiros, o que acaba em tragédia. Enquanto Grace empreende uma jornada rumo aos Andes, Saturnina adota medidas drásticas para protestar contra as eternas violências contra seu povo e sua terra. É quando seus destinos se cruzam por acaso. Seleção da Semana da Crítica do Festival de Cannes.

O filme é recheado de altos e baixos. O ritmo é bem lento, não que isso seja um problema, se o filme for bom é claro. Existem também muitas afetações do cinema de autor. Metáforas mil e diálogos enigmáticos. Destaque para a bela fotografia. Com a mesma atriz de "A Teta Assustada". Pode ser um bom tapa buraco, se não for a última sessão do dia e você não estiver com sono.

Sessão 660 29/10 16:50 - Cinemateca BNDES
Sessão 755 30/10 16:00 - Frei Caneca 4

ERVAS DANINHAS



França, 2009
Direção: Alain Resnais

Marguerite não podia prever que roubariam sua bolsa na saída da loja. Menos ainda que o ladrão jogaria as coisas que estavam dentro dela em um estacionamento. Quanto a Georges, se ele tivesse pensado duas vezes, não teria se abaixado para pegá-las

Resnais mais uma vez nos presenteia com um belo filme. Ta certo que é menor que o atual filme hà mais tempo em cartaz na cidade"Medos Privados em Lugares Públicos", mas ainda assim, um belo filme.
Um roubo e um encontro que desencandeia num amor às avessas, nonsense e surreal. Resnais mais uma vez brinca com o público e faz uma homenagem irônica as produções hollywoodianas.
Aliás, a ironia é uma das características do trabalho deste mestre de 87 anos! Meio blasé, mas é francês né rs. Participação sempre especial do ótimo Mathieu Amalric. Com o mesmo casal de protagonistas de "Medo Privados...". Diálogos cômicos sempre embalados por um belo jazz. Vale a pena.

Sessão 704 29/10 22:00 - Eldorado

AMREEKA



EUA, Canadá, Kuait, 2009
Direção: Cherien Dabis

Uma mulher palestina sempre otimista, mãe solteira, e seu filho adolescente chegam à pequena cidade do Illinois, com o objetivo de iniciar uma nova vida. Eles tem o que é preciso para sobreviver na nova cidade? Prêmio Fipresci na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes.

Belo retrato de uma mãe e um filho que saem da Palestina em busca de algo melhor na América. Todos os clichês do tema imigração estão presentes, mas isso não chega a incomodar muito pois a atriz principal é ótima e o roteiro segura bem a onda. Um filme agradável com belas canções. Se precisar tapar algum buraco na programação, "Amreeka" pode ser uma boa pedida.

MOTHER



Coréia do Sul, 2009
Direção: Boong Joon-Ho

Hye-ja é uma mãe solteira que vive com seu filho Do-joon, de 27 anos. Ele é a razão do seu viver. Apesar de adulto, Do-joon é ingênuo e dependente de sua mãe, e às vezes se comporta de maneira perigosa. Ele é uma constante fonte de ansiedade para todos. Um dia, uma jovem garota é encontrada morta em um prédio abandonado, e Do-joon é acusado de seu assassinato. Um advogado ineficiente e uma força policial apática fecham o caso muito rapidamente, o que leva sua mãe a agir por conta própria. Convocando todos os seus instintos maternais e sem confiar em ninguém, ela parte em uma busca frenética do assassino para provar a inocência do filho.

Do mesmo diretor do ótimo "O Hospedeiro" que fez muito sucesso no ano passado, chega "Mother" com muita expectativa devido ao sucesso do filme anterior.
O filme conta a história de uma mãe superprotetora que tenta provar a qualquer custo que seu filho é inocente de uma acusação de homicídio.
O roteiro é bom e os atores também estão bem. O filme guarda boas surpresas e não é tão óbvio como a sinopse sugere, afinal, toda mãe é cega até que se prove o contrário.
O filme melhora muito do meio para o fim. Aliás, a conclusão é linda. Fica ainda nas entrelinhas uma suposta relação incestuosa entre mãe e filho.

O filme faz lembrar ainda que de leve o ótimo "Brilho Eterno de Uma Mente sem Lembranças", na conclusão. Explico: A mãe em questão pratica acupuntura e ela conhece um meridiano que apaga as dores do coração. Alguém aí é acupunturista?

Sessão 614 28/10 21:30 - Cidade Jardim

Sessão 797 30/10 15:50 - Reserva Cultural


segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Bastardos Inglórios


EUA/Alemanha, 2009
Direção: Quentin Tarantino

Com o perdão da palavra: PUTA QUE O PARIU! QUE FILMAÇO! Me perdoem a exaltação, mas este último filme de Mr. Tarantino exige.

Tarantino acerta o ponto e mostra seu amadurecimento sem perder sua principal característica, ou seja, seu humor negro e ácido.

O tema tão batido e desgastado encontra frescor nas mãos deste grande mestre da Sétima Arte atual. Com "Bastardos Inglórios" ele assume sua posição de samurai no hall dos grandes diretores de todos os tempos. Quem mais poderia realizar uma comédia de humor negro sobre um tema tão delicado?

"Bastardos" conta a história de um grupo de soldados americanos judeus que criou fama espalhando o medo entre os nazistas do Terceiro Reich. Como? Fazendo justiça com as próprias mãos.

Temos então Brad Pitt no comando desta trupe. Impagável. Temos ainda Cristoph Waltz no papel do Coronel Landa onde sua simples aparição já desperta gargalhadas com sua intepretação "clownesca". Musas? O filme também tem. Destaque para a bela Mélanie Laurent, cuja personagem Shosanna sobreviveu ao massacre de sua família.

E o filme ainda consegue ser didático apresentando o grande mentor da super eficiente propaganda nazista, Joseph Goebbels.

Alguns dos conhecidos fetiches de Tarantino também marcam presença. Seu fetiche por pés, representado aqui pela cena que assemelha-se e muito a cena do sapatinho de cristal de Cinderela quando o Coronel Landa resolve descobrir a dona de um sapato perdido em uma carnificina e claro, a violência no seu mais alto teor sanguinário. Mas aqui é diferente, aqueles nazistas escrotos merecem tudo o que recebem.

Junte tudo isso à mão firme e direção precisa de Quentin. Um roteiro simplesmente sensacional, sem furos e obviedades. Os monstros nazistas, Hitler incluso, são mostrados de forma totalmente caricatural, o que achei perfeito.

Enfim, arrisco dizer que trata-se do melhor filme de Tarantino. Aqui ele manteve simplesmente a essência de seu cinema, sem apelar para atores esquecidos, trilha sonora perfeita e tampouco coreografias de lutas marciais ou homenagens a filmes B. E acredito que Tarantino ache o mesmo, porque a última fala de Brad Pitt é: Esta é minha obra-prima! Ou seja, uma fala totalmente verdadeira e sincera que refere-se no filme à cicatriz que Pitt deixou em Landa, mas na realidade, trata-se de Tarantino falando de "Bastardos".

Com certeza um dos melhores filmes dos últimos anos. Disparado. Longa vida a Mr. Tarantino. Sublime e imperdível! It´s a bingo!




Deixa Ela Entrar


Suécia, 2008
Direção: Tomas Alfredson

Esqueça todos os filmes que você já viu sobre vampiros. O tema que anda tão na moda novamente com "Crepúsculo", "Lua Nova" e "True Blood", ganhou um parceiro de peso. Na verdade, acredito que filmes de vampiro agora devam ser classificados como antes de "Deixe Ela Entrar" e depois. O filme é simplesmente sensacional e extremamente inovador.

A melhor coisa deste belo filme talvez esteja no fato dele não se ater as mortes e atrocidades cometidas pelas dentuços e sim na linda relação entre os pequenos protagonistas. Ele, um menino frágil e doce de 12 anos. Ela, uma vampirinha corajosa e forte e que aparenta a mesma idade do garoto, ao menos externamente.

A jovem vampira muda-se com seu pai para o mesmo prédio do garotinho. Nasce então uma amizade surpreendente que vira amor sincero e incondicional. Ela demora para revelar seu segredo ao garoto, que descobre a verdade por dedução.

É claro que existem algumas brechas na película, mas sempre fui da opinião de que nem tudo deva ser explicado. A interpretação vai de cada um e o filme encanta.

Ambos são solitários. Ele, filho de pais problemáticos e divorciados que consequentemente, interferiram na formação do garoto que é atormentado por colegas da escola. Ela, fadada à solidão por ser o que é e pelo fato de nunca poder parar muito tempo em uma mesma cidade. A química é imediata e um dá força ao outro.

Apesar do tema vampiro, o sangue que jorra e as mortes que acontecem passam longe de incomodar os olhos do espectador. Como disse um colega: Você torce para o vampiro!

Ta pensando como um filme de vampiro pode ser doce e inovador? Então não pense mais e confira antes que seja tarde este belo trabalho. Os protagonistas são ótimos. Ela é a vampirinha mais linda de todos os tempos. E olha que o diretor de arte e o maquiador sujaram bem sua aparência, mas o que importa aqui, é o que vem de dentro. A corajosa e triste vampirinha encontra no frágil e solitário garotinho, o amigo perfeito. E você, o melhor filme do gênero de todos os tempos, pelo menos de 30 anos para cá.