terça-feira, 20 de novembro de 2012

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Direção: Fernando Meirelles
Reino Unido/França/Áustria/Brasil, 2012

A mais recente empreitada de Meirelles no Cinema internacional é inspirada na clássica peça de Arthur Schnitzler, "La Ronde".

O filme apresenta a velha fórmula de histórias entrelaçadas  que em algum momento se cruzam. Apesar de ser falado em sete línguas e ter exigido uma bela produção, trata-se de um filme simples em sua composição.

Têmos o casal Jude Law e Rachel Weisz que perderam a velha paixão. Ela procura consolo nos braços

de um garanhão latino e ele, coitado, até quando tenta na maior insegurança pagar pelo calor de outra fêmea, fracassa. E claro que sobrou para o ótimo Juliano Cazarré o papel de amante latino. Taí o primeiro clichê de Meirelles. O coisa batida. 

Juliano namora Maria Flor, que ao saber que está sendo traída larga tudo e volta para a terrinha brasilis. Juliano pretendia se dar melhor na vida ao transar com Rachel, esperando que ela o ajudasse a conseguir melhores jobs como fotógrafo. 

Na viagem de volta Maria conhece Anthony Hopkins, um pai que procura há anos sua filha que desapareceu sem dar notícias. Conhece também Ben Foster, um ex-prisioneiro tarado. 


Aliás, essa história achei bem forçada em todos os sentidos. A psicóloga que libera Ben Foster para o convívio da sociedade e Maria Flor amargurada com a traição querendo dar para o primeiro cara de sua idade que lhe cruzar o caminho.


Achei forçada a maneira como foi apresentada na tela, mas sei que histórias assim são até comuns. A ideia só não foi bem escrita.

Assim como o casal russo que também ja não aguenta olhar mais um pra cara do outro. Ela apaixona-se pelo patrão, que corresponde, mas a falta de coragem de ambos para se declarar, coloca um fim na história antes de começar. Já o marido trabalha para um ladrão escroto e ao conhecer uma menina, (irmã da prostituta contratada por Jude Law no início do filme), resolve mudar sua vida. 

Trata-se de pessoas frágeis com os nervos a flor da pele que decidem seus destinos no mais puro ímpeto. À primeira vista é tudo muito lindo e romântico, ótimo para um filme, mas sabemos que dificilmente no dia seguinte, o ímpeto não se transformará em arrependimento. É aquela velha história de que a vida é muito curta e que devemos viver o presente. Concordo plenamente, mas também sei que dificilmente o romantismo perdurará após 24 horas, afinal, vocês nem se conhecem. E se por acaso der certo, comemore muito, você ganhou na loteria.

Minha maior crítica é com relação ao grande número de excelentes atores para serem tão pouco aproveitados. Fica tudo muito raso. Em histórias entrelaçadas, isso acontece 99% das vezes. Prefiro menos histórias e mais profundidade.





sexta-feira, 17 de agosto de 2012

À BEIRA DO CAMINHO

Brasil, 2012
Direção: Breno Silveira


Sensação de déjà'vu no ar. Pois é, o novo filme de Breno Silveira irá remeter aos cinéfilos várias obras passadas. Ele conta a história do caminhoneiro João, recluso na sua boléia e amargurado. Carrega um fardo do passado o qual não consegue se desprender. Sente-se culpado e a solidão da estrada torna-se sua punição.

Eis que surge no seu caminho um menino que busca pelo pai, uma vez que sua mãe morreu. E com o desenrolar da trama, os dois começam a perceber que nada é por acaso. Seus caminhos se cruzaram para que fosse dado um basta em suas dores. Clichê? Total. Previsível? Com certeza.

Lembrou-se de roteiros semelhantes? Citarei alguns. "Central do Brasil" e "Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo", pra ficar nos nacionais. Tem ainda o belo argentino "Las Acacias", cujo caminhoneiro tem um jeito de ser muito semelhante ao João de Breno Silveira. Ou seria o contrário? Enfim, o garotinho acaba sendo fundamental para João conseguir deixar o passado para trás, e este por sua vez, irá saber recompensá-lo da melhor maneira possível.
Como já foi dito, o filme é previsível e clichezão. E daí? Sua grande força está no elenco e na trilha sonora. O roteiro não apresenta nada de novo. Agora cá entre nós, juntar a força dramática deste baita ator que é João Miguel, embalado pela trilha sonora do Rei Roberto Carlos é covardia né. Vale pelos dois. Prepare o lenço.





sexta-feira, 13 de julho de 2012

PARA ROMA COM AMOR




EUA/ Espanha/ Itália, 2012
Direção: Woody Allen

Quem dá mais? Qual será a próxima cidade a receber o circo cinematográfico do mestre Woody Allen? Nenhuma cidade alemã foi agraciada, também, elas não possuem o mesmo charme das últimas locações. Tirando Londres, até filme amador de turista fica bonito enquadrando Barcelona, Paris e Roma. Acredito que em tempos de Copa e Olimpíadas no Brasil, o Rio de Janeiro seria uma bela opção  para a próxima aventura de Allen. Chegou a hora de explorar outros continentes. Buenos Aires então, seria perfeita, mas vamos falar de "Para Roma com Amor".

Para um cineasta tão produtivo, é normal alternar altos e baixos. Lembrando sempre que o "baixo" de Woody Allen é sinônimo de bom na grande maioria das vezes.

Após a inspiração parisisense que rendeu até indicação ao Oscar, "Para Roma com Amor" é sim um filme menor, mas ainda assim, delicioso. Com um elenco que mistura estrelas consagradas com estrelas contemporâneas, o diretor mais uma vez nos apresenta cenas do cotidiano com uma pitada folclórica do país em questão.

São quatro histórias que correm paralelamente. Têmos Roberto Benigni como um João ninguém que sem mais nem menos torna-se famoso. Uma clara crítica as celebridades instantâneas produzidas pela mídia. Do mesmo jeito que a fama vem, ela vai. Tem também o núcleo de Jesse "Facebook" Eisenberg e Ellen "Juno" Page. Nesta história Eisenberg é um jovem estudante americano de arquitetura que mora com sua namorada em Roma. A personagem de Page chega para visitar a amiga e logo, o personagem de Eisenberg vê-se totalmente apaixonado pela melhor amiga da namorada. Paixão fulminante, mas basta uma proposta de trabalho recebida pela personagem de Page para que todo amor de verão desemboque em decepção para o pobre estudante loucamente apaixonado. Bem que Alec Baldwin o alertou.

Em outro núcleo têmos a encantadora Penélope Cruz no papel de uma prostituta cômica e caricata. A história dela é bem fraca e vale apenas, por ela mesma. O melhor, Allen guardou para si mesmo é claro. Ele interpreta o pai de uma jovem que resolve se casar com um italiano idealista defensor dos pobres e oprimidos. O pai do jovem idealista é dono de uma funerária que solta a voz embaixo do chuveiro e Allen como empresário aposentado do ramo musical, enxerga ali a desculpa perfeita para voltar ao trabalho. Garantia de piadas cômicas e sarcásticas bem ao estilo do diretor que mais uma vez interpreta a si mesmo. O velho rabugento.

O filme pode não ser um primor, mas entrega o que promete. Diversão garantida e boas gargalhadas. Todas as histórias possuem além da comicidade, uma crítica ácida e escancarada. Nada de joguinhos subliminares. Despretensioso e inteligente. As vezes pastelão, as vezes surreal, mas sempre com a pegada que Allen tornou característica. Você bate o olho e fala: É Woody Allen. Destaque para o impagável Tenor no chuveiro.




segunda-feira, 9 de julho de 2012

SOMBRAS DA NOITE



EUA, 2012
Direção: Tim Burton

Sou fã de carteirinha de Tim Burton há tempos, principalmente das animações, mas também não babo o ovo para qualquer coisa que ele faça. Acho que têmos que ter um poder de crítica e saber distinguir o bom do ruim, mesmo quando se trata de alguém consagrado e venerado, afinal, ninguém está acima do bem e do mal.

"Sombras da Noite" apresenta mais do mesmo, em tratando-se de Tim Burton é claro. Todo seu universo bizarro e peculiar está na tela. Como sempre, cenários e figurinos são impecáveis, mas isso não basta. 

O filme conta a história de Barnabas Collins (Depp), que recebeu uma maldição da bruxa má Angelique (Eva Green) após esnobar seu amor. A bruxa o transformou em um vampiro e o trancou em uma tumba. Dois séculos depois o vampirão acordou nos loucos anos 70. A família rica e poderosa de outrora, vive agora na decadência. 

O elenco é recheado de estrelas, além de Eva Green e Depp, ainda tem Michelle Pfeiffer, Helena Bonham  Carter (mulher de Tim), Jonny Lee Miller e a excelente estrelinha em ascensão Chloe Moretz. Tantos bons atores no entanto não garante a qualidade de um filme. Sempre insisto que o roteiro é tudo e o de "Sombras da Noite" é bem fraco.

São muitos personagens e nenhum desenvolvimento para eles. Bom para Depp que brilha praticamente sozinho. Aliás, Depp é o melhor do filme. Nem a participação mais que especial de Mister Alice Cooper fez com que eu mudasse minha opinião.

Não é de hoje que sinto que Burton vem perdendo a mão. Também não curti a releitura de "Alice no País das Maravilhas", tampouco o musical "Sweeney Todd", que achei bem chato por sinal.  Mas aguardo com muita expectativa seu próximo projeto "Frankenweenie", uma animação sobre um garoto que ressuscita seu cão após um acidente. 

Expectativa porque acredito que Tim irá com "Frankenweenie", aproximar-se mais dos trabalhos de que realmente mais gosto dele: "O Estranho Mundo de Jack" e "A Noiva Cadáver". Isso nas animações, porque o homem ainda têm em sua filmografia filmes inesquecíveis e deliciosos como "Marte Ataca", "Os Fantasmas se Divertem" e os sensacionais "Ed Wood" e "Edward Mãos de Tesoura".

Adoro Burton, mas realmente seus últimos trabalhos me decepcionaram. Que venha o cachorrinho "Frankenweenie" para calar minha boca.







sábado, 30 de junho de 2012

A DELICADEZA DO AMOR



França, 2011
Direção: David Foenkinos e Stéphanie Foenkinos

A Delicadeza do Amor recebeu o aval de comédia romântica do ano. Assim fui introduzido ao filme em breves palavras. 

Confesso que não sou fã do gênero. Acho todas muita parecidas, com roteiros bobos e previsíveis, mas confesso também que vez em quando é bom ver algo mais "light" e sem grandes pretensões. 

Duas coisas me levaram a crer que A Delicadeza do Amor fugisse um pouco do estereótipo típico das comédias românticas habituais. A primeira foi o fato de ser um filme francês. Somente o fato de ser um filme europeu, já pode-se prever que apesar da universalidade do amor, o tema terá uma abordagem diferente. A segunda foi a presença da doce Audrey Tautou, a eterna Amélie Poulain, no papel da protagonista Nathalie.

Natahalie vive o momento perfeito. O casamento corre as mil maravilhas e sua vida profissional vai de vento em popa. Mas numa dessas peças pregadas pelo destino, de uma hora pra outra ela encontra-se viúva. Para tentar ocupar suas lembranças intermináveis, afunda-se no trabalho e por um tempo não quer saber de mais nada a não ser labutar.

No trabalho ela conhece Markus, um sueco desengonçado. Os dois nunca haviam se encontrado e após um ato impulsivo de Nathalie, mas sem grandes pretensões, a relação dos dois começa a desenrolar. Têmos então Eduardo e Mônica de Renato Russo materializados na tela. Não com as mesmas características é claro, mas antagônicos em todos os sentidos.

À primeira vista, o bordão foram feitos um para o outro, nunca serviria para classificá-los, mas os dois se entendem e o melhor, Markus faz um bem enorme para Nathalie, com toda sua estranheza e jeito peculiar de ser. Os amigos dela não entendem a relação e são preconceituosos. Nathalie dá de ombros e descobre que quem dizia-se melhor amigo(a), não merece mais tanta consideração de sua parte. Nessas horas descobrimos a verdadeira essência das pessoas. Antes tarde do que nunca.

Em tratando-se de comédia romântica, considero que seja muito difícil fugir de certos vícios e clichês do gênero. A Delicadeza do Amor não está livre disso. Também possui suas piadas bobas e previsíveis, mas o personagem de Markus encanta. E como todo filme francês que se preza, um pouco de drama nunca é demais. Boa diversão para quem quer assistir algo mais leve e dar algumas risadas ao lado de uma boa companhia, seja ela o seu oposto, ou não. O que importa é ser você.







sexta-feira, 8 de junho de 2012

MEDIANERAS


Espanha/Argentina/Alemanha, 2011
Direção: Gustavo Taretto

Medianeras foi muito comentado enquanto esteve em cartaz  na capital paulista. E olha que ficou bastante tempo. O recordista recente acredito que seja 2046, Os Segredos do Amor de Wong-Kar-Wai ou Medos Privados em Lugares Públicos. Ambos ficaram mais de ano no saudoso Belas Artes. Bom, mas isso não vem ao caso.

Cá entre nós cinéfilos: sabemos que o cinema argentino está anos-luz do tupiniquim, mas sinceramente, não entedi a razão de tanto auê para com Medianeras. Bom, talvez eu com meus trinta e poucos não tenha enxergado tanta beleza em seu roteiro um tanto juvenil. Nada contra, pelo contrário, adoro conhecer  novos diretores e artistas, mas Medianeras ficou longe de me cativar.

O filme conta a história de Martin, um rapaz deprimido por conta do fim de seu relacionamento que trabalha em casa fazendo webpages e consequentemente vive conectado 24 horas na internet. Do outro lado temos Mariana, uma arquiteta um tanto frustrada que vive de fazer vitrines, além de ser viciada em chats. Os dois são vizinhos e nunca se viram. Pois é, a fantasia um tanto forçada começa ai.

Um ponto legal é dissertar sobre os "zumbis" que as pessoas viraram em um mundo conectado 7/24. As relações tornaram-se superficiais e as pessoas vivem vidradas em seus smartphones. Talvez ter 1000 amigos no Facebook o torne popular no universo online, mas na vida real, o "velho" abraço fica restrito aos dedos de suas mãos e olha que já é bastante. Uma bela frase que Martin solta resume bem o mundo atual: "A internet me conectou ao mundo, mas me desconectou da vida." Não precisa dizer mais nada.

Um belo dia os dois se conhecem em um chat e começam a fantasiar um sobre o outro. A depressão de Martin desaparece e Mariana crê ter encontrado seu Wally. Isso mesmo, preste atenção no cartaz do filme. Ele foi inspirado naquele livro dos anos 90 que tanto sucesso fez, onde o objetivo era encontrar o personagem Wally. Uma besteira enorme que fez seu autor ganhar rios de dinheiro.

Moral da história: Seu grande amor pode estar no apartamento ao lado. A mensagem é legal e muito pertinente ao mundo atual, mas a maneira como foi abordada aqui, mostrou-se um pouco bobinha. O desfecho do filme também não ajuda muito, pelo contrário. Talvez se não tivesse forçado tanto a barra em achar um ator que fosse parecido com o personagem do livro e ainda por cima o caracterizar como tal na última cena, eu tivesse dado mais crédito para Medianeras. Infelizmente não foi o caso. Com certeza aproveitou-se da "buena onda" cinematográfica argentina, que já dura uns belos 10 anos no mínimo e o filminho simpático virou cult.

Bom, se você se identificou com algum dos protagonistas, siga o exemplo e faça o contrário. Desconecte-se da net e conecte-se a vida. O mundo real sempre será muito melhor e nenhuma tecnologia é capaz de lhe dar um abraço ou um beijo. Não troque o real pelo virtual, nem que seja para aliviar a dor. Nada substitue o prazer de sentir com as próprias mãos. Tem 1000 amigos online mas não acha ninguém para conversar e tomar uma cerveja pessoalmente? Talvez seja hora de repensar sua vida. Melhor um amigo de verdade do que mil em um mar de solidão.







quinta-feira, 10 de maio de 2012

UM MÉTODO PERIGOSO


Canadá/ReinoUnido/Alemanha/Suiça, 2011
Direção: David Cronenberg

Diretor consagrado de filmes clássicos e bizarros como "A Mosca", "Scanners" e "Crash", Cronenberg  nos leva ao universo dos dois maiores mestres da história da psicanálise: Carl Jung e Sigmund Freud, interpretados pelos ótimos Michael Fassbender e Viggo Mortensen.

Jung inicia um tratamento inovador na histérica Sabina (Keira Knightley), a cura através da palavra. Sabina possue distúrbios psicológicos consequentes da educação grotesca recebida pelo pai. Adulta, ela ainda sofre com as lembranças do tratamento recebido quando criança e cabe a Jung tentar curar seus males. Utilizando de seu método, o tratamento mostra-se eficaz. Ele só não esperava que o mesmo colocasse dúvidas em sua cabeça, a ponto de envolver-se emocionalmente com a paciente. Sabina por sua vez, tornou-se após curada, umas das primeiras mulheres psicanalistas da história.

25Jung sempre teve Freud como seu grande mestre e este acreditava fielmente que Jung seria seu seguidor e pupilo, o homem que levaria adiante suas teorias, porém, ao se conhecerem pessoalmente e discutirem o caso de Sabina, as diferenças de pensamento e crenças entre os dois começam a transparecer.
Freud era uma pessoa racional, já Jung, acreditava em outros fatores para a causa dos traumas pessoais que não condiziam com as teorias freudianas. Aliás, para Freud, a maioria dos problemas psicológicos estavam relacionados ao sexo. Jung vai além e nunca se satisfez com a simplicidade das respostas de Freud.

Mestre e discípulo então entram em conflito. Sabina mostra-se curada e Jung, perdido. A breve visita de Otto Gross (Vincent Cassel), à Jung é um dos melhores momentos do filme. Otto diz à Jung tudo o que ele queria e precisava ouvir e arrisco a dizer que ele teve mais influência sobre Jung do que o próprio Freud.
A dupla protagonista de atores dispensa comentários. São ótimos. A Sabina histérica de Keira soa um tanto exagerada, mas é a cara de Cronenberg. Não espere uma sessão de análise para buscar a origem de seus traumas, o filme aborda essencialmente os dois mestres, seus conflitos e problemas.

Cronenberg vem assumindo uma cinematografia mais palatável e saindo um pouco do mundo surreal de seus filmes mais antigos. "Marcas da Violência", "Senhores do Crime" e o ainda inédito "Cosmópolis" mostram bem essa transição. Mas ele ainda se mantém fiel a sua principal essência: Questionar e chocar. Croneneberg, nem mesmo Freud explica. Talvez Jung fosse mais bem sucedido para dissertar sobre sua obra. Segundo Jung, as vezes é preciso fazer algo imperdoável para conseguir continuar vivendo. Talvez ele esteja certo.

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quinta-feira, 12 de abril de 2012

PINA


Alemanha/França/Reino Unido, 2010
Direção: Wim Wenders

Na Mostra de Cinema de São Paulo do ano passado, eu e todo o público estávamos ansiosos para conferir o primeiro filme de arte em 3D, mas o filme em questão não era "Pina" e sim o excelente "Caverna dos Sonhos Esquecidos", coincidentemente, de outro mestre alemão da Sétima Arte, Werner Herzog. Mas o filme de Herzog é um documentário, então, podemos sim considerar "Pina" o primeiro filme de arte filmado em 3D.

Wim Wenders, era um grande amigo da coreógrafa alemã e sempre quis fazer um filme sobre sua obra, mas se via impossibilitado de transmitir ao público toda beleza do trabalho de Pina utilizando-se da tecnologia convencional. Realmente, você já tentou assistir dança ou teatro na tela? Dê uma zapeada e vá para a TV Sesc. Invariavelmente você irá deparar-se com alguma coreografia filmada, algo extremamente maçante e que não valoriza em nada o trabalho apresentado. Com o advento do 3D, Wenders finalmente criou coragem para apresentar o universo de Pina e quer saber: Ficou maravilhoso!

O filme intercala breves comentários dos dançarinos que trabalharam com Pina no grupo Tanztheater Wuppertal, com algumas de suas famosas coreografias teatrais. Isso mesmo, as coreografias de Pina eram e ainda são, extremamente teatrais e vigorosas. Se não fosse o 3D, nunca seria possível admirar o belo trabalho na tela. Sendo assim, parece que estamos dividindo o palco com os dançarinos, é possível apreciar cada detalhe, sentir a respiração e cansaço dos mesmos. Puro êxtase.

Filmado nos palcos e em cenários maravilhosos, Wenders nos mostra que o trabalho de Pina independe do local para ser apreciado. Ele é belo em qualquer circunstância, seja no tablado, na piscina ou até mesmo na rua entre os carros.

E o Brasil também está presente no filme. Seu grupo de dançarinos era formado por pessoas do mundo todo, e claro que têmos uma brasileira nele. O Brasil ainda aparece com a arte de OsGemeos grafitada nas paredes de uma estação de metrô embelezando uma coreografia e até uma apresentação embalada por "O Leãzinho" de Caetano Veloso. Tá certo que eles não devem saber o que ele está cantando, mas a melodia casou perfeitamente com a dança apresentada.

Aliás, com exceção de "O Leãozinho", a trilha sonora é um desbunde. Música instrumental contemporânea pensada nota por nota para embelezar ainda mais o filme.

Bom, trata-se realmente de uma obra de arte a altura desta artista maravilhosa que foi Pina Bausch. Uma bela homenagem que foge do convencional, assim como a artista retratada. Sem comparar com produções blockbuster hollywoodianas, este foi com certeza um dos mais belos filmes em 3D que já vi. Não importa se você gosta de dança ou não, Pina vai muito além.

Aproveito para deixar aqui dois conselhos que ela dava aos seus bailarinos:

1) Vocês precisam enlouquecer mais.
2) Dancem, dancem, senão, estaremos perdidos.





segunda-feira, 19 de março de 2012

A INVENÇÃO DE HUGO CABRET

EUA, 2011
Direção: Martin Scorsese

O mestre Scorsese presta uma emocionante e belíssima homenagem a Sétima Arte. Com pitadas autobiográficas (a história do garotinho Hugo é muito semelhante a de Martin), Scorsese conta a história do pioneiro e entusiasta dos efeitos especiais no Cinema Georges Méliès, interpretado aqui pelo ótimo e eterno Ghandi, Ben Kingsley.

Hugo é um jovem órfão que vive escondido após a morte do pai, em uma imponente estação de trem. Lá ele mantém o relógio da estação trabalhando e mantém também os velhos sonhos do pai, que lhe passou a paixão pelo cinema, além de tentar desvendar um mistério deixado pelo mesmo, onde acredita que haverá uma mensagem para ele quando finalmente desvendar o enigma.

Hugo é solitário e vive de pequenos furtos na própria estação para sobreviver, além de roubar peças para relógio de um velho comerciante. Numa dessas ele é pego e começa a trabalhar para ele, para não ser denunciado para o inspetor da estação, interpretado por Sasha Baron Cohen, aquele de "Borat".

Com o tempo, é revelado que o rabugento comerciante é nada mais nada meno que Georgés Méliès. E descobrimos o porque de tanta amargura.

Méliès estava na platéia que assistiu a primeira projeção de um filme na história feita pelos irmãos Lumière em 1895. O filme era simplesmente um trem chegando a estação, onde a platéia chegou a abaixar-se com a aproximação do trem na tela achando que seriam atingidos. Sem dúvida um momento mágico que despertou em Méliès paixão ao primeiro frame.

Após o episódio, foi atrás de uma câmara para chamar de sua e quando conseguiu, filmou sem parar e construiu o primeiro estúdio cinematográfico da Europa. Chegou a filmar mais de 500 filmes que divertiam adultos e crianças, sempre inventando novas técnicas e trucagens. Antes da paixão pelo cinema, Méliès era ilusionista e transpôs isso para a telona.

Um de seus maiores sucessos foi o famoso "Viagem à Lua". Mas daí veio a famigerada Guerra e seus filmes já não eram mais tão vistos. Ele foi caindo no ostracismo e esquecimento. Perdeu praticamente tudo e teve que vender seus filmes que foram transformados em matéria prima para fazer sapatos.

Durante muito tempo acreditou-se que nada havia restado para contar a história, nem mesmo Méliès que foi dado como morto após a Guerra, mas felizmente nem tudo se perdeu. Descobriu-se que ainda haviam filmes seus perdidos por aí, e após descobrirem que Méliès estava vivo, foi organizada uma grande festividade para exibição dos mesmos, resgatando assim, sua vida e obra.

Trata-se de uma linda homenagem ao Cinema feita por um mestre da arte. Arrisco dizer, que é o "Cinema Paradiso" americano. Quem aprecia a arte irá se emocionar com várias passagens.

O elenco é maravilhoso, as crianças estão perfeitas e Ben Kingsley dispensa comentários. Confesso que de início não gostei do personagem de Sasha Baron Cohen, mas com o tempo, até ele entra no contexto. Os cenários, figurinos, enfim, toda direção de arte é magistral e a direção de Martin impecável, aliás, o Oscar de direção cairia muito bem para ele.

Se você é apaixonado pelo Cinema, não pode perder este belo filme. E se tiver oportunidade, assista em 3D, pois ele foi feito para abusar da técnica e o que já é belo, torna-se mágico com os óculos.

Além do trailer, postarei aqui o filme "Viagem à Lua" (restaurado) de Méliès que inspirou esta obra-prima de Martin. Lindo!







segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

AS AVENTURAS DE TINTIM: O SEGREDO DO LICORNE


EUA/Nova Zelândia, 2011
Direção: Steven Spielberg

Após altos e baixos nos últimos anos (mais baixos na minha opinião), Spielberg retoma toda sua energia e genialidade para nos entregar esta fabulosa adaptação dos clássicos quadrinhos de Tintim, personagem criado por Hergé (falecido em 1983) em 1929.

Para a empreitada, Spielberg juntou-se à Peter Jackson (diretor da trilogia "Senhor dos Anèis"). Peter na produção e Spielberg na direção. Para a continuação, inverterão os papéis e ainda comenta-se que James Cameron, de "Avatar", será o diretor do terceiro filme. Mas enquanto a última informação não passa de especulação, a dupla Spielberg+Jackson é mais do que suficiente para encantar os fãs e também quem nunca teve contato com a obra de Hergé.

Confesso que até "Avatar", a tecnologia (Motion Capture) utilizada para realizar filmes e animações recentes nunca me agradou. Sempre achei falso e artificial. Sem vida. Embora Tintim não chegue a perfeição do blockbuster de James Cameron, o uso desta tecnologia foi muito bem empregada, apesar do olhar de peixe-morto de Tintim. As imagens são impressionantes e as fusões e passagens de uma cena para outra encantam e o 3D com certeza amplifica os sentidos.

Este primeiro filme é baseado em uma publicação de 1942 de um jornal belga que publicava as histórias de Hergé. O jovem repórter e viajante que dá nome ao personagem, tem no cãozinho Milu o companheiro ideal para suas aventuras. No filme, eles descobrem o paradeiro de um antigo navio (Licorne), que era dado como desaparecido e com a ajuda do capitão Haddock, vão atrás de seus tesouros. Para chegar até lá precisam desvendar alguns mistérios e enfrentar bandidões como Sackarine. Para tal ele também contará com a ajuda dos cômicos detetives Thomsom e Thompson.

Pois é, Spielberg volta a encantar com essa fiel adaptação de um clássico. Já estou ansioso pela continuação. Destaque para o bêbado e figuraça Capitão Haddock.