domingo, 16 de março de 2014

NEBRASKA


EUA, 2013
Direção: Alexander Payne

Você já ouviu falar da revista Seleções? Pois bem, se tem mais de 30 com certeza. Nem sei se ela ainda existe. Nos EUA é conhecida como "Reader´s Digest". Não sei se foi a pioneira, mas ela costumava mandar correspondências aos seus assinantes dizendo que haviam ganho um prêmio x. Hoje em dia esse tipo de marketing acontece muito na internet. 

Pois bem, Wood Grant recebeu a tal carta dizendo que ele ganhara 1 milhão de dólares e a partir de então, o objetivo de sua vida passou a ser ir até o Nebraska buscar seu prêmio. Apesar de todos alertarem que não passava de um golpe de marketing, Wood manteve-se fiel ao desejo de ir atrás do seu milhão.
Interpretado magistralmente pelo ótimo Bruce Dern, Wood é um velho rabugento que já não possui grandes perspectivas da vida e talvez por isso, nunca saberemos se ele realmente acreditava ser o mais novo milionário do pedaço ou se apenas buscava algo para se agarrar.

A esposa e os filhos tem certeza de que o velho tá avariando e tentam a todo custo demovê-lo da ideia de atravessar o país atrás de algo que não existe. Mas ele está convicto e em uma discussão com o filho mais novo, consegue convencê-lo a abandonar o trabalho por uma semana para levá-lo. Talvez durante a discussão, David o filho, tenha percebido que sua vida andava tão vazia quanto a do pai.
Durante a viagem muita coisa acontece. Trata-se de um road movie onde pai e filho se reaproximam, cada um à sua maneira. O filme passa longe de ser piegas. Emociona e diverte com classe. David programara uma parada na casa de sua tia no meio do caminho onde reencontraria velhos familiares. Wood odeia a ideia, mas aceita.
Lá, Wood espalha que tornou-se milionário e tá criada a confusão. Velhas dívidas vem à tona, pessoas se reaproximam, enfim, tudo que já sabemos da mesquinharia humana é exposta e explorada pelo diretor, que transforma tudo isso em humor negro. 

Filmado em preto e branco, Nebraska mostra que há muito tempo o império americano perdeu sua força. O filme vai fundo nas entranhas da classe média americana e suas vidas medíocres, estagnadas e acomodadas, esperando que seu milhão caía do céu. É exatamente isso o que Wood representa para sua horda de familiares: A salvação!

Roteiro excelente e atuações idem. A direção de Payne (Os Descendentes e Sideways) mantém mão firme por toda película e o epílogo ... não poderia ser melhor. Grande filme. Comédia de humor negro das melhores com uma bela mensagem embutida.


domingo, 23 de fevereiro de 2014

ELA


USA, 2013
Direção: Spike Jonze

Em um futuro não muito distante, o melancólico Theodore, curte a fossa da recente separação de sua esposa. Interpretado pelo excelente Joaquin Phoenix, que cai como uma luva nestes papéis, Theodore trabalha em uma empresa especializada em escrever cartas personalizadas. Primeiro triste indício de um futuro muito próximo causado pelo advento da internet.

Theodore é um homem com alma feminina e não assina os papéis do divórcio na esperança de que sua ex volte atrás. Tampouco consegue viver um relacionamento esporádico, muito menos praticar sexo casual. Com isso ele vai se fechando cada vez mais no seu próprio universo de tristeza e solidão, sem conseguir dar o próximo passo para sair desta situação.

Eis que surge Samantha. Atenciosa, prestativa, eficiente, divertida, super amiga e louca por ele. Perfeita? Sim, seria, se Samantha não fosse um sistema operacional. Sim, tipo Linux e Windows. Samantha é um sistema operacional que vai evoluindo com o tempo, ela só não contava com a possibilidade de sentimentos estarem inclusos no pacote desta evolução.

Uma bizarra relação desenvolve-se entre os dois. E o pior de tudo, é que neste triste novo mundo, nada soa absurdo. "Blade Runner" atualizado? Nãoooo. Jonze acerta em cheio quando desenvolve uma personagem da qual conhecemos apenas a voz. A imaginação do espectador é posta pra trabalhar e Samantha parece ser muito mais palpável e próxima do que o os andróides de Ridley Scott. No ápice da solidão, Theodore apaixona-se por ela e vice-versa. Também, que homem solitário e triste não se apaixonaria por um sistema operacional super avançado com a voz de Scarlett Johansson? 

Brincadeiras à parte, Jonze cria um futuro com ares proféticos. Os zumbis de celular são figuras comuns do nosso cotidiano. Namoros virtuais são uma realidade. Tudo está na nuvem, inclusive, as relações. Portanto, o futuro de Jonze não espanta nenhum pouco, mas que ele é triste, disso não resta dúvida. Triste e cada vez mais solitário patrocinado por grande corporações e por nós mesmos.

Belo roteiro e direção de arte impecável, aliás, o filme concorre a cinco Oscars: Filme, Trilha Sonora, Canção Original, Roteiro Original e Direção de Arte.