terça-feira, 28 de dezembro de 2010

A ORIGEM

EUA, 2010
Direção: Christopher Nolan

Filme do ano? Muito comentou-se sobre "A Origem", novo filme de Christopher Nolan, diretor responsável por filmes como o ótimo "Amnésia" e a nova fase do Homem Morcego Batman. Se lembrarmos de "Amnésia" podemos dizer que até existe uma certa semelhança com "A Origem", quero dizer, na confusão que é os dois filmes. O quebra-cabeça que você tem que estar montando constantemente e se perder uma mísera peça, esqueça, tem que começar do zero.

"A Origem" conta a história de um grupo capaz de penetrar nos sonhos das pessoas em prol de suas necessidades. Liderado por Cobb, interpretado pelo sempre ótimo Leonardo Di Caprio, o grupo ainda conta com Arthur (Joseph Gordon-Levitt de "500 Dias Com Ela") e Ariadne (Ellen Page de "Juno").

A missão da vez é entrar no inconsciente de Robert Fischer (Cilliam Murphy), herdeiro de um império e convencê-lo a vender parte da empresa. Tal missão é dada por Saito (Ken Watanabe de "O Último Samurai") que por sua vez resolve embarcar na viagem do inconsciente de Fisher.

Bem, realmente a ideia é sensacional. Nos sonhos, podemos fazer o que quisermos certo? Certo. Nolan foi no limite da piração ao escrever o roteiro. Tudo é possível, não existem limitações. Os cenários são fantásticos, as concepções mirabolantes e Ariadne se diverte arquitetando as cidades dos sonhos.

Não podemos nos esquecer da participação de Marion Cotillard (Piaf) como Mal, a mulher de Cobb que ficou no limbo. Aliás, um dos motivos de Cobb aceitar este trabalho é a possibilidade de poder ver o rosto de seus filhos mais uma vez. Aliás, o passado de Cobb é muito perigoso para a missão atual e ele pode por tudo a perder, inclusive arriscando a vida de sua trupe.

Sim, como disse antes, o filme é cheio de tramas e mensagens subliminares que conquistou uma legião de fãs nerds orfãos e ávidos pelo próximo "Matrix" ou "Lost". Teorias mil são discutidas na galáxia internética sobre este filme cheio de detalhes que exigem atenção total do espectador.

O filme é bom, mas sinceramente, está longe de ser tudo o que dizem, ao menos para mim é claro. "Matrix" foi uma revolução na época ao apresentar seu mundo paralelo. O mundo dos sonhos é fascinante, mas apesar da criatividade de Nolan, "A Origem", esta longe de ser revolucionário ou apresentar algo que ja não vimos.

Bom divertimento, principalmente se for no telão, fora dele, o filme perde muito de sua graça, talvez por isso não tenha me impressionado.

ps: Seu peão tá rodando?






Indicações ao Oscar: Filme/Direção de Arte/Fotografia/Trilha/Edição de Som/Mixagem de Som/Efeitos Visuais/Roteiro Original

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

GIGANTE

Direção: Adrián Biniez
Uruguai, 2009

Volta e meia, ainda que raramente, o cinema uruguaio ganha os holofotes. Foi assim com o ótimo "Whiskie". Embora menos badalado, "Gigante" chegou com ótimas recomendações.

O gigante do título é o segurança de um supermercado de dia e de uma balada punk a noite. Fã de heavy metal, o personagem possue uma doçura do seu tamanho. Um romântico a moda antiga que mostra que suas preferências musicais e aparência nada tem a ver com agressividade, pelo contrário.

Através das câmeras de segurança do mercado, gigante interessa-se por uma das funcionárias da limpeza, nascendo ali um amor platônico. Tímido, ele não consegue de imediato aproximar-se dela e através de seus "olhos" procura protegê-la das crueldades do chefe.

Gigante é um cara boa praça, bondoso e justo. Faz vista grossa para os pequenos furtos realizados pelos funcionários, quando estes roubam comida por exemplo, mas quando roubam algo fútil, chama a atenção.

A obsessão pela moça cresce e ele começa a segui-la e protegê-la também fora do ambiente de trabalho. Sem que ela saiba, gigante torna-se seu anjo da guarda. Até que um belo dia ele toma coragem.

"Gigante" nos reserva belos momentos, mostrando os "espasmos" de nossas individualidades, coisas que somente as paredes testemunham. Cenas simples e fortes. O personagem também não fala muito, mas nem precisa. Seus gestos valem por mil palavras.

Um roteiro inteligente e divertido que mostra a alma de um ser solitário. Consequentemente, têmos um belo filme.





COMO EU FESTEJEI O FIM DO MUNDO

Direção: Catalin Mitulescu
Romênia, 2006

Embalado pela boa onda do cinema romeno, "Como Eu Festejei o Fim do Mundo" não me encantou como seus primos "A Leste de Bucareste" e "4 Meses, 3 Semanas e 2 dias".

O filme aborda a vida na ditadura de Nicolae Ceausescu, mostrando a influência de seu governo ditador na população romena e mais especifiamente no caso do filme, focando diretamente em uma família onde dois irmãos são os protagonistas.

O pior de tudo é que como em todas as ditaduras, não se pode criticar. É necessário fingir devoção e amor as regras absurdas e mudanças exercidas pelo ditador. Pelos olhos de uma criança e atitudes de uma jovem, podemos entender um pouco do que é viver neste inferno. Planos para fugir do país dominam a cabeça de todos, fantasias sobre a morte de Ceausescu e a felicidade extrema quando ele é deposto.

Apesar de todo horror da ditadura, o cinema romeno tem uma queda, ainda que discreta, para a comédia, fazendo com que um filme que teria tudo para ser pesado, torne-se algo leve e até engraçado em certo momentos.

Simpático e bem intencionado, mas nada demais.

obs: a protagonista é a versão romena da atriz Maria Flor.





DUETO PARA UM

Texto: Tom Kempinski
Direção: Mika Lins
Com: Bel Kowarick e Marcos Suchara

O que você faria se de repente, de uma hora para outra, ficasse impossibilitado de exercer sua vocação? Aquilo que você ama, que estudou a vida inteira para transformar-se em referência no assunto. A única coisa que você sabe fazer?

Nesta excelente peça, uma violinista sofre de uma doença degenerativa que vai lhe tirando os movimentos dos músculos aos poucos. Consequentemente, ela não pode mais tocar. A maior violinista da Rússia não pode mais exercer sua paixão.

Para aprender a conviver com a situação, segue a sugestão do marido e inicia tratamento com um psiquiatra.

Toda peça acontece no consultório. Frustrações são reveladas, traumas de infância vem à tona, ainda que por vias tortas. O medo, o desejo do suícidio, a queda e a decepção amorosa diante de suas dificuldades.

Um trabalho de primeira dos atores, com cenas e diálogos emocionantes, que nos leva em poucos segundos, do riso as lágrimas.

Bem resolvido cenicamente, o cenário praticamente inexistente dá um show de versatilidade em conjunto com o ótimo jogo de luzes, mas a força da peça esta em seu roteiro e na grande atuação da dupla de atores.



AKIRA KUROSAWA - CRIANDO IMAGENS PARA O CINEMA

Incrivelmente ainda não conhecia o Instituto Tomie Ohtake e não haveria melhor oportunidade que esta para conhecer esse belo local.

2010 é o ano em que Kurosawa comemoraria 100 anos e para celebrar esta data, o Instituto em parceria com "A Mostra Internacional de São Paulo" realizou uma sensacional exposição com mais de 80 storyboards do mestre do cinema nipônico, que antes de cineasta, era artista plástico.

Seus storyboards são verdadeiras obras de arte. Pinceladas coloridas e fidedignas de cada quadro e frame que gostaria de ver na tela grande. Filmes como "Sonhos", "Rashomon" e "Ran", além de outros, são retratados em suas obras de arte.

Teruyo Nogami, que foi sua assistente de direção, veio ao Brasil para lançar o livro "À Espera do Tempo - Filmando com Kurosawa." Em uma das passagens do livro, Teruyo lembra que Kurosawa ao criar os storyboards queria eternizar os filmes ao menos no papel, já que nunca sabia se conseguiria patrocínio para filmá-los. Mais tarde começou a desenhá-los com a intenção de deixar algo para que os filhos pudessem usufruir. Uma vez que não havia herança, talvez os desenhos rendessem alguns trocados. Pois é, a rapadura é doce mas não é mole não.

Um programa sensacional para quem é fã do homem e para quem não conhece também. Os desenhos são lindos, psicodélicos e suuuper coloridos. E não requer nenhum pouco de conhecimento de sua obra. Se bem que, faça-me o favor né, se ainda não conhece, vá conhecer o trabalho maravilhoso do maior cineasta asiático de todos os tempos e um dos maiores do mundo.

Instituto Tomie Ohtake
Av. Faria Lima, 201 - entrada pela rua Coropés/Pinheiros
São Paulo
Terça a Domigo das 11h as 20h



quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

TROPA DE ELITE 2

Brasil, 2010
Direção: José Padilha

Ame ou odeie, "Tropa de Elite" é um fenômeno e a sequência conseguiu ser muito melhor que o primeiro, além de tornar o Capitão Nascimento o maior herói brasileiro de todos os tempos.

Nesta semana "Tropa" tornou-se o filme mais visto de todos os tempos, passando "Dona Flor e Seus Dois Maridos". Após 34 anos, o recorde finalmente é batido e vale lembrar que imaginava-se que esse dia nunca iria chegar, afinal de contas, em 1976 havia 50% MAIS salas de cinema que hoje, sem contar que não havia a concorrência ferrenha da tv, cabo, internet, dvd, videogame e pirataria. Realmente tem que tirar o chapéu.

Nesta sequência, Capitão Nascimento esta de cabelos brancos e não vai mais a campo para guerrear com os bandidos. Sua mulher o trocou por um defensor dos direitos humanos e seu filho acha que ele é um assassino. Agora ele faz parte do chamado "sistema" que corrompe a todos, menos o Capitão Nascimento.

Como o slogan do filme diz: "Desta vez o inimigo é outro." O inimigo são as milícias, ou seja, faturar com traficante não ta com nada, o negócio é faturar com a comunidade. A comunidade paga para não ser atacada por quem deveria protegê-la. E como todo brasileiro sabe, o lugar fede muito mais embaixo, ou seria melhor dizer, em cima?

A politicagem, a luta pelo poder a qualquer custo, a trairagem e bandidagem correm soltas. Os personagens são caricatos, mas representam fielmente a realidade. Infelizmente. O soldado Rocha que comanda todo o esquema chega a ser nojento e asqueroso. Parabéns ao ator Sandro Rocha que o interpreta. O personagem Fortunato lembra muito o Datena, se bem que, o Datena perto dele é um doce. Ou seja, todos os tubarões fazem parte de um esquema para conquistar poder, dinheiro e votos. Ninguém escapa da lente nervosa de Padilha. Do governador ao soldado que o representa em campo.

O filme é cheio de clichês, mas são bem trabalhados. Na mão de outro diretor, talvez o fato da ex-mulher de Nascimento casar com o humanitário Fraga soaria falso, pra não dizer ridículo. Sabe aquela história de respeitar seu inimigo mais do que o melhor amigo? Pois é. É isso que acontece entre Capitão Nascimento e o deputado Fraga. Mas como Padilha iria construir o conflito entre Bob pai e Bob filho se assim não fosse? Pois é.

O pior de tudo é saber que apesar de ser uma obra de ficção, como é ressaltado no início da película, toda aquela merda é verdade. Difícil acreditar, mas é. Para um gringo, de primeiro mundo, aquilo é inconcebível, mas para nós, é realidade. Só não podemos deixar que vire banalidade, não podemos nos acostumar com isso.

Um dia acreditei que o Brasil seria o país do futuro, mas sinceramente, não acredito mais não. Teria que começar tudo de novo. Do zero. De volta a colonização e torcer para que os holandeses nos descubram. E chega desse papinho de que o melhor do Brasil é o brasileiro. Balela! Temos muitas qualidades, mas enquanto a lei de Gerson imperar e não se dar a devida importância que a educação merece, nunca seremos o país do futuro. Que venha a Copa e as Olimpíadas para continuar a iludir os trouxas.





A REDE SOCIAL

EUA, 2010
Direção: David Fincher

A escolha de Fincher para contar a história do império Facebook e seu criador Mark Zuckerberg foi um tiro perfeito. Diretor de ótimos filmes como "O Clube da Luta" e "Seven", Fincher realiza um filme ágil, que entretém e envolve, além de muito bem dirigido.

O que um pé na bunda não faz ... Alguns sofrem por semanas e querem se matar, outros vão para a frente do computador e inventam uma maneira de ficar bilionário. Bem, na realidade não é bem assim, mas se você for um gênio indomável como Mark, talvez você consiga realizar 1/3 do que ele fez, se optar pela segunda opção é claro.

Ao levar um fora da namorada, Mark corre para o computador para se vingar e ao mesmo tempo em que bloga horrores sobre a ex, cria um site de comparação de garotas da faculdade, mais especificamente Harvard. O site entitulado de Facemash é um sucesso instantâneo internamente e obtém 20.000 acessos em 2 horas, fazendo com que a rede da faculdade venha abaixo.

Tal feito chama a atenção de todos, mas especialmente dos gêmeos Winklevoss que estão desenvolvendo uma rede social para Harvard e chamam Mark para ser o programador. Mark topa e torna a ideia dos gêmeos mil vezes melhor, e claro, apropria-se dela.

No diálogo inicial já percebe-se que Mark é um ser arrogante, como todo gênio deve ser, conversar com simples mortais pode ser um martírio, e se ele é arrogante com a namorada, imagine com os outros. Outra característica de Mark é a inveja. Ele inveja as pessoas que conseguem entrar na fraternidade Phoenix Club e inveja o físico dos praticantes de remo da faculdade. Os gêmeos além de ricos e poderosos, representam o time de remo de Harvard, que competiu pelo país nas Olimpíadas de Pequim. Ou seja, Mark construiu seu império movido basicamente pela vingança.

Outro personagem muito importante do filme é o brasileiro Eduardo Saverin, que teoricamente, era o melhor amigo de Mark. Ao desenvolver o site, Mark chama Eduardo para ser seu sócio. Eduardo é o investidor, o homem do dinheiro que irá ajudar Mark a tornar realidade aquilo que até então estava somente em sua cabeça. De início os dois vão muito bem, até Mark conhecer Sean Parker, o polêmico criador do Napster que mudou para sempre a indústria fonográfica. O filme mostra claramente que Sean é a única pessoa que Mark respeita e admira. Ele enxerga em Sean alguém mais próximo de sua realidade e compra todas suas ideias, fazendo com que Eduardo vire carta fora do baralho.

Resumindo, Mark é uma pessoa arrogante, invejosa e sem escrúpulos literalmente. Traiu seu melhor amigo, roubou a ideia dos gêmeos e expôs sua ex ao ridículo. Trata-se de um gênio, que ficou rico sem querer, pois dinheiro nunca foi seu objetivo final e sim vingar-se de tudo e de todos. Ficou rico, mas extremamente solitário.

Destaque para a soberba atuação de Jesse Eisenberg no papel principal. O slogan do filme não poderia ser melhor: "Ninguém conquista 500 milhões de amigos sem fazer alguns inimigos." Mark fez vários. E o mais louco de tudo é que é tudo verdade. Muito bom.






Indicações ao Oscar: Filme/Ator/Fotografia/Direção/Edição/Trilha/Mixagem de som/Roterio adaptado

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

APRENDIZ DE ALFAIATE

França, 2010
Direção: Louis Garrel

Não existe ator mais badalado e pop na França do que Louis Garrel. Mathieu Amalric? Excelente, mas Louis possue um charme todo especial. Não, não sou viado, mas não tenho problema algum em reconhecer as qualidades de um homem.

Louis Garrel, o eterno "François", nos oferece sua visão por trás das câmeras com o média-metragem "Aprendiz de Alfaiate".

O média filmado em PB, conta a história de Arthur, um aprendiz de alfaiate que trabalha no ateliê de Albert, um senhorzinho que pretende deixar o ateliê de herança para seu pupilo. Existe uma relação de pai e filho entre eles. Numa bela noite Arthur conhece Marie-Julie, pela qual apaixona-se fulminantemente. No princípio ela corresponde e Arthur chega a acreditar estar realmente amando. Mas Marie tinh um noivo e aquela paixão toda, não passava de fogo de palha. Para ela.

O papel parece ter sido escrito sob medida para Garrel, mas ele ta certo, ou dirige ou atua. O filme é um mosaico de referências de todos os filmes que Garrel atuou, principalmente dos filmes de Christophé Honoré, que sempre aborda as mazelas dos relacionamentos parisienses.

A paixão fulminante nos faz planar, levitar e fazer loucuras de supetão, mas a realidade costuma ser mais racional e costuma nos prender, para o bem ou para o mal. Filme delícia de se ver com destaque para a linda Léa Seydoux.





A NOITE QUE NOS DOMINA

EUA, 2010
Direção: Tanya Hamilton

Após a Bomba, estava mais tranqüilo com relação ao filme a seguir. Saberia que talvez não fosse um super filme, mas terrível também não poderia ser, pois tratava-se de um filme americano e diga o que quiser, mas este povo sabe fazer Cinema. Quer dizer que “American Pie” é bom então?! Claro que não amigo(a), mas na Mostra, não existem filmes do gênero.

“A Noite que nos Domina” trata de um período histórico dos EUA e mundial. Conta a história dos Panteras Negras alguns anos depois dos fatídicos confrontos.

Com o embasamento histórico como pano de fundo, o filme trata da relação entre Marcus e Patrícia. Após 4 anos Marcus retorna a sua cidade natal para o funeral do pai. Na cidade ele não é bem vindo, uma vez que todos acham que ele foi o responsável pela morte de um dos líderes dos Panteras ao delatá-lo. O taxam de dedo-duro, mas desconhecem os motivos que o levaram a fazer isso. Patricia por sua vez vive no passado e é paranóica. Ainda acredita ser alvo do FBI e sempre acha que está sendo espionada.

Contando com imagens de arquivo da época, homenagens a Malcom X e Martin Luther King e embalado pela ótima trilha do “The Roots”, o filme narra a luta de um povo pela igualdade social, mas tendo como mote principal a relação de Marcus e Patricia anos depois.

Existe a necessidade de lembrar do episódio, mas acima de tudo, de continuar a viver. É preciso continuar e deixar o passado para trás. O filme conta com alguns clichês dos filmes do gênero político e é previsível em alguns momentos, mas e daí? O filme é bom. Bom roteiro e ótimas atuações.