quinta-feira, 30 de junho de 2011

NINHO VAZIO

Argentina/Espanha/França/Itália, 2008
Direção: Daniel Burman

Daniel Burman mais uma vez foca sua lente nas relações familiares. Diretor de filmes como "Leis de Família" e "O Abraço Partido", a bola da vez em "Ninho Vazio" é justamente tratar desta famosa síndrome pela qual muitos passam. O título é auto explicativo e existem até grupos de terapia para auxiliar os marinheiros de primeira viagem.

Os filhos cresceram e saíram de casa, o casal já se encontra na meia idade e sem aquela paixão caliente que trouxe ao mundo os pimpolhos que ali já não mais estão. Que dureza. O que fazer agora? O casamento irá sobreviver? É preciso renovar. Para alguns pode ser uma tarefa fácil, para outros ...

No papel de pais abandonados têmos Leonardo (Oscar Martínez) e Martha (A bela Cecilia Roth). Martha parece estar lidando muito bem com a situação. Parece. Talvez para não pensar muito, ela promove festas a todo momento, volta para a Faculdade e até começa a flertar com um colega. Leonardo por sua vez, vive ranzinza e não altera sua rotina, a não ser por uma mocinha que aparece na trama, mas nada que vá muito adiante, serve para dar uma sacolejada. Mas o casal aparentemente, está fadado ao fracassso.

O roteiro e argumento são ótimos, mas na minha humilde opinião, não é o melhor trabalho de Burman. Em alguns momentos lembra mais o trabalho de outra hermana, Lucrecia Martel, que realiza um trabalho mais introspectivo, cheio de pequenos detalhes e lento, muito lento. Mas vale a reflexão, afinal, aborda uma situação corriqueira e que mais cedo mais tarde irá chegar para todos. Ou quase todos.





NAMORADOS PARA SEMPRE


EUA, 2010
Direção: Derek Cianfrance

- Você prefere o quarto "Flechada do Cupido" ou o "Futurista"?
- Não sei, não tô afim de ir.
- Vamos sair daqui, vamos ficar bêbados e transar a noite inteira. Precisamos sair daqui. Vou reservar o futurista.

Numa tentativa de salvar seu casamento e sua família, Dean faz a proposta acima para Cindy. Teria ele demorado muito para perceber que mudanças teriam que serem feitas para que o casamento sobrevivesse? Ainda dava tempo para isso?

Sinceramente, eu acho que nada do que ele fizesse salvaria seu casamento. Dean sempre foi um cara muito talentoso na música, cheio de sonhos, mas ao conhecer Cindy e apaixonar-se perdidamente por ela, ele simplesmente trocou de sonhos. Explico.

O sonho de Dean sempre passou longe da família "Doriana". Realmente não estava em seus planos formar uma família, mas o destino nos reserva algumas surpresas e de repente, tudo muda. Ao conhecer Cindy, ele vê seu mundo tomar um rumo totalmente diferente. Paixão à primeira vista e consequentemente, o início de tudo aquilo que ele rejeitou um dia. Têmos também a presença da pequena Frankie, filha de Cindy, mas que no filme, ficamos sem saber se Dean realmente era seu pai. Não importa, ele a ama como tal.

O que foi que aconteceu? Onde a relação se perdeu? Minha opinião é de que não aconteceu nada de errado com o casal. Simplesmente o tempo passou e os desejos de Cindy como mulher, mudaram muito, enquanto Dean estava feliz do jeito que tudo era e sempre foi. Ela sempre reclamava que tinha de cuidar de duas crianças e de que sua vida estava estagnada. Seu amor esfriou, simples assim.

Por outro lado, Dean não sabia o que fazer. Entendo ele, na maioria das vezes é muito difícil decifrar a mente feminina. Quando dizemos: Me diz o que eu tenho que fazer, é porque realmente estamos perdidos. Não utilzamos metáforas, somos claros e objetivos.

Cindy questionou por que ele abandonara seus sonhos e deixara seu talento adormecido, no que ele respondeu maravilhosamente de bate pronto: Por que você insiste nisso? Meu sonho é agora, isso que vivemos, acordar para trabalhar e voltar pra casa para ficar com você e Frankie. Isso é tudo que eu quero e o que eu mais amo. Sou feliz assim. Ele diz a verdade.

Cindy por sua vez não esta mais feliz. Ela quer crescer profissionalmente, conhecer gente, enfim, mudar tudo.

As pessoas não entendem que a felicidade é de cada um. Cindy não entendia e não se conformava de que Dean era feliz trabalhando em um emprego simplório, quando seu talento o permitiria muito mais. Não entendia como ele se conformava com aquela vida que ela já não aguentava mais. Ela queria um novo Dean e isso, já não era possível. Sim, Dean era muito feliz assim, mas ter que mudar sua personalidade forçadamente não iria adiantar nada. Não se muda um personalidade. Nem deve.

Lindo Filme. Uma montagem muito bem feita e uma dupla de atores inspiradíssimos. Ryan Gosling e Michelle Williams foram indicados ao Globo de Ouro e ela ainda recebeu a indicação ao Oscar pelo belo trabalho.

Uma única ressalva, mas não com relação ao filme e sim com os indivíduos responsáveis por rebatizarem as películas entrangeiras por aqui. O título original do filme é "Blue Valentine", que na tradução literal, seria algo como "Triste Namoro", mas por aqui o filme recebeu o título de "Namorados Para Sempre", e não por acaso, foi lançado as vésperas do dia dos namorados e vendido como o filme PERFEITO para celebrar o dia apaixonado.

O filme é bom e belo, mas está milhas de distância de ser o filme ideal para tal dia. Pelo contrário.





terça-feira, 21 de junho de 2011

VOCÊ VAI CONHECER O HOMEM DOS SEUS SONHOS


EUA/ESPANHA, 2010
Direção: Woody Allen


Alguém disse (não me lembro quem) que um filme mediano de Woody Allen é melhor que 90% dos filmes em cartaz. Assino embaixo.

O homem anda empolgado, produzindo sem parar. Bom para nós cinéfilos.

Comédia é sua especialidade e essa além de engraçada, é de um sarcasmo intenso, cheio de som e fúria, como diria Shakespeare citado com frequência na película.

Temos o casal Roy (Josh Brolin) e Sally (Naomi Watts), no centro da história, que já não aguentam olhar um para a cara do outro. Os pais de Sally interpretados por um excelente Anthony Hopkins e a ótima Gemma Jones e Antonio Banderas no papel de um dono de galeria de arte super bem sucedido. Que elenco. Completam a lista as belas Freida Pinto e Lucy Punch, esta última perfeita e ótima no papel de loira burra e vulgar. Tem também Roger Ashton no papel de suposto homem do título e a vidente Pauline Collins. O produtor de cast está de parabéns. Um elenco primoroso nas mãos do mestre que os dirige com perfeição.

Como disse anteriormente, o casamento de Josh e Sally esta fadado ao fim. Roy é um escritor de um livro só, fracassado e deprimido. Sally é uma galerista que apaixona-se pelo patrão. Roy apaixona-se pela vizinha. A mãe de Sally é abandonada pelo marido, que vira garotão e arruma uma mulher 40 anos mais nova. (Ja vi isso). Consequentemente, a mãe de Sally começa a consultar uma vidente e acredita e segue piamente tudo o que ela demanda.

O roteiro é muito bem tramado e os diálogos como sempre excelentes. Parece fácil para os atores trabalharem com Allen. Tudo flui perfeitamente e levemente. Trata-se de mais uma história do cotidiano, de gente como a gente e aí que entra o trunfo deste grande diretor. Tratar as mazelas da vida com muito humor. Neste caso específico, humor negro de primeira.

Quando tudo parece que vai melhorar, o inesperado ocorre e o que já era ruim, pode ficar ainda pior. Muito pior. Não é o melhor filme de Allen, mas como disse no início ...

Fique de olho na sequência do homem do título tentando contatar a falecida no além para pedir permissão para entrar em um novo relacionamento. Comédia pura.

Atores ótimos, roteiro muito bom e a direção de Allen. Diversão garantida.





quinta-feira, 16 de junho de 2011

CAINDO NA REAL

EUA, 1994
Direção: Ben Stiller
Zapeando nesta semana deparei-me com este filme. No elenco, a musa dos anos 90 Winona Ryder e o galã Ethan Hawke. Como gosto muito dos dois resolvi entrar no túnel do tempo e rever este filme que eu nem me lembrava mais. Outra atriz de que gosto bastante também esta no elenco. Trata-se de Janeane Garofalo, comediante de sucesso nos anos 90, mas que anda meio sumida. Tem também Ben Stiller, como ator e diretor, mas esse nunca me apeteceu.
Wynona é Lelaina, jovem recém formada que trabalha com tv e quer mudar o mundo. Hawke interpreta Troy, vagabundo assumido e romântico que recusa-se a entrar no sistema e só quer saber de tocar seu violão. Os dois são melhores amigos e vivem juntos com Vickie e Sammy.
Lelaina está produzindo um documentário sobre a vida deles, mas nada muito sério. Eles então divertem-se a valer. Na lista de itens dos anos 90 entram os yuppies, playboyzinhos executivos daqueles tempos, onde Ben Stiller interpreta um deles, a preocupação com a AIDS, que foi a doença mais temida dessa geração, ombreiras assombrosas e músicas saudosas escolhidas a dedo por Stiller.
O filme trata basicamente de amizade e sonhos de cada um. Suas angústias e desejos. Trata também de amor e do triângulo amoroso formado pelos protagonistas. Sabe aquela história de que melhores amigos não podem se envolver emocionalmente? Pois é. Lelaina ama Troy e vice-versa, mas ambos não assumem, principalmente Troy, que tenta fugir da relação. Eis que surge então Michael (Stiller), cara dedicado, trabalhador e gente boa. Até demais. Troy não gosta e ao sentir-se ameaçado, resolve abrir o coração.
O filme reserva alguns momentos engraçados e bons (poucos) diálogos, mas o roteiro é fraquinho, muito previsível e batido. Sinceramente, para quem não viveu os anos 90, o filme não atrai. Para mim ao menos foi legal para rever o talento e charme de Winona e Ethan no auge de suas carreiras e ouvir algumas pérolas do cancioneiro trash americano como "My Sharona". Comédia.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

HOMENS E DEUSES

França, 2010
Direção: Xavier Beauvois

Vencedor do Grande Prêmio do Júri em Cannes 2010, "Homens e Deuses" é um filme delicado e forte ao mesmo tempo, com atuações inspiradas e uma direção impecável de Xavier. O roteiro é outro grande destaque.
Roteiros sobre histórias reais costumam ser uma faca de dois gumes, uma vez que fica mais complicado dissertar sobre algo que já se conhece o desfecho, mas Beauvois conseguiu contar esta história verídica de maneira muito sucinta e bela, sem deixar de utilizar muito bem as artimanhas que somente a Sétima Arte é capaz de proporcionar e ao mesmo tempo mostrando a ignorância do bicho Homem baseada em leis supostamente "divinas".
Na década de 90, um grupo de monges franceses é enviado para a colônia Argélia afim de auxiliar os mais necessitados que sofrem com a miséria e terrorismo local. Já estão adaptados, vivem harmoniosamente com a comunidade e dispõem do único médico de toda vila (Luc), interpretado magistralmente por Michael Lonsdale. Lambert Wilson também está muito bem no papel de "voz" dos monges, aliás, todos estão ótimos.
O clima então começa a ficar pesado e viver naquela comunidade já não é seguro para estrangeiros, mesmo para servos de Deus. Terroristas assassinam à rodo e os monges correm risco de serem usados como moeda de troca a qualquer momento. O governo local tenta dialogar dizendo que o melhor a ser feito é que eles partam, tocam na ferida ao creditar toda podridão de seu país a colonização francesa e obrigam os monges a repensarem suas vidas.
Aflições e medos particulares de cada um vem à tona, mas todos chegam ao mesmo veredito que é a permanência no local, mesmo que esta decisão custe suas vidas.
A cena da ceia ao som de "Bolero" de Maurice Ravel, onde os monges desfrutam do vinho que Luc levou é uma das mais belas do Cinema atual. Um verdadeiro esplendor que prova que certas imagens valem muito mais que mil palavras. Sua intensidade emociona e leva as lágrimas.
Grande filme que prova que a religião é uma das piores coisas já inventadas pelo Homem.