quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Anticristo


Dinamarca/Alemanha/França/Suécia/Itália/Polônia, 2009
Direção: Lars Von Trier

Estava muito curioso para conferir o tãooooo polêmico novo filme de Von Trier. A crítica acabou ajudando muito o filme, creio eu, dando destaque para as imagens "chocantes" e deixou um pouco de lado o filme como um todo.

Então vamos lá. É um filme de terror? Não. O terror mostrado aqui é o terror psicológico, aquele que vai endoidecendo as pessoas e isso Von Trier faz muito bem. Tem sexo explícito? Bem, tem, mas não chega a incomodar. Do jeito que falaram parecia que tratava-se de um filme pornô. Aliás, essa hipocrisia me incomoda tremendamente. É sexo. Nada que todos não saibam e não conheçam, mas é só aparecer na tela para que todos achem um absurdo. A primeira reação dos incomodados é dar aquela risada sem graça seguida de um sonoro: NOOOOOSSAAAA. Tem ainda a famosa cena da mutilação vaginal, a masturbação que jorra sangue e outras "vontrierzices", mas digo e afirmo: A violência mostrada neste filme não tem nada de gratuita, pelo contrário, ela ajuda e muito a chegar perto da compreensão da película. Perto eu disse, pois em se tratando de Von Trier, nem tudo tem que ser explicado e na realidade, ele tá pouco se lixando se vão entender ou não, se gostaram ou não. Fale mal, mas falem de mim. Esse é o pai do Dogma. Esta errado? Acho que não.

Willem Dafoe e Charlotte Gainsbourg (premiada em Cannes) formam o casal que perdem o filho de forma trágica. A mulher entra em depressão e o homem, psicanalista que é, resolve ele mesmo tratar os problemas da esposa. Isolam-se então em uma casa na floresta do Éden, onde a mãe passara alguns de seus últimos momentos com o filho falecido. Ela sente-se culpada pela morte da criança e começa sua autopunição. O marido tenta curá-la através de um jogo psicológico, mas ao invés de curá-la, ele quem endoidece.

Ela se autopune, privando-se do prazer, pois no momento que seu filho morreu, eles transavam. Então na cabeça dela, o prazer deve lhe trazer sofrimento. Em dado momento, ela começa a punir o marido também, afinal de contas, ele foi seu cúmplice. Daí surgem as tão polêmicas cenas. Confesso que o corvo gritando no interior da árvore, quando ele tentava se esconder dela, me incomodou muito mais do que tais cenas. São chocantes sim, mas não estão lá por acaso.

O filme é dividido em capítulos como "O caos impera" e "os três mendigos". Os animais que aparecem estão lá para dividirem a vida da morte. Talvez eles sejam a maior "vontrierzice" neste filme e não as cenas sangrentas. Eu acho.

O cuidado visual que Von Trier teve com "Anticristo" me surpreendeu. Em tratando-se de um diretor que teve suas origens com o movimento Dogma, a importância dada para a fotografia mostrou-se muito oportuna, pois o filme escuro garante o clima que ele necessita. A bela e pertubadora cena inicial em um super slow motion mostra essa preocupação muito bem.

A única dúvida que ficou para mim é se ela já foi para o Éden com tudo planejado, ou melhor, se ao se culpar pela morte do filho, no fundo, ela esperava que aquilo acontecesse para se autopunir. Se a morte "acidental" do filho não foi uma ação premeditada sua. Não sei se era louca ou se ficou louca. O que sei, é que o filme é bom. O roteiro ótimo. Tem lá suas bizarrices e incomoda. Ainda bem, porque o pior sentimento que se pode ter depois de ver um filme é o vazio. E "Anticristo" provoca sensações extremas. Tão extremas que não existe meio termo com ele. Ou você gosta ou odeia. Eu gostei.

Von Trier pode ser esnobe, mas o homem sabe mexer com a cabeça das pessoas e faz um cinemão de qualidade. Com ele não tem filme besta e somos obrigados a pensar. Sempre. Adoro quando um filme não sai da minha cabeça. Um filme para pessoas fortes que não gostam de nada fácil e nem mastigado. E que saiba compreender o porque de tais cenas e não ache o fim do mundo uma cena de sexo entre um homem e sua mulher. O Brasil ainda é muito hipócrita. No carnaval ficam todos nús, mas basta aparecer um pinto duro na tela para que todos caiam matando. Vai entender.




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resmunga ai