sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Cada Um Com Seu Cinema



Em honra ao 60º aniversário do Festival de Cinema de Cannes, o presidente do festival, Gilles Jacob, convidou mais de trinta cineastas para fazer contribuições de três minutos a uma obra coletiva. O tema que os une nesse trabalho é, naturalmente, o amor ao cinema. A diversidade dos filmes prova que enquanto o entusiasmo pelo cinema é possivelmente universal, cada experiência cultural que advém dele – isso para não falar de cada espectador – é completamente única. O conjunto dos canônicos cineastas representa cinco continentes e 25 países. David Cronenberg atua em seu provocativo e deslocado At the Suicide of the Last Jew. Abbas Kiarostami fotografa o choro das mulheres ante à perspectiva trágica de Franco Zeffirelli em Romeu e Julieta (1968). A hilária autobiografia de Nanni Moretti Diary of a Moviegoer é uma lamúria sobre o estado do cinema. Electric Princess Picture House, de Hou Hsiao-hsien, lamenta o declínio dos dias de glória do cinema europeu, mostrando Mouchette, de Robert Bresson, exibido num cinema vazio. Tsai Ming-liang em It’s a Dream é igualmente nostálgico, ao lembrar dos filmes aos quais assistia em sua infância nos anos 70, na Malásia (nesse caso, com uma grande contribuição de cineastas asiáticos como Wong Kar-wai, Chen Kaige, Zhang Yimou e Takeshi Kitano). Em frente a um cinema brasileiro que exibe Os Incompreendidos (Les 400 Coups, 1959), de François Truffaut, o brasileiro Walter Salles cria uma paralisante performance musical com seu filme 8944 km from Cannes, cujo tema é o próprio festival. Theo Angelopoulos ainda consegue juntar Jeanne Moreau e Marcello Mastroianni em Three Minutes (a obra coletiva autoral é dedicada na verdade ao grande guru de Mastroianni, Federico Fellini). E a lista continua. Os nomes dos autores só são revelados após cada um dos curtas, permitindo que o espectador tente adivinhar qual cineasta está por trás de cada uma das contribuições. Ponto comum é que vários cineastas focaram na decadência de algumas salas de cinema que eles amaram desde a juventude. Como a experiência coletiva de estar no escuro com centenas de outros espectadores está dando lugar à solitária experiência de ficar na frente do computador, muitos lamentam o fim de uma era que os definiu, enquanto outros celebram as mudanças radicais que estão desvelando uma nova era.

Filme realizado sob encomenda para o Festival de Cannes. Como não gostar de um filme como esse? Ver os maiores cineastas do mundo apresentarem suas visões da sétima arte é simplesmente uma delícia. Uma linda homenagem a esta arte magnífica e apaixonante.

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