quinta-feira, 19 de junho de 2008

LUZ SILENCIOSA


México/França/Holanda, 2007
Direção: Carlos Reygadas

Típico diretor de Festivais, Reygadas, que teve seus três filmes lançados em Cannes, mostra uma grande evolução como diretor neste seu terceiro trabalho que ganhou o prêmio do júri no mesmo. Seus dois primeiros filmes são, "Japon" e o desastroso "Batalha no Céu".

"Luz Silenciosa" conta a história de Johan, pai de família com inúmeros filhos que vive em uma comunidade Menonita no México. A comunidade Menonita é muita fechada e possue um dialeto próximo do alemão muito peculiar. Seus integrantes levam uma vida voltada à religião e seguem à risca costumes que datam de centenas de anos. No entanto, aceitam alguns confortos da vida moderna como carros e energia elétrica.

O filme começa com uma das introduções mais lindas da atualidade cinematográfica. A câmera posicionada no horizonte, vai registrando o amanhecer em tempo real e a tal luz silenciosa se faz presente. Silenciosa e misteriosa. Quais os segredos que esta luz revelará? Ao final do filme, Reygadas faz o contrário. A luz vai desaparecendo até chegar o anoitecer e as primeiras estrelas. Uma fotografia e principalmente, uma luz maravilhosa. A abertura e a conclusão do filme, servem de moldura para este belo trabalho de Reygadas.

Logo na cena inicial da família tomando o café da manhã, pode-se sentir o incomôdo de Johan à mesa, que quando encontra-se sozinho, debulha-se em lágrimas angustiantes. Logo depois, descobrimos que ele possue uma amante. Talvez pelo fato de a comunidade aceitar alguns aspectos da modernidade, ele tenha se aventurado em um caso extraconjugal, mas sua dor é terrível pela traição à esposa e as suas próprias convicções. Ta formado o triâgulo amoroso mais doloroso dos últimos tempos. Sua esposa sabe da amante e não suporta a pressão. A amante por sua vez, resolve acabar com a relação e eles fazem amor pela última vez, um amor frio, sem emoção, talvez próprio da comunidade. Ela termina com a frase: "A paz é mais confortável que o amor." Aliás, o filme está repleto de poucos, mas grande diálogos, como por exemplo quando Johan pede conselhos ao pai : "Fale comigo como um pai e não como um Pastor!".

O filme é lento, mas é proposital, uma vez que os costumes menonitas se baseiam no século passado, não poderia ser diferente. A angústia de Johan, que é representado por um verdadeiro integrante da comunidade, é contagiante e o clímax chega com um castigo inesperado. Caímos no velho ditado de só valorizar as coisas quando as perdemos. Mas quem disse que a morte é eterna?

O filme de Reygadas foi muito bem pensado e cada minuto tem sua representação. Não existem vazios, apesar do ritmo lento. Eu sempre costumo dizer que não deve-se avaliar e julgar de imediato um filme que causa desconforto e estranheza. Um filme que faz você continuar pensando por dias após assisti-lo, é merecedor de elogios e o transe causado por "Luz Silenciosa" nos faz refletir a todo momento.

Difícil? Sim. Lento? Sim. Mas possuidor de uma Luz deslumbrante.



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