sexta-feira, 29 de outubro de 2010

MARIMBAS DO INFERNO


Guatemala/França/México, 2010
Direção: Julio Hernandez Cordon

Documentário e ficção caminhando juntos. Roteiro muito criativo. Embora pareça uma ficção, os personagens são verdadeiros e a história apresentada, é a vida real daqueles na tela.

Homem que toca marimba, típico instrumento da Guatemala que lembra um xilofone, encontra-se desempregado e sofrendo ameaças de gangues locais. Ele então procura ajuda com Chillo, um rapaz que o apresenta a um baterista de heavy metal, que também desempregado, faz bicos como médico substituto. Sem dúvidas, o personagem mais rico do filme.

Marimbeiro e metaleiro então resolvem fazer música juntos em um projeto fadado ao fracasso. Criam a esperança de que a novidade possa vir a melhorar a situação de suas vidas, mas com Chillo como produtor da banda, as coisas não poderiam caminhar bem.

Criativo e bem feito. Embora muitas das situações sejam engraçadas, a realidade é dura e triste. Bom filme.
29/10 - Frei Caneca 4 - 16h30
31/10 - Frei Caneca 6 - 22h20
03/11 - Cultura 1 - 18h50





HISTÓRIA DE KYOTO

Japão, 2010
Direção: Yoji Yamada

Com a colaboração de jovens cineastas, Yoji Yamada conta a história de um triângulo amoroso. O filme foi rodado na cidade cenográfica de Uzumasa, local onde foram filmados clássicos do cinema nipônico como "Rashomon", de Kurosawa.
Além do triângulo amoroso, o filme fala da tradição japonesa dos pais quererem que seus filhos toquem seus negócios. Essa parte que aborda a tradição, ou melhor, essa verdadeira obsessão oriental de que todo filho deve trabalhar com o pai, é contada através de depoimentos, como se fosse um documentário.
Na parte amorosa temos um candidato a comediante que namora uma bibliotecária. Eis que surge um professor que se apaixona loucamente pela bibliotecária, mas o amor não é um jogo de uma lado só, e não adianta nada o outro fazer de tudo, se a pessoa amada não corresponde.
O roteiro é muito bem tramado, os atores ótimos e direção idem. Ainda tem aquele resquício de comédia meio pastelão em alguns momentos que os japoneses adoram e o papel de palhaço aqui fica com o professor desajeitado e atrapalhado.
O filme é leve, divertido e delicioso. E ainda comove. Muito bonito.


29/10 - Cultura 1 - 20h40
30/10 - Pompéia 1 - 20h10
31/10 - Unibanco Augusta - 15h50

O HERDEIRO



Itália, 2010
Direção: Michael Zampino

É muito comum na Mostra escolher um filme somente para tampar um buraco até a atração principal, as vezes damos sorte, outras ...

O produtor do filme estava presente e disse que o filme apesar de italiano, era muito mais francês, uma vez que ele nasceu na França. Bem, não entendi muito bem o que ele quis dizer, mas uma coisa posso dizer, filme ruim não precisa de nacionalidade, tem em todo lugar, e de francês, o filme nada tem.

Trata-se de uma tentativa de terror psicológico. Homem descobre que seu pai lhe deixou uma casa de herança, casa essa que ele desconhecia. Ao conhecer o local, ele irá descobrir que aquele herança era uma verdadeira roubada. Uma família bizarra vive de favor no terreno da casa. A mulher diz que foi amante do pai dele e que seus filhos são irmãos bastardos do homem que recebeu a herança. A mulher, que parece uma bruxa e age como tal, exige que ele lhe venda a casa, lhe faz ameaças e utiliza a força e brutalidade do filho, que seria irmão do homem, para amedrontá-lo.

Roteiro péssimo. A única coisa que salva são as poucas risadas que o filho brutamonte, uma mistura de javali com ogro segundo a definição do herdeiro, proporciona e só. Só posso concluir uma coisa que já sabia há tempos: Temos que temer os vivos e não os mortos.
29/10 - Cultura 2 - 16h

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

DHARMA GUNS

França/Portugal, 2010
Direção: F.J Ossang

"Dharma Guns" é o filme mais recente de Ossang. Como havia acabado de conhecer seu trabalho, ficou mais fácil tentar compreender seu estilo.
Ossang é um diretor autoral. Não esta preocupado com grandes audiências e sim em tornar-se referência. Parece que conseguiu, afinal, uma das retrospectivas da mostra traz sete obras dele entre longas e curtas. Ele quer que você veja seus filmes e consiga identificar de imediato que aquela obra é de Ossang.
Nos dois filmes que conferi, aparecem elementos em comum como a utilização ao extremo do peep hole ou olho mágico se preferir. Os vários subtítulos, citações de textos e poesias, homenagem as artes plásticas e a música punk rock embalando a película. Junte tudo isso a ironia anárquica e surreal, que embora tente transparecer desorganizada, com certeza teve cada linha de seu roteiro pensada minunciosamente.
Em "Dharma Guns" ficou ainda mais fácil juntar todos estes elementos, uma vez que o protagonista sofre um acidente logo no início e permanece em coma durante todo o filme, o que proporciona a Ossang viajar literalmente neste mundo paralelo, na linha tênue entre a vida e a morte.
Neste mundo, as iniciais de Dharma Guns, D.G, é uma clara referência a Dolce Gabbana e pode ser entendido como uma crítica ao mundo consumista em que vivemos. Os zumbis representam a sociedade que venera marcas e futilidades.
Filmado em PB, "Dharma Guns" é mais um filme candidato a cult. Aqui não existem regras, quer dizer, trata-se do caos organizado que beira o filme B, com mensagens ácidas e bem humoradas criticando o mundo capitalista que o punk abomina. Mas ser punk é uma ideologia. Afinal, cuidar de um moicano dá trabalho. Vivienne Westwood que o diga. Até para parecer que você não liga para nada é preciso capricho. Ossang definitivamente é punk, pop e cult. Ame ou odeie, ele alcançou seu objetivo.

Bruno Santarenko

27/10 - CCSP - 20H50
29/10 - Cinesesc - 24h
02/11 - Mis - 19h40





DOCTOR CHANCE

França/Chile, 1997
Direção: F.J Ossang

Não conhecia o trabalho de Ossang. As referências eram ótimas e fiquei curioso, afinal, é sempre bom conhecer um novo diretor, uma nova visão, embora ele ja esteja na estrada a bastante tempo, nunca foi popular e nunca será, mas tornou-se um diretor cult. Dizem que "Doctor Chance" é cultuado.
Músico, poeta e punk, com influências dos quadrinhos, literatura e artes plásticas. Tudo isso chamou muito minha atenção e não poderia perder a oportunidade de conferir seus trabalhos.
Mas vamos ao filme. "Doctor Chance" é um tanto confuso. Muita informação, mensagens subliminares e referências mil. Angstel quer ser escritor, mas se envolve em uma transação de obras de arte que mais tarde descobriria serem falsas, pega o dinheiro para si e foge com Ancetta, uma prostituta pela qual é apaixonado. Confuso? Muito. O filme não segue uma linearidade, até ai normal, mas realmente fica muito difícil captar a mensagem, se é que existe alguma. Além de tudo o filme é muito escuro, o que o torna cansativo.
Baseado na biografia de Ossang, a única conclusão que pode-se chegar, é a de que ele levou a anarquia punk para a estética de sua obra.
Este primeiro trabalho que conferi realmente não me agradou, aliás, e nem a participação especial de Joe Strummer da extinta e clásica banda de punk rock The Clash, me fez mudar de opinião. Mas uma vez introduzido ao universo do diretor, poderia tentar entender melhor seu mais recente filme que conferi na sequência.

27/10 - CCSP - 18h
31/10 - Cine Olido - 20h



terça-feira, 26 de outubro de 2010

SONHOS DE DUAS PASSAGENS

EUA, 2010
Direção: Alistair Banks Griffin
Na primeira meia hora de filme tinha certeza de que seria minha primeira bomba, mas ainda bem que não desisti.
Dois irmãos vivem com a mãe no meio do mato, isolados de tudo e de todos, em seus próprios mundos. A mãe é visivelmente pertubada e consequentemente, os filhos não poderiam ser normais, embora o mais novo pareça ser o mais sensato de todos. Tudo isso é percebido apenas pelos seus atos, uma vez que praticamente não há diálogos.
O clima de mistério sobressai. O filme começa a envolver e a curiosidade toma conta do espectador. Com o falecimento da mãe, os irmãos iniciam uma jornada rio acima para realizar o último desejo dela e o filme vai ganhando força, criando corpo.
Os atores realizam um trabalho impressionante e vigoroso. Você se sente na pele deles naquela sofrida e cansativa peregrinação, uma verdadeira odisséia floresta e rio adentro, sofre e cansa junto com eles. A inveja que o irmão mais velho sente do mais novo é visível desde o início e o que parecia insinuação torna-se realidade.
Bela surpresa. Filme difícil, mas muito interessante.
01/11 - Frei Caneca 4 - 20h
02/11 - Cinesesc - 21h
03/11 - Unibanco Augusta - 22h20



TURNÊ

França, 2010
Direção: Mathieu Amalric

Ator francês do momento, diretor francês do momento. O talento de Amalric como ator é indiscutível, como diretor, ainda estamos descobrindo o que ele tem a oferecer. Mas parece que ele conquistou seu país, uma vez que ganhou o prêmio de direção em Cannes por "Turnê".

O filme conta a história de um ex-produtor de televisão, que após uma temporada na America, retorna a frança trazendo a tiracolo strippers americanas que executam um belo show. Não, não se trata de pornografia, trata-se de um show cheio de erotismo, sexy e criativo, as mulheres são as próprias pin ups. Tem a gordinha, a tatuada, a ruiva, a excêntrica, desfilando um belo figurino. Com esse show excursionam pela França.

Entre um show e outro vamos conhecendo melhor as personagens, seus problemas, aflições e medos. Realmente a direção é muito boa, mas o que chamou mesmo a atenção foi a bela fotografia com seu ar retrô, amarelado, próprio de cabaret.

Mas como costumam dizer, e eu concordo, se a fotografia chamou a atenção, é porque o filme não é la essas coisas. Pois é, não é mesmo, mas tenho certeza de que Amalric ainda vai tirar o coelho da cartola.



SOBRE SEU IRMÃO

Japão, 2010
Direção: Yoji Yamada

Tragicomédia japonesa, no melhor estilo humor inocente, sentimental e fofinho. Pois é, o cinema japonês costuma ser fofo e aparentar certa inocência nas suas piadas e brincadeiras. As vezes é açucarado demais e beira a comédia pastelão. Possui um ritmo diferente, um olhar diferente, próprio deles. Claro que não são todos, mas costuma ser oito/oitenta. É preciso estar acostumado e conhecer para não estranhar. Para ocidentais, as piadas podem não surtir muito efeito.

"Sobre Seu Irmão" , apresenta um tabu para a sociedade nipônica, são tantos né. Eu que o diga. Tendo pai japonês, sei bem como funciona a cabeça tradicional dos velhos japs. O filme conta a história do tal irmão mais novo, aquela ovelha negra que toda família têm. Só que o irmão mais novo em questão, tem 50 anos, não tem emprego fixo, tenta ser ator, não casou, não tem filhos e esta atolado em dívidas. Em uma sociedade que vive pressionando o cidadão, uma pessoa como essa é uma verdadeira aberração. Se não bastasse, ele não consegue se controlar em eventos sociais e sempre dá vexame com suas bebedeiras causando vergonha nos familiares.

Mas é preciso saber perdoar e embora a irmã dele jure de pé juntos que nunca mais quer vê-lo, ela sempre o ajuda, mesmo com a relação conturbada. Filme bonitinho, mas será que é preciso esperar a pessoa estar a beira da morte para perdoá-la? Sei não viu. As vezes esse povo é muito bizarro.

28/10 - Frei Caneca 2 - 17h10
03/11 - Cinemateca/BNDES - 19h40
04/11 - Cultura 1 - 15h40





POESIA

Coreia do Sul, 2010
Direção: Lee Chang-dong

Não há mais discussão, o cinema da Coreia do Sul é um dos mais poderosos e corajosos atualmente. "Poesia" não é excessão. Trata-se de um filme difícil. Como na maioria dos filmes atuais da Coreia do Sul, a mensagem nunca vem mastigada para o espectador, ela é sucinta e deixa para o público uma abertura que leva a uma infinidade de teorias. Gosto que seja assim.
Temos aqui uma atriz inspirada, com uma atuação forte. Delicada como a personagem, complexa como exige o roteiro. Sem dúvidas, o ponto forte da película.
A personagem é a própria poesia. Poesia essa que proporciona a ela, uma nova maneira de enxergar o mundo e seus pequenos detalhes, as coisas simples da vida. O quão contraditório é uma senhora que sofre de alzheimer querer aprender a escrever poesia? As palavras não vem, mas seus atos, a maneira como encara os problemas e a tentativa de resolvê-los, sem os questionamentos normais de uma sociedade antiquada, é a própria poesia.
O filme lembra outro coreano bem sucedido: "Mother". A família acima de tudo. O castigo é consequência, mas ao menos, ela fez o que estava ao seu alcance para poder descansar em paz. Bela direção. Atuação impecável.


segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A MOSQUITEIRA

Espanha, 2010
Direção: Agustí Vila

Opa opa, cheiro de bomba no ar. Mas péra lá, o filme faz pensar. Gosto de bizarrices que fazem pensar. No primeiro momento parece asqueroso, estranho e incomoda. Pessoas que não gostam de ver a realidade estampada na tela costumam rejeitar este tipo de filme, mas eu adoro, porque o incômodo fica visível no rosto das pessoas ao final da sessão.

Mosquiteira é aquela rede que serve para proteger a cama dos indesejáveis insetos, comum ainda em cidades do interior. Para o filme, talvez ela signifique um metáfora para a proteção dos personagens da película. Proteção temporária dos conceitos de certo e errado que a sociedade ao redor impõe.

Temos aqui uma família bizarra, difícil dizer qual o personagem menos transtornado. A única certeza que podemos tirar é que a base familiar é muito importante na formação do ser humano. A loucura não é genética, mas a convivência e a educação são fundamentais para o desenvolvimento do homo sapiens.

Uma ode a loucura, uma permissão temporária para se fazer o que quiser. A loucura, dentro da loucura, afinal de contas, de perto, ninguém é normal, ninguém. Mesmo que você se ache o ser mais centrado do mundo. A mãe da menininha também achava. Provocativo e eu gosto!

29/10 - Belas Artes - 18h20
30/10 - Cine Livraria Cultura 2 - 23h50