segunda-feira, 31 de outubro de 2011

LAS ACACIAS

Argentina, Espanha, 2010
Direção: Pablo Giorgelli

Primeiro longa de Pablo, "Las Acacias" arrebatou o prêmio Camera d'Or, para diretores estreantes em Cannes.

Rubén é um caminhoneiro solitário e amargurado que faz a viagem entre Assunção e Buenos Aires há trinta anos. Acostumado a viajar sozinho, a pedido de seu chefe ele dá carona para Jacinta e sua bebê de 5 meses.

Com poucos diálogos, no início Rubén estranha a companhia e não demonstra nenhuma simpatia pelo pedido do chefe, mas aos poucos, o que era incômodo torna-se prazeroso e esta viagem tem tudo para ser a mais marcante de sua vida.

Pequenos gestos nas atitudes de Rubén, revelam aos poucos que aquele homem misterioso e com cara de poucos amigos é possuidor de um enorme coração. A pequena Anahí, filha de Jacinta é outro destaque. Pablo foi abençoado pelos deuses do cinema ao conseguir captar sua espontaneidade e pureza em cenas muito marcantes. Um pequeno sorriso, um espirro e a interação crescente entre Rubén e Anahí. Com o passar do tempo vamos conhecendo melhor estes personagens singelos e nos afeiçoando a eles.

A tristeza de seu passado e arrependimento por não ter participado como gostaria do crescimento de seu filho, mas o destino é inexplicável e de uma hora pra outra, tudo pode mudar. Rubém tem merecidamente sua segunda chance.

Que bela estreia de Pablo. Um lindo e delicado filme que não deixa dúvidas de que menos é mais. Definitivamente. A escola Argentina mais uma vez dando show de cinema.







Programe-se:
01/11 - Cine Livraria Cultura 1 - 14h

UMA NUVEM

Itália, 2011
Direção: Saverio Di Biagio

Diego e Cinzia são noivos há dez anos e finalmente o casamento foi marcado. Diego é um simples pedreiro e leva uma vida humilde. Quando seu chefe lhe indica para reformar a casa de sua sobrinha Viola, uma jovem rica e com uma vida totalmente diferente da sua, seu coração balança perante a bela moça e as dúvidas pipocam perante o compromisso assumido.

Tema bastante recorrente no cinema, o homem em dúvida sobre a necessidade do matrimônio e a noiva super empolgada é lugar comum, só muda o endereço, mas quando bem filmado, não tem como não entreter.

Roteiro básico, mas super bem feito sobre as divergências e atitudes de homem e mulher quando se trata de casamento. Não vale a pena sair de casa somente para vê-lo, mas como encaixe entre uma sessão e outra, serve como um ótimo aperitivo.





Programe-se:
02/11 - Cinemateca - 14h

domingo, 30 de outubro de 2011

LOW LIFE

França, 2011
Direção: Nicolas Klotz e Elisabeth Perceval

A questão imigratória na Europa é tema constante de recentes filmes europeus. Não existe assunto mais atual do que este no velho continente, ainda mais na França, um país totalemente mestiço já faz um belo tempo. Mas pelo que vêmos nos noticiários e filmes, a bomba imigratória já eclodiu e seus governantes e população, não fazem ideia de como manejar a situação.

Klotz é diretor do excelente "A Questão Humana" e por isso "Low Life" entrou na minha lista. O filme fala de jovens com seus vinte e poucos anos vivendo no limiar da recém entrada na vida adulta e sua realidade. Dividem seus dias entre festanças e protestos.

A primeira parte do filme é um pouco cansativa, mas quando foca no problema imigratório do poeta afegão Hussain, a película cresce muito. Azar das várias pessoas que não aguentaram esperar. E foram muitas.

Delicado, verdadeiro e necessário. Um tanto filosófico em dados momentos, mas uma porrada no estômago da sociedade francesa. A tal Igualdade, Liberdade e Fraternidade, definitivamente parece ter ficado no passado.





Programe-se:
01/11 - Unibanco Pompéia - 19h20
02/11 - Unibanco Pompéia - 16h10
03/11 - Frei Caneca 3 - 14h

KAIDAN HORROR CLASSICS

Japão, 2010
Direção: Masayuki Ochiai, Shinya Tsukamoto, Sang-Il Lee e Hirokazu Kore-Eda

Estava super ansioso para conferir "Kaidan" e talvez por isso tenha me decepcionado tanto. Achava que iria me divertir horrores, com o perdão do trocadilho, pois poder conferir quatro histórias de terror japonês no telão durante a Mostra parecia ser algo muito bacana. A ansiedade tornou-se ainda maior quando descobri que um dos diretores é Kore-Eda, de filmes que adorei como "Depois da Vida", "Ninguém Pode Saber" e "Air Doll".

Os quatro diretores adaptaram histórias de autores da literatura nipônica, entre eles, o mestre Yasunari Kawabata de clássicos como "A Casa das Belas Adormecidas". Parecia então ser um programaço para um Sábado a noite. Só parecia.

Não existe horror nas histórias. Não tem nem um sustinho, nada horripilante, a não ser o nariz de quinze centímetros do protagonista da segunda história. São contos surreais e fantásticos, mas não assustadores como promete a maldita sinopse.

A primeira história é sobre um homem obcecado pelo braço de uma jovem que o pede emprestado por uma noite. A segunda é sobre um monge narigudo que fugiu de sua terra natal por conta do preconceito que sofria devido sua anomalia. A terceira sobre duas irmãs, que está muito mais para um drama emocional do que um conto de terror e a última, de Kore-Eda, a melhorzinha, é sobre um casal que recebe visitas de seu filho morto.

Se não bastasse, as histórias são longas, com mais de 40 minutos cada. Se ainda fossem boas ... De horropilante mesmo, só o casal de nipônicas roncando ao meu lado. Infelizmente, uma decepção.

(Pelo episódio de Kore-Eda)



Programe-se:
31/10 - Cine Livraria Cultura 2 - 16h
01/11 - Cinemateca - 17h40

ELENA

Rússia, 2011
Direção: Andrey Zvyagintsev

Além de ter participado do filme coletivo "Nova York, Eu te Amo", Andrey ganhou o Leão de Ouro em Veneza em 2003 pelo filme "O Retorno".

"Elena" é um filme forte, com um roteiro excelente, muito bem costurado e atuações idem. Personagens fortes e poderosos.

Elena e Vladimir formam o casal protagonista da história. Ambos ja tiveram relações anteriores e vivem juntos há 10 anos. Elena é doce e prestativa, uma verdadeira Amélia de origem modesta. Ex-enfermeira, conheceu Vladimir no hospital quando esteve internado. Frio, calculista e milionário.

Elena têm um filho vagabundo que não dá conta de sustentar a família e vive pedindo dinheiro pra mãe. Vladimir tem uma filha desnaturada que mantém uma relação afastada dele. Elena não se importa com o comportamento imaturo e irresponsável de seu filho, quer dizer, até se importa, mas faz tudo que ele pede de maneira que o rebento sempre aguarda a solução para seus problemas sem mover uma palha. Um verdadeiro parasita.

Após sofrer um ataque cardíaco, Vladimir tenta uma reaproximação com Katya, sua filha. Este reencontro que acontece no leito do hospital é um dos melhores momentos do filme. Após a conversa sincera entre pai e filha, Vladimir toma uma decisão que não agrada Elena, que contava com sua ajuda mais uma vez para solucionar um problema de seu neto. A doce Elena mostra então suas garras. Definitivamente, o mundo está longe de ser justo.

Dizer não para uma mãe cega e falar verdades sobre sua prole pode ser muito perigoso. Filmaço embalado pela maravilhosa trilha do mestre Philip Glass.







Programe-se
31/10 - Cinemateca - 17h10

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

CISNE

Portugal, 2011
Direção: Teresa Villaverde

Depois do sul veio o cisne e valeu a pena enfrentar o atraso, a fome e a geladeira que é a sala do Reserva Cultural.

Teresa Villaverde é uma veterana da Mostra e após um estreante decepcionante, nada como uma veterana pra salvar a noite.

O filme me agradou muito. Ele gira em torno de Vera, uma cantora que esta encerrando uma série de concertos em Lisboa. Toda vez que visita uma nova cidade com seu show,ela pede para fãs responderem um questionário, onde a partir dele, escolherá sua companhia para sua estada na cidade. Em Lisboa o escolhido foi Pablo, jovem órfão que atraiu a atenção de Vera através de suas respostas.

Pablo vira então o cicerone de Vera em Lisboa. Percorrem a cidade a esmo e vivem momentos lindos embalados por algumas canções de Chico Buarque. Não pense porém que trata-se de um romance. A relação entre Vera e Pablo é maternal. O amor de Vera é Sam. Um homem um tanto bizarro, mas como o amor é cego ... A relação dos dois só funciona a distância, através de cartas e cara a cara o negócio degringola.

Pablo por sua vez, pela sua condição de órfão, é o protetor de alguns garotos de rua. Um destes comete um ato terrível e a partir desse episódio a relação entre Vera e Pablo que era pra ser passageira, torna-se eterna.

Um filme delicado, estranho em dados momentos, mas que supera os momentos estranhos com seus diálogos requintados, poesia e bela música com o delicioso sotaque português. Três vidas perdidas que encontram amparo uma na outra.

Pablo: Vera, o que acontece? Seu olho esquerdo está sangrando!
Vera: É normal, acontece toda vez que estou contente.







Programe-se:
28/10 - Frei Caneca 4 - 23h20
28/10 - Cine Olido - 18h30
30/10 - Cine Livraria Cultura 1 - 19h30
03/11 - Cinemateca - Sala BNDES - 17H40

DEPOIS DO SUL

França, 2011
Direção: Jean-Jacques Jauffret

Os filmes da categoria "competição" da Mostra, é dedicada exclusivamente a cineastas que estejam no máximo em seu segundo longa, ou seja, é uma faca de dois gumes. Eu particularmente costumo e gosto de arriscar no novo. Já vi primeiros filmes ótimos e primeiros filmes terríveis. Infelizmente, "Depois do Sul" encaixa-se na segunda opção.

Um filme cheio de tiques e vícios do cinema de arte, a começar pela montagem nada original e manjada do tempo não linear.

O filme apresenta 4 personagens, Amélie e sua mãe, Luigi, namorado italiano de Amélie e um velho aposentado calado e infeliz. Daí o diretor usa as viagens no tempo para apresentar a mesma cena focada nos diferentes personagens para mostrar como a história entre eles se relaciona. Mais um vício do Cinema de arte. Se fosse bom vá la, mas aqui deixou muito a desejar.

O roteiro é forçado e atuações idem. O diretor tenta surpreender, mas seu filme derrapa na mesmice de tentar fazer algo aparentemente despretensioso que na realidade foi milimetricamente pensado. O tiro saiu pela culatra e tudo é muito previsível e fraco.

Uma dica: esqueça a sinopse do Guia da Folha dedicado à Mostra. Vá pela sinopse do site ou do catálogo que costumam ser menos errôneas.

Para quem não possui uma bagagem cinematográfica o filme pode até ser interessante, mas para o público da Mostra é um desperdício, mediante inúmeras fitas a serem descobertas.




Programe-se:
28/10 - Cine Sabesp - 23h
30/10 - Frei Caneca 1 - 21h50
03/11 - Cine Livraria Cultura 2 - 19h30

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

ANGÈLE E TONY

França, 2010
Direção: Alix Delaporte

Grata surpresa. Adoro descobrir um filme, aquele que ninguém comentou. Você aposta e sai da sala revigorado e feliz pela descoberta.

"Angèle e Tony" conta uma história de amor as avessas. Angèle é uma mãe solteira que encontra-se em condicional por ser a principal suspeita da morte do marido, consequentemente, perde a guarda do filho.

Para reverter a situação, coloca anúncios em jornal para encontrar um pretendente e conseguir um casamento para que desta maneira, consiga reaver a guarda da criança. Angèle no entanto nada sabe do amor e encontra em Tony, um homem castigado pela vida, mas que sabe muito bem o que quer de uma mulher.

As poucos Tony consegue abrir os olhos de Angèle com suas rejeições e o que era fadado a não dar certo, acontece na mais pura das intenções. Belo filme, bela descoberta e um final de encher os olhos embalado pela linda trilha. Na mosca.







Programe-se:
24/10 - Unibanco Augusta - 17h10
25/10 - Cinemateca - 16h50

O DESAPARECIMENTO DO GATO

Argentina, 2011
Direção: Carlos Sorín

Diretor de filmes como "O Cachorro" e "A Janela", Carlos Sorín nos apresenta agora esta comédia com uma pitada de thriller psicológico. Uma pitada? Não, trata-se de um belo tempero.

Luís, um professor universitário acaba de retornar ao lar após um período internado em uma clínica psiquiátrica. Para a filha e seus alunos Luís parece curado, mas para sua esposa, a personalidade de Luís mudou bastante. Ela lembra do marido ranzinza e agora ele encontra-se afável e prestativo. Será apenas paranóia de sua cabeça? Ela começa a duvidar de sua própria sanidade.

Uma comédia agradável e linear como diz meu amigo Daniel Luppi: É bom no meio de tantos filmes cabeças ver um que tenha começo, meio e fim, sem grandes afetações, apenas pela diversão.

A piadinha com o Brasil causa uma certa revolta momentânea por ser um tanto generalizada, mas quem faz a fama ...







Programe-se:
24/10 - Cine Sabesp - 15h50