quarta-feira, 19 de outubro de 2011

MELANCOLIA

Dinamarca/Suécia/França/Itália/Alemanha, 2011
Direção: Lars Von Trier

O que restou do Movimento Dogma lançado em 1995 por Lars Von Trier e Thomas Vinterberg em seus filmes atuais? No caso de Von Trier, este continua utilizando e abusando da câmera na mão, mas agora com muito mais preocupação com a estética. "Melancolia" é um filme lindo esteticamente e deve ser apreciado na telona com um belo som.

Von Trier é e sempre foi um cineasta polêmico. Somente para relembrar, Bjork declarou que nunca mais trabalharia como atriz após ser dirigida por ele em "Dançando no Escuro" de 2000. Teve também o sombrio e erótico "Anticristo" de 2009, sem contar a série "teatral" Dogville e Manderlay. Todos filmes sensacionais, mas difíceis de serem digeridos pela grande maioria. Von Trier é um cineasta para poucos. Ele não faz cinema para o público e sim para ele e desta maneira, tornou-se um dos maiores diretores da atualidade.

Outra característica marcante de seus trabalhos é o tom autobiográfico. Sim, ele utiliza muito de suas experiências pessoais nos seus filmes e acho que faz muito bem. "Melancolia" está totalmente ligado a sua fase depressiva confessa. Ele nunca escondeu que sofreu da doença e que carrega sequelas até hoje.

O filme é dividido em duas partes onde cada uma recebe o nome de uma personagem. A primeira parte é denominada Justine, interpretada por Kirsten Dunst que arrebatou merecidamente o prêmio de melhor atriz em Cannes. Os métodos de Von Trier podem ser questionados, mas que ele consegue arrancar o máximo de suas protagonistas, disso não resta dúvida. Justine é simplesmente insuportável. A segunda parte é entitulada Claire, nome da irmã de Justine e interpretada pela ótima Charlotte Gainsbourg. O elenco ainda traz a excelente Charlotte Rampling no papel da mãe, John Hurt no papel do pai e Kiefer Sutherland como marido de Claire. Tem ainda a participação cômica de Udo Kier como organizador do casamento.

Além de dar nome ao filme, Melancolia é o nome do planeta que esta prestes a colidir com a Terra, dando fim mais uma vez a vida no planeta azul. Esse é o mote principal do filme e a partir deste fato teremos o desenrolar das personagens Justine e Claire.

Na primeira parte desenrola-se o casamento de Justine. Von Trier também é um cineasta cheio de sinais e códigos que podem ser úteis no decorrer da película. "Melancolia" está cheio deles.

Logo no início, a limousine que leva o casal para o local do casamento fica presa na pequena estrada, podendo-se concluir, que aquele casamento não deveria acontecer. Tal fato torna-se mais claro com a chegada do casal ao local onde encontra seus pais (separados) proferindo discursos nada motivacionais para a união.

Justine mostra-se totalmente descontrolada e angustiada no próprio casamento. A aproximação do planeta Melancolia esta diretamente ligado a sua depressão crescente e aos seus anseios como mulher perante o matrimônio. Pobre noivo. O vestido rasgando no carrinho de golfe é apenas mais um indício do que viria ocorrer. A passividade do noivo perante as atitudes de Justine assusta, mas conclui-se que ele já sabia do risco.

Na segunda parte, têmos Justine afundada na depressão e certa de que o fim esta próximo. Claire por sua vez, mostra-se o oposto de Justine. Acredita na salvação e pior, acredita nas palavras de seu marido de que Melancolia passará por eles e a Terra continuará linda e intocável. Claire acredita até o último momento.

Contradição das contradições, o planeta que esta prestes a acabar com a vida na Terra é simplesmente maravilhoso, com uma luz intensa e azulada que envolve e conforta. Justine contudo continua totalmente pessimista e solta petardos como: A Terra é má. Ninguém vai sentir sua falta.

Após John (Kiefer Sutherland) questionar Justine se ela sabe quantos buracos existem em um campo de golfe, fiquei meio ressabiado com o motivo de tal diálogo, mas na parte final do filme, prestem atenção, aparece um buraco com o número 19. Um campo de golfe possui 18 buracos, então o que seria o buraco 19? Von Trier e suas metáforas. Adoro!

No final, o que resta é a caverna mágica.

Com certeza um dos melhores filmes do ano e que se não fosse por sua brincadeira nazi ridícula, não tenho dúvidas de que teria levado a Palma de Ouro em Cannes, onde tornou-se persona non grata. Pelo menos até sua próxima obra-prima.





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