sexta-feira, 30 de setembro de 2011

O HOMEM DE LONDRES

França/Alemanha/Hungria, 2007
Direção: Béla Tarr e Ágnes Hranitzky

Esta foi minha segunda experiência na filmografia de Béla Tarr. A primeira foi com o difícil "Almanaque de Outono", comentado anteriormente. Agora com "O Homem de Londres", começo a entender um pouco melhor a cabeça deste diretor tão aclamado.

Neste suspense que lembra a estética dos filmes de Hitchcock, Tarr nos presenteia com um suspense sensacional. No melhor estilo do gênero com direito a tudo que o engloba. Têmos então a fotografia um tanto escura, as locações sombrias, os personagens misteriosos e suas expressões marcantes e a música que preenche e enfatiza todo o climão.

"O Homem de Londres" trata da vida dupla. Pessismo, solidão, miséria e melancolia dão o tom da película na pele do protagonista, um trabalhador noturno que certa noite presencia um crime. Crime este causado por dinheiro. Nosso protagonista então acompanha todo o enlance e passada a tempestade encontra uma mala cheia de libras que foi o estopim do ocorrido. Esta dado o mote para todo o desenrolar da película.

Com o dinheiro em mãos, dá-se início o calvário do protagonista. Béla Tarr mostra com muita minúncia o conflito do homem com sua consciência. O dinheiro não lhe traz liberdade apesar de viver na miséria, pelo contrário. Seu casamento que já não ia bem, degringola. Ele não divide com ninguém a existência do dinheiro, tampouco usufrui do mesmo. Mas sua vida não melhora, ele parece carregar uma culpa imensurável, que é apresentada em cenas de pertubação crescente durante o decorrer do filme. A utópica busca da felicidade apenas agrava a miséria de seu estado.

Surge então o investigador. Personagem forte que começa a destrinchar o crime. Este interroga a mulher do criminoso e a questiona: Você sabia que seu marido levava uma vida dupla? Com uma dignidade avassaladora a mulher ouve tudo e contém bravamente o choro. Uma cena forte com uma atuação impecável da excelente atriz.

Esta cena ocorre na taverna onde o protagonista joga xadrez e toma sua aguardente com o dono do bar. Lá podemos ver outros frequentadores, sempre com expressões tristes e cansadas. Uma taverna que remete a uma Europa velha e exausta, assim como seus frequentadores.

Na taverna também ocorre o momento surreal do filme, momento que também aparece em "Almanaque de Outono". Cenas lúdicas parece ser uma característica do trabalho do diretor húngaro. Nela, os personagens que sempre apareciam tristes e cansados, aparecem dançando ao som da sanfona. Desta vez uma música mais alegre dá o tom, mas não menos melancólica. Um personagem dança com uma bola de sinunca no nariz, outro com uma cadeira nas mãos. Pode-se concluir que a pergunta de Tárr com esta cena é: Afinal, o que é a felicidade que as pessoas tanto buscam?

Felicidade e tristeza caminham lado a lado na busca de nossos sonhos. E no meio disto tudo têmos o dinheiro. A cena da compra do casaco de pele resume bem isso.

Um suspense psicológico como há tempos não via, com questões que Tarr trabalha muito bem. Noir com atuações soberbas, que envolve o espectador em sua misé-en-scène perfeita e que deixa a questão no ar: Afinal, o que é a felicidade que buscamos?





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resmunga ai