segunda-feira, 16 de março de 2009

Entre Os Muros Da Escola


França, 2008
Direção: Laurent Cantet


Baseado na obra de François Bégaudeau, que interpreta o protagonista, "Entre Os Muros Da Escola", é muito mais um retrato da sociedade francesa do que propriamente um filme para professores.

Filmes sobre a relação mestre e aluno existem vários, mas nenhum que aborde o tema de maneira tão verdadeira. A maneira como foi filmada, no estilo documentário, contribue muito para esta sensação de crú e realidade.

O mote do filme está na diversidade étnica da França e na falta de identidade de que sofrem os filhos de imigrantes que vivem naquele país. Teoricamente são todos franceses, mas nenhum deles se identificam com o país europeu. São filhos de imigrantes marroquinos, chineses, arábes que sofrem de uma total falta de identidade. Seja com o país onde nasceram ou com o país de seus ancestrais.

É abordado também a fase extremamente complicada que é a adolescência e as mazelas proporcionadas por um mundo globalizado, mas a essência da película está nas diferenças e preconceitos sofridos por estes alunos.

O racismo em nosso país sempre existiu de maneira camuflada. Não digo que sofri preconceito na infância, afinal, meu pai é japonês. Mas o fato de minha mãe ser brasileira, não me livrou dos famigerados apelidos. Era jaspion, pinto pequeno, filho de pasteleiro, filho de tintureiro, como se isso fosse algum defeito e motivo de vergonha. Mas as palavras possuem dimensões diferentes quando são dirigidas para crianças. Criança é cruel. Mas no meu caso, sempre soube lidar muito bem com a situação e nunca me senti diminuido, tampouco isolado por este fato. Mas pessoas mais sensíveis com certeza sofreram e muito. Vide os grupos de orientais que só andam em bandos. Com certeza, estes sofrem de uma tremenda falta de identidade.

O filme mostra uma relação muito próxima entre mestre e aluno e ao mesmo tempo muito distante. Um castigo mais severo talvez seja necessário, mas daí vem o sentimento de culpa em saber que a decisão tomada na escola poderá acarretar em um mudança total de rumo para aquele adolescente. Existem fatores externos que estão fora do alcance dos professores para avaliar o comportamento de uma criança, e tomar uma decisão mais drástica, pode representar um peso que será carregado por muito tempo. O que fazer? Qual o limite desta relaçaõ?

Ao mesmo tempo que o personagem de Bégaudeau sofre com este dilema, o filme mostra até que ponto a escola deve e pode interferir no comportamento da criança. A grande verdade que podemos constatar, é que não existe o método perfeito de ensino. Na verdade, acredito que está tudo muito errado. Acho que deveríamos trabalhar para achar o potencial de cada criança e não vomitar um monte de matérias que nunca serão lembradas e tampouco utilizadas.

Os muros da escola, representam o muro da intolerância. O muro da falta de identidade de um imigrante que não se sente chinês e tampouco francês. O muro é na realidade, um grande abismo que deve ser superado para que possamos viver harmoniosamente. Sentir que somos aceitos pelo país que nossos ancestrais adotaram.

Felizmente, este problema de identidade não aconteceu comigo, mas todos sabemos que ele está aí, rondando e esperando as vítimas mais frágeis. Muita coisa tem de ser mudada.

Um belo filme que levou merecidamente a Palma de Ouro em Cannes e concorreu ao Oscar de filme estrangeiro deste ano. Essencial para todos.





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