segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Terra Vermelha


Brasil/Itália, 2008
Direção: Marco Bechis


Com certeza este foi o ano do índio, ao menos no que diz respeito ao Cinema. Tivemos os ótimos documentários "Serras da Desordem", obrigatório, e "500 Almas". E para fechar com chave de ouro, este sensacional "Terra Vermelha", com certeza um dos grandes filmes do ano e obrigatório para toda a nossa nação.

Infelizmente foi preciso um italiano para realizar o filme definitivo e fidedigno sobre a situação enfrentada nos dias atuais pelos verdadeiros donos desta terra chamada Brasil.

Rodado no Mato Grosso do Sul, "Terra Vermelha" nos apresenta a luta dos indíos Cayowáa contra os latifundiários locais que acham que aquela terra lhes pertence.

O filme é baseado em fatos reais, infelizmente, e aborda com uma realidade cruel os inúmeros suicídios que ocorreram durante determinado período entre os jovens indígenas desta tribo aqui retratada.
O filme foca na falta de identidade dos jovens que não sabem se devotam-se as suas tradições ou deixam inserir-se na sociedade branca e doente impulsionada pelo consumismo. Sentem-se pressionados de ambos os lados e não se identificam com nenhum.

O filme mostra também como é explorado o turismo selvagem para gringos que acreditam em tudo o que vêem. A cena inicial, digo sem dúvida alguma, é uma das mais fortes e antológicas do cinema atual.

Outro grande momento é quando o personagem do latifundiário tenta argumentar com o líder da tribo de que está naquela terra à 60 anos. 3 gerações produzindo comida. De que aquilo tudo lhe pertence por direito. A resposta não poderia ser melhor, não vou contar para não estragar a surpresa da força desta cena.

O filme mostra também a relação entre brancos e índios, que até parece ser amistosa, mas a história guarda muitas mágoas para que essa relação seja saudável.
O filme é lindo e obrigatório para nossa população. Um belo roteiro. Atores sensacionais, principalmente no lado do elenco indígena que foram maravilhosamente dirigidos por Bachis.
Em tempos de "Raposa do Sol", o tema não poderia ser mais atual. Quem somos nós para delimitar onde os índios podem viver? Vocês tem que ficar na reserva ... Eles que deveriam dizer onde podemos ficar. O que fizemos com nossos índios? O que estamos fazendo com os poucos que nos restaram? Um país que não respeita seu passado, não pode ter um futuro digno. Cada um colhe o que merece e no nosso caso, nada de ruim que acontece por aqui deveria ser surpresa. Seremos eternas vítimas de nossos atrozes colonizadores. Uma herança impossível de se orgulhar.
Ótimo filme. Era preciso alguém de fora mesmo para conseguir retratar sem milongas essa história vergonhosa.

ps: São Paulo com certeza é a cidade do país com mais salas de cinema. O fato de "Terra Vermelha" estar somente em uma sala da capital, representa a importância que a população dá aos nossos índios e sua situação: NENHUMA! E o mais triste de tudo isso é constatar na pele que o gringo se preocupa e se interessa muito mais pela situação do que nós. Metade da sala no dia em que fui ver o filme era composta por uma audiência de ... FRANCESES. Tá certo que haviam 20 pessoas na sala, mas ainda assim, uma vergonha!







4 comentários:

  1. Parece ótimo, Roger.
    :)
    Como andam as coisas?

    Feliz ano novo!

    :****

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  2. Fala Rogério!
    Bom, perdi o "Serras da Desordem", que queria muitíssimo ver.
    Quanto ao "Terra Vermelha", ele retrata muito bem a situação atual da tribo Cayowáa, os dramas (inclusive dos adolescentes em crise com o choque inter-cultural). Concordo contigo em todos os teus comentários sobre os trechos que menciona. E tudo feito sem maniqueísmo, o que achei mais interessante. Gostei também das atuações, principalmente do núcleo indígena. O roteiro é muuuito bom!
    MAS, PORÉM, apesar disso tudo, o filme não me conquistou por inteiro. Não pela discussão, que é mesmo obrigatória. Tenho recomendado pra todo bocó preconceituoso que simplesmente toma partido contra a população indígena (achando que conhece os problemas!).
    Como eu já havia comentado antes, achei infinitamente melhor como discussão do que como "cinema". Mas não sei, não me conquistou. Acho que entra na minha lista das coisas que reconheço o valor, mas não gosto ou não gosto totalmente.
    Ou talvez apenas seja caso de rever mais pra frente. Só o fato de sair da sala sem saber se gostei ou não, durante a Mostra, acho que é um bom indídio (parece ser essa a tônica das grandes obras: ficar pensando por um tempo).
    Se eu assistir novamente eu te conto minhas impressões.

    PS: meu chefe está querendo propor na Escola da Magitratura um debate sobre o Gomorra. Eu vou propor a ele algo sobre o "Terra Vermelha" (ainda acho que como "discussão" ele é excelente, ainda que não tenha tanta certeza assim enquanto "cinema").

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  3. excelente! Moço....vc não gostaria de escrever na MundoMundano? Quando der, e se estiver no pique, me dá um alô! Beijo!

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  4. ops! Meu e-mail: camila@mundomundano.com.br! Aí te conto com calma!

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resmunga ai