segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Um Conto de Natal


França, 2008
Direção: Arnaud Desplechin

Que país poderia transpor para a película as mazelas de uma família em frangalhos? Se sua resposta foi França, parabéns, você sabe que os franceses adoram dissecar os podres familiares na telona. E na minha humilde opinião, são os que o fazem da melhor maneira, as vezes um pouco exagerado é verdade, mas ainda assim, o realizam muito bem.

Nesta melancólica comédia de humor negro ou poderíamos classificar o filme também como um drama engraçadinho. Não importa, o sarcasmo está onipresente neste filme. Muito dele representado pelos personagens da eterna bela Catherine Deneuve e do excelente Mathieu Amalric.

A personagem de Catherine descobre que está com um câncer. Sem o tratamento, lhe resta pouco tempo de vida, contudo, o tratamento tampouco representa a salvação. Se por acaso seu organismo rejeitar a medula doada, a doença poderá acelerar. Um drama certo? Errado. Na verdade, quem mais sofre com tudo isso é o marido de Catherine que tenta a todo custo convencê-la de optar pelo tratamento. A própria doente trata a doença de maneira super normal e não se mostra muito preocupada. Mantém até um certo ar blasé, típico de sua cultura, como quem não tá nem aí com a proximidade da morte.

Mediante esta situação, a família que não se reunia à anos, resolve passar o natal ao lado da matriarca doente. E la se vão os filhos, sobrinhos e netos para a casa de Catherine. Ótima oportunidade para lavar a roupa suja de anos não é mesmo? É sim, a tragédia está anunciada.

Catherine procura na família alguém que tenha a medula compatível para que seja realizado o transplante e por ironia do destino, o filho pouco amado e irmão odiado (interpretado por Mathieu é claro) é o único compatível. Quer dizer, temos o neto também, mas ele faz parte do hall de personagens que eu eliminiaria do elenco.
A conversa entre mãe e filho é um dos grandes momentos do filme. Um dos poucos na verdade. Catherine e Mathieu destilando todo veneno e sarcamo imaginários.

Agora falemos um pouco sobre o filme. Acredito que o filme seria muito melhor se cortasse ao menos metade dos personagens. O neto louco, a nora ninfomaníaca que deu para todos os membros da família, a irmã deprê e o irmão frágil são absolutamente desnecessários. É claro que cada um tem seu papel no filme e não digo que deveriam ser cortados por completo, pois suas ações são essenciais para o desenrolar da trama, mas não daria tanta importância. Da mesma maneira que entraram, eles sairiam. Sem muito alarde. Mas não, o diretor reserva um momento de explicação de cada personagem e essa enrolação desnecessária faz com que o filme atinja 2:30 sem que haja necessidade.

O personagem de Mathieu é o melhor de todos. Sua namorada também proporciona bons momentos. Ela está lá pra causar burburinho e o faz muito bem. Entra e sai do filme sem muito alarde, como muitos dos personagens citados acima deveriam ter sido trabalhados. O patriarca da família proporciona a parte cultural que não poderia faltar em um filme francês é claro. Ele é responsável por citações de mestres franceses e é fã de jazz, o que traz momentos muito agradáveis para nossos ouvidos, seja através da música ou da poesia.

O filme está longe de ser ruim. É bonzinho até. Quem não está acostumado a acompanhar filmes franceses e esteja estreiando na cinematografia francesa talvez até ache o filme sensacional, mas para quem troca Hollywood pelo cinema europeu, há de concordar que "Um Conto de Natal" é mais do mesmo. Família problemática, reunião em torno de um ente doente e lavação de roupa suja faz parte de muitas fitas francesas.

O negócio é ver quem consegue ser o mais arrojado. Quem faz os melhores diálogos e quem ousa "ousar" mais. Aqui por exemplo, Arnaud disserta sobre uma mãe que não se importa com a morte. Essa mesma mãe admite ao filho que não gosta dele e ele retruca dizendo que divide o mesmo sentimento com relação à ela, mas vai doar sua medula. E ainda temos a nora que na noite de natal dá para o primo do marido e esse acha tudo super normal.

Admito que a França seja um país muito mais avançado em todos os sentidos, mas essa vontade de mostrar que são seres muito mais evoluídos que o resto do mundo e que trata bizarrices como a coisa mais normal do mundo já está virando marketing e ficando difícil de engolir. Talvez eles tenham que começar a rever essa necessidade de ser a nação mais "prafrentex" do Universo, pois alguém pode querer conferir e se não corresponderem ... Por Mathieu e Catherine e claro, pelas palavras do patriarca e suas intervenções jazzísticas. O resto não interessa muito.








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