domingo, 26 de setembro de 2010

AQUI JAZ MAIS UMA SALA DE CINEMA. R.I.P QUERIDO GEMINI.


Ontem ao ler o jornal deparo-me com uma notícia muito triste: "Gemini, 35, apaga as luzes e fecha as portas amanhã. (hoje)".

Foi um choque, mais pela concretização do fato do que pela notícia em si. O Gemini ja vinha sofrendo há tempos com a falta de público. Diversificou a programação com um filme para cada horário de suas 2 salas com 379 lugares cada uma. Fez promoções do tipo compre 1 ingresso e leve o 2° com 50% de desconto (apesar de ser um dos mais baratos da região). Dava paçoquinhas e balas de goma de graça. Apesar de tudo, estava sempre vazio.

Na verdade, nós cinéfilos adoramos um cinema vazio, só pra gente, sem aquele chato que fica abrindo o celular a cada 5 minutos e joga aquela luz desagradável na sua cara, sem aquele cabeção que insiste em sentar na sua frente mesmo com a sala cheia de lugares ou ainda, aquele espaçoso f.d.p que esquece que tem gente no banco da frente e mete o joelhão ou pior, o pé fedido ao seu lado como se estivesse na sala de sua casa. Pois é, eu atraio os malas e já aconteceu tudo isso comigo em uma única sessão. Mas nunca no Gemini.

Localizado no coração da Paulista, mais precisamente no número 807, o Cinema mais kitsch da cidade, com seu escadão, seus carpetes cheio de grafismos em tons quentes em uma sala e frios na outra (sim, odeio carpetes, mas o do Gemini era especial, mesmo dando a sensação de que pulgas infestavam o local), suas confortáveis poltronas de couro, com direito a loveseats e a indefectível trilha sonora que antecipava as sessões embalada por Ray Conniff e sua orquestra, encerra suas atividades hoje as 21:40 exibindo "Cabeça a Prêmio" de Marcos Ricca.

Nestes 34 anos de cinéfilo inveterado já assisti o enterro de outras tantas salas de rua como o Cine Vitrine, que ficava na Augusta, o Top Cine também na Paulista e o Lilian Lemmertz que ficava em um shoppingzinho bem ruim na Pompéia. Vejo outros tantos sobrevivendo, mas não menos cambaleantes como o atual Cine Sabesp na Fradique Coutinho, que muda de nome todo ano de acordo com o novo patrocinador, o Lumiére no Itaim que segue os mesmos moldes do Sabesp e o HSBC, famoso Belas Artes que sofre para manter as atividades. Espero de coração que continuem sobrevivendo e saiam dessa agonia constante.

Muitas coisas poderiam ter sido feitas para salvar o Gemini, como por exemplo, fazer parte do circuito da Mostra de Cinema de São Paulo, uma vez que está na mesma região da maioria dos cinemas que abrigam o Festival. Porque nunca foi utilizado? Porque nenhum patrocinador interessou-se por este marco paulistano? São tantos porques que fica difícil encontrar a resposta. Eu sempre disse que meu sonho era ter muito dinheiro para adotar um desses cinemas. Infelizmente não consegui adotar o Gemini.

Cada vez que uma sala de cinema fecha, sinto uma dor cortante, vendo cada vez mais distante o sonho de um dia este país dar a devida importância a cultura. Só tenho a lamentar e muito. Triste, muito triste.

Hoje, 26 de Setembro de 2010, as 23:50 horas, jaz nesta cidade, um dos cinemas mais importantes deste país, mais um pólo de cultura que se esvai, deixando o Brasil cada vez mais distante da tão sonhada potência. Um povo sem cultura é um povo sem alma. Este tempo chuvoso e bucólico, típico de nossa cidade, hoje não é a toa. Os céus estão chorando e nós cinéfilos, também. Ray Connif no cinema e paçoquinha de graça, nunca mais.


Um comentário:

  1. Nossa... fazia tempo que eu não passava por esse blog (culpa da minha internet zoada) e fiquei chateada com essa notícia do fechamento do Gemini... no feriado eu fui ao shopping e encarei a tortura da superpopulação para assistir um filme no Cinemark! Fora o pezão chulezento do lado do meu ombro e o infeliz do celular vibrando na poltrona vizinha em velocidade 10! Lembrei das sessões no HSBC Belas Artes, que são tão mais tranquilas....

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resmunga ai