quinta-feira, 6 de maio de 2010

VIAJO PORQUE PRECISO, VOLTO PORQUE TE AMO


Brasil, 2009
Direção: Karim Ainouz e Marcelo Gomes


Confesso que minha impressão inicial não foi da melhores. O motivo? Achei que fosse mais um filme lamentando as mazelas de nosso país, o sofrimento do povo nordestino e por aí vai. Achei que fosse mais do mesmo. Felizmente eu estava errado.
Tive a oportunidade de conferir o filme na Mostra de São Paulo do ano passado. Apesar de ter feito na época meu breve comentário como sempre faço em todas as Mostras, o filme merece um post mais encorpado, pois é sim, excelente e comovente.
Ao som de "Sonhos" de Peninha vêmos os primeiros frames no telão. Arrisco dizer que esta experiência cinematográfica é diferente de tudo que você já viu. Uma experiência estranha, mas ao mesmo tempo, envolvente e bela.
Recém-separado da mulher, geólogo é enviado para realizar uma pesquisa de campo pelo sertão nordestino com o objetivo de avaliar o percurso de um canal que será construído. Ao mesmo tempo que o canal trará prosperidade para alguns, para outros resta a tristeza da desapropriação e o sentimento de perda. Ainda abatido com sua separação, o geólogo começa a identificar-se com a dor e sofrimento daquele povo e das famílias que terão quer ser removidas. O abandono e o vazio.
Dirigido por Karim Ainouz (O Céu de Suely) e Marcelo Gomes (Cinema, Aspirinas e Urubus), as imagens de "Viajo ..." foram filmadas nos intervalos dos dois filmes acima. Algo que parecia despretensioso, cresceu e muito com o belo roteiro dos dois.
À primeira vista lembra um documentário. Só lembra, pois a linguagem utilizada é de uma estranheza belíssima. A começar pelo protagonista que nunca aparece. O filme é todo narrado pelo geólogo e a câmera, são seus olhos. A câmera, é o protagonista.
Têmos então a confissão sincera de um homem que está sofrendo pelo rompimento com a mulher amada. A estrada e o carro são as testemunhas deste desabafo. Seriam 30 dias suficientes para cicatrizar a ferida? Quanto mais sofrimento ele vê, mais amargurado ele fica, pois identifica-se com o vazio que aquelas pessoas sentem. Ele faz a viagem para tentar esquecer sua galega, mas quanto mais longe ele vai, mais lembranças surgem em sua cabeça.
Você já amou? Então este filme é indispensável. O texto é simplesmente maravilhoso e casa perfeitamente com as imagens. Lembra um pouco o trabalho do chinês Jia Zhang-Ke.
Já diria o geólogo: Sinto amores e ódios por você. Sinto amores e ódios repentinos por você. Um filme ímpar de uma estranha beleza. Estranha ... e comovente. Poesia pura.




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