sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008
4 MESES, 3 SEMANAS E 2 DIAS
Romênia, 2007
Direção: Cristian Mungiu
O cinema romeno andava adormecido. Em 2006 tive a oportunidade de conferir dois filmes romenos muito simpáticos na Mostra Internacional de São Paulo, até então confesso, uma cinematografia desconhecida para mim.
No ano passado o cinema romeno entrou de vez no circuito internacional com "4 Meses", que foi o grande vencedor da Palma de Ouro em Cannes.
O filme conta a história de uma universitária que realiza um aborto clandestino em condições precárias. Mas quem protagoniza o filme é a amiga da universitária grávida que a auxilia na tarefa indigesta. Ela absorve o peso do drama de sua amiga e de certa forma em dado momento se vê no papel da mesma e briga com o namorado e com o mundo.
O tema por si só já é muito polêmico. Muitos filmes já tocaram na questão do aborto, podemos citar como mais recente exemplo o ótimo "Juno" que escolheu outro caminho para abordar o tema. "4 Meses" no entanto é crú. Sem fantasias, sem roteiro bonitinho e feliz. A verdade como ela é, mas que quase nunca é mostrada.
Aqui, o diretor faz questão de mostrar tudo como acontece na sua Romênia antes da queda do comunismo, diante da repressão total. A grande dúvida era sobre mostrar o feto morto ou não. E Mungiu não titubeia em mostrá-lo, o que eu particularmente, achei muito bom. A verdade muitas vezes dói, a realidade machuca, mas nem por isso deve ser camuflada. Talvez não fosse necessário tanto close e tanta ênfase, mas deveria sim ter sido mostrado.
Cinematograficamente o filme não acrescenta muito. Achei que Mungiu se inspira claramente no cinema francês com seus longos planos e closes. Tudo mostrado nos minímos detalhes. Muitas vezes pode tornar-se entediante, mas no caso de "4 Meses", tornou-se agoniante e pertubador.
A personagem principal é muito chata e sua amiga grávida uma retardada. Na verdade, a melhor interpretação é a do médico clandestino que realiza o aborto, escroto ao cubo. Mas as fracas atuações não chegam a incomodar, passam despercebidas mediante a força criada por Mungiu no desenrolar do roteiro que gira em torno do close do feto que dá o título ao filme.
Confesso que esperava muito mais. Na Mostra de São Paulo do ano passado todas as sessões estavam esgotadas, mas ainda assim é um filme acima da média e vencedor de um dos principais festivais de cinema do mundo. É daqueles filmes para poucos, tipo ame ou odeie, mas ele faz você pensar, não tenha dúvidas.
A imagem daquele feto ainda está muito nítida na minha memória e meus conceitos com relação ao aborto mudaram um pouco. Se foi essa a intenção de Mungiu, parabéns, sua obra fez-se completa. Um filme imperdível pelo modo como tratou assunto tão polêmico, isso não quer dizer que você vá gostar. Difícil? Pois é, sem anestesia então ...
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resmunga ai