quinta-feira, 11 de março de 2010

A FITA BRANCA


Alemanha/Áustria/França/Itália, 2009
Direção: Michael Haneke
"Os eventos que se passaram ali, naquele vilarejo, no início do século, são de extrema importância para se compreender os efeitos dramáticos que aconteceriam na Alemanha, décadas depois".
Com essa frase dá-se início o filme. Primeiramente gostaria de ressaltar que não entrarei em questões históricas. Muitos criticaram o filme de Haneke não por falta de qualidade, mas sim, pelo argumento raso do roteiro. Realmente apontar o dedo para a Alemanha e dizer que a sociedade germânica é a única responsável pelo Holocausto é algo muito fácil e confortante, eximindo qualquer outra nação do sentimento de culpa. Uma tese no mínimo duvidosa, uma vez que parte do austríaco Haneke, afinal, seu país abraçou com orgulho a anexação na Alemanha de Hitler. Mas como eu disse, isso é assunto para outra discussão, muito interessante por sinal, mas deixemos isso para a aula de história.
Diretor de outras polêmicas e chocantes películas como "Caché", "Violência Gratuita" e "A Professora de Piano", Haneke nos apresenta sua mais recente e excelente obra "A Fita Branca".
O filme aborda a história de uma comunidade rural na Alemanha lá pelos idos de 1910.
Estranhos acidentes começam a acontecer nesta comunidade, gerando medo e apreensão entre todos. Aliás, taí uma coisa que Haneke faz como ninguém. Ele coloca o problema, mas não apresenta a solução, deixando o espectador aflito, tentando desvendar os crimes, quando na verdade, o que importa é o porque de tais crimes terem sido cometidos.
Os personagens são poderosos. O médico prepotente que molesta a filha, a parteira submissa e seu filho deficiente mental, o barão dono das terras, o pai protestante e autoritário que amarra o filho na cama para não se masturbar, o tímido professor que narra a história e reluta em acreditar no que desconfia. E as crianças. Excelentes.
Talvez seja vago resumir o filme à uma tentativa de explicação das origens do mal que resultaram no Holocausto, mas a alusão é muito clara. A começar pela tal fita branca que dá nome ao filme.
Para lembrarem de seus pecados, o pai protestante amarra uma fita branca no braço dos filhos. A cor branca representa a pureza, aquilo que eles devem reconquistar, através da submissão e dos castigos. Uma clara menção à Estrela de David utilizada para distinguir socialmente os judeus. O filho da parteira, o garotinho deficiente mental é violentamente torturado. A história diz que a Alemanha aniquilou milhares de deficientes mentais pois eram considerados incapazes de sociabilizar. E tem ainda uma das cenas fortes, quando um pai descobre que seu filho roubou a flauta do filho do Barão. O pai espanca seu filho violentamente, lembrando e muito a truculência executada pela SS nos campos de concentração.
Entende-se então, que a sociedade autoritária e patriarcal alemã gerou sentimentos de profundo desprezo, indiferença e crueldade na geração jovem do início do século XX. A geração que abraçou o nazismo e adotou Hitler como mentor.
A fotografia é impecável e as atuações sensacionais. Tudo no seu devido lugar e com muita classe. Até impactante.
Ame ou odeie, o filme é forte, e independente das teorias históricas, não se pode negar que temos aqui um belo exemplo do que a magia do cinema é capaz de proporcionar. E mais uma vez, o tema Holocausto mostra-se interminável. Haneke soube explorá-lo com originalidade e inteligência. Um filme para ver, rever e debater, ame ou odeie.



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