quarta-feira, 27 de junho de 2007

Não Por Acaso



Brasil, 2007
Direção: Philippe Barcisnki

Há 13 anos estive em Fernando de Noronha com um casal de amigos. Lá ficamos em uma pousadinha simples porém muito aconchegante e conhecemos um casal muito simpático, mais velhos, na época deviam estar na faixa dos 30. Ele disse que fazia cinema, que tinha alguns curtas, mais ou menos a situação que vivo hoje, mas hà 13 anos eu não imaginava qual caminho trilharia profissionalmente, minha paixão era fotografia. Se soubesse, teria grudado naquele rapaz que tornaria-se 10 anos depois, uma das maiores promessas do cinema nacional.

Seu nome era Philippe Barcinski. Pois é, ficamos amigos na época, mas não cultivamos a amizade. Uma pena. Mas de certa forma, hoje eu sigo os passos que ele trilhou e quem sabe daqui alguns anos eu também consiga ter um filme no circuito e receber metade das boas críticas que ele vem recebendo com seu primeiro longa.

"Não Por Acaso" conta duas histórias interligadas por uma tragédia que atinge dois homens. Os personagens de Rodrigo Santoro e o ótimo Leonardo Medeiros. Dois homens que pensavam ter o controle do destino em suas mãos, veêm o mundo desabar e desesperam-se ao sentirem que estão sujeitos as fatalidades do universo.

A famigerada frase "a gente nunca acha que vai acontecer conosco" cai muito bem aqui. De repente eles se encontram perdidos, sem rumo e fragilizados. Aquela sensação de segurança que antes tinham, escoa pelo ralo.

O personagem de Santoro é um marceneiro louco por sinuca. Ele faz as mesas e participa de campeonatos. Metódico, acha que pode controlar a vida da mesma forma como controla a bola branca. Já o personagem de Medeiros é um engenheiro de trânsito solitário e um tanto pertubado, que também acha poder controlar sua vida e destino da mesma maneira como digita um código para fechar um semáforo.

Mas a vida é dura e o destino mostra que não temos controle sobre nada, embora normalmente achemos o contrário. Como encaramos a realidade pós tragédia é a prova definitiva. Duas novas mulheres surgem em suas vidas. E o desenrolar dessas novas histórias mostra como nada é por acaso e toda experiência, mesmo que seja uma tragédia, é válida para amadurecermos e nos tornar-mos melhores pessoas.

Eu gosto mais da história do personagem de Medeiros. Sua relação com a tragédia e sua fragilidade. Como ele encara suas novas responsabilidades e seu medo de assumir o que ele sabe que é o certo, mas não considera-se capaz. Já a história de Santoro vai bem até o fatídico acidente. Ele está bem, como de costume, embora não tenha sido muito exigido, mas a presença da "sem sal" Letícia Sabatella esfria a história. Ainda assim, Barcinski consegue transmitir os medos e fragilidades do personagem de Santoro e mostra que devemos olhar pra frente e mudar, ou pelo menos tentar.

Apesar do acidente ser meio forçado, ele torna-se coadjuvante diante do que o diretor pretende mostrar. Ele serve como uma ponte para o ótimo desenrolar das histórias dos personagens.

Um filme delicado que trata de assuntos do cotidiano, mas nem por isso óbvio, pelo contrário. A trilha sonora funciona muito bem dentro do filme e São Paulo está fotografada de maneira muito aconchegante, diferente do caos como geralmente ela é retratada. Os paulistas irão adorar. Eu gostei muito. E não se assuste se as lágrimas escorrerem por seu rosto, afinal, essa pode ser a sua história.





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