terça-feira, 9 de setembro de 2008

ENCARNAÇÃO DO DEMÔNIO


Brasi, 2008
Direção: José Mojica Marins

Na minha época de faculdade, lá pelos idos de 2000, realizei um trabalho sobre o Cinema Trash, nacional e internacional, e claro, Zé do Caixão não poderia ficar de fora. Vi todos seus filmes na época, além de visitá-lo em seu QG no Ipiranga, onde fui muito bem recebido. O homem é uma lenda e como acontece bastante com alguns de nossos talentos, muito mais reconhecido no exterior do que em seu próprio país. Lá fora ele é o famoso "Coffin Joe", com direito a caixa com sua filmografia completa em forma de ... caixão é claro.

Após 40 anos!, pois é, o Cinema no Brasil funciona assim, Zé do Caixão consegue concluir sua trilogia sobre a procura da mulher que irá gerar o seu filho perfeito. Desta vez Zé teve toda a estrutura disponível para realizar um Trash Chic. Produzido pela "Olhos de Cão" e pelos extremamente profissionais irmãos Gullane, Zé do Caixão teve a sua disposição o que há de melhor e mais moderno atualmente para encerrar sua triologia.

O roteiro é ótimo para o gênero. A produção impecável. Os atores principais estão excelentes. As participações de Jece Valadão e Adriano Stuart são impagáveis, afinal, um bom trash necessariamente está na fronteira com a comédia, o famoso "TERRIR". A participação de Milhem Cortaz como o padre que o persegue também é muito boa, aliás, impossível não se lembrar do padre do chocho " Código Da Vinci" que se auto-flagelava, guardada as devidas proporções claro, pois o padre de Milhem é muito melhor. Junte a tudo isso, belas mulheres que rodeiam o homem da cartola preta, seus servos super caricatos, muito sangue cenográfico e uma produção de arte impecável. Pra completar, José Mojica após 40 anos, é um ator muito melhor e nem seus erros de português aparecem na película. Impossível não deleitar-se com seus olhos esbugalhados ao ter visões do além. Muito Bom.

A última coisa que você sentirá ao ver este filme é medo. Talvez você sinta um pouco de nojo, mas no geral, o filme é muito agrádável de se acompanhar, acredite. Eu sai do cinema imaginando como uma série inspirada nas sandices de Zé do Caixão faria sucesso. Imagino um programa, de uma hora de duração, para passar toda sexta à meia-noite.

O universo deste homem é infinito. Seus personagens excelentes. As ciganas, o padre louco, os servos, os policiais, o zelador do Limbo na pele do outro doido José Celso Martinez Corrêa, as lindas mulheres e sangue, muito sangue. Para complementar, uma trilha sonora com "Sepultura", "Rob Zombie", "Ozzy", putz, se eu fosse adolescente iria adorar ... Pra falar a verdade, mesmo com 30 eu adoraria hahaha. Gastaram dinheiro para fazer aquela produção tosca da Tiazinha heroína na Band e nossos verdadeiros mestres, à deriva, esperando uma oportunidade.

O cinema de Zé do Caixão pode não ser cabeça, tampouco requintado, mas é feito com paixão e fibra! Aliás, esse homem é um guerreiro. Nunca esperou ajuda de ninguém para fazer seus filmes. Conseguir terminar sua trilogia 40 anos após o último filme é um ato de heroísmo. Ele passou por cima de todas as barreiras ridículas que nossa sociedade tupiniquim impõe. Primeiro, ele faz cinema. Segundo, sempre foi taxado de brega e louco. Terceiro, já passou dos 70. Para uma sociedade onde pessoas de 40, 50 são consideradas velhas para produzirem, Zé do Caixão mostrou mais uma vez porque é tão celebrado no exterior e mandou uma bela banana para os críticos que se acham acima do bem e do mal neste país.

O filme diverte e entretêm. Tem uma produção excepcional, produção esta que Mojica nunca teve em suas mãos e ainda foi convidado para ser exibido no "Festival de Veneza", onde foi muito bem recebido. Pasmem pequenos burgueses intelectuais filosóficos. O homem da Cartola, humilde, que fala "púbrico", chegou lá e deixou sua marca para sempre no nosso cinema, queiram vocês ... ou não. Vida longa à Zé do Caixão, este sim, um verdadeiro apaixonado pelo que faz, um guerreiro do cinema nacional!





Nenhum comentário:

Postar um comentário

resmunga ai