segunda-feira, 17 de agosto de 2009

A Festa Da Menina Morta


Brasil/Portugal/Argentina, 2008
Direção: Matheus Nachtergaele

Bom, muita calma nessa hora. Taí mais um exemplo de filme que não deve ser analisado no calor da sessão. Quero dizer que ele necessita mais tempo para ser digerido e matutado.

"A Festa da Menina Morta" mostra os preparativos da tal festa que dá nome ao filme de estréia na direção do homem multi-talentos Matheus Nachtergaele.

Não existem muitas explicações, aliás, a impressão é a de que pegamos a conversa com o bonde andando. Logo de início já podemos perceber que trata-se de um filme cheio de dor. Seus personagens vivem um sofrimento constante, algumas vezes apresentados deliberadamente ou camuflados, como no caso do personagem de Jackson Antunes que faz o pai de Santinho, personagem de Daniel Oliveira.

Santinho é bajulado pela população local, pois dizem que realiza milagres e comunica-se com a tal menina, onde uma vez por ano realizam a festa para que ele diga o que a menina morta deseja para o ano que segue. A tal menina não aparece, ninguém sabe o que aconteceu com ela e o único que revolta-se com tamanha badulação em torno de Santinho é justamente o irmão da tal menina. Não vemos Santinho realizar nenhum milagre, o que vemos é uma pessoa afetada que pensa ser Deus e destrata todos que o rodeiam. Talvez por ele ser o único branco de olhos claros no meio da mestiçagem amazônica.

Concordo que o filme seja pertubador. E isso seria algo ruim? Não para mim, aliás, pelo contrário, eu acredito que um filme deva mexer com o telespectador. O fato de Santinho manter uma relação incestuosa e doentia com seu pai pertuba e muito as pessoas que só querem ver aquilo que as agrada. A vida não são somente flores e acredito que as pessoas devam sair de suas bolhas e aceitarem que aquilo que foi mostrado na tela, apesar de doer, existe. Mas como assim? Um Santo gay que dá para o pai?! Mas padre pedófilo tudo bem né?

Trata-se de um filme de autor na mais pura concepção. Os diálogos são estranhos, a fotografia é escura, mas nem por isso menos bela. As imagens fotografadas por Lula Carvalho são poderosas. Temos ali a representaçã nua e crua do nosso Brasil, não me refiro à pobreza, mas a vasta riqueza cultural que este país continental detém.

O filme é capaz de proporcionar cenas pertubadoras como a do porco na água ou ainda cenas extremamente lindas e poéticas como quando um grupo de homens começam a dançar break ao som de bossa nova. Confesso que trata-se de uma das cenas mais belas que vi recentemente no cinema. Poesia pura. Ela é necessária para o filme? Não. Mas traz um frescor para nossa cinematografia que há tempos não se via. Cinema é arte gente e nem tudo precisa ter explicação.

Ainda temos um elenco afiadíssimo e muito bem conduzido por Matheus, que também assina a bela trilha sonora. Daniel Oliveira, Jackson Antunes, Cassia Kiss, Dira Paes, Juliano Cazarré (você ainda vai ouvir muito este nome) e uma participação mais que especial do mestre Paulo José nos transportam para o universo amazônico tão perto e distante ao mesmo tempo.

O filme pertuba e é difícil, mas ao mesmo tempo encanta. E apenas um recadinho para os detentores da moral que tanto criticam aquilo que não lhes cai bem aos olhos: Saiam de seus mundinhos. O Brasil vai muito além do que seu pequeno nariz pode "enxergar". É como já diria um amigo meu: " A cabeça é como uma pára-quedas, funciona melhor aberta."





Um comentário:

  1. Gostei da tua análise. Concordo com tudo. E amei a frase do teu amigo. A quem dou o crédito se começar a usá-la por aí?
    Abraço

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resmunga ai