terça-feira, 2 de junho de 2009

Agreste


Encenação e direção de arte: Marcio Aurelio
Texto: Newton Moreno
Atores: Paulo Marcello e Joca Andreazza
Realização: Companhias Razões Inversas

Finalmente consegui conferir a tão premiada peça. Uma peça alternativa manter-se em cartaz por tanto tempo (ela estreiou em 2004) é algo muito raro de acontecer. "Agreste" já passou pelo Teatro da Aliança Francesa, Cacilda Becker, Teatro Vivo e mais recentemente, estava em cartaz no Espaço Parlapatões. Isso, somente em São Paulo. Teatros diferentes para públicos diferentes, e em todos eles, ela foi bem-sucedida, provando que quando o trabalho é bom, ele atinge à todos.

A peça conta a história de amor de duas pessoas que sofrem com o preconceito e a intolerância da população local. A morte de uma delas no entanto, desencadeia em uma revelação surpreendente que muda o curso da história.

A mistura de narração com representação cria um jogo metonímico e metafórico onde o espectador é convidado a embarcar para o sofrido universo nordestino.

Apesar do nome "Agreste", a peça poderia ser encenada em qualquer região do mundo, afinal, o plot concentra-se no preconceito e na intolerância, e isso, infelizmente, encontramos em qualquer lugar.

Os dois atores que permanecem em cena durante todo o espetáculo, narram e interpretam personagens femininos, mostrando que a questão masculino-feminino possue um limite extremamente tênue, mas ao mesmo tempo, de uma diferença gritante. Interpretam também outros personagens, mostrando uma versatilidade incrível por parte dos ótimos atores.

Temos aqui um excelente texto, isso ninguém pode negar, contudo, a montagem não é de fácil assimilação. Não questiono o trabalho dos atores nem do diretor. Na realidade, não questiono nada, agora que consegui digerir sua mensagem.

"Agreste" não é uma peça que você sai com opinião formada. Não dá pra dizer de imediato, gostei ou não gostei, ela vai além. Ela permanece na sua cabeça por horas e dias. Com certeza, é necessária uma bela maturação para que você consiga opinar.

Agora, já maturado, posso afirmar que "Agreste" é um trabalho extremamente belo e poético. Tudo é poesia no espetáculo e quando vêmos imagens de slides projetadas, podemos pensar que aquilo não combina muito com uma peça que narra o cotidiano de um casal no Sertão, trata-se de antinaturalismo, mas a imagem projetada é de um casebre no agreste, ou seja, tudo pensado nos mínimos detalhes.

Podemos encontrar também no espetáculo, uma grande influência do Teatro "". A delicadeza dos movimentos e a mudança quase que imperceptível de suas expressões, são grandes características desta forma de teatro japonês.

Confesso, está longe de ser uma peça de fácil entendimento e que em um primeiro momento você pode até tecer opiniões precipitadas, mas insisto em dizer que "Agreste", é um espetáculo para ser maturado vagarosamente e quando você menos esperar, ela estará incorporada à você, totalmente deglutida e abençoada. Teatro na essência e poesia pura.

Prêmio Shell de melhor texto/Prêmio APCA de melhor ator e melhor espetáculo (drama).





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resmunga ai