segunda-feira, 12 de maio de 2008

UM BEIJO ROUBADO


França/China/Hong Kong, 2007
Direção: Wong Kar-Wai

Kar-Wai rendeu-se à Disneylândia do cinema. Quero dizer, para um cineasta, poder usufruir de tudo que a indústria hollywoodiana proporciona é algo no mínimo tentador. Consequentemente, o público atingido será muito maior. E que mal à nisso? Bem, se a essência do diretor não for alterada ... não vejo mal algum, afinal, quando o trabalho é bom nada melhor do que o reconhecimento. Kar-Wai não é nenhum novato, ao contrário, é um dos mais consagrados cineastas do mundo, mas sempre permaneceu à margem da popularidade. Com a incursão no cinema americano com certeza este panorama será alterado, no entanto esperava que não acontecesse o mesmo com seu cinema.

Um Beijo Roubado trata das dores proporcionadas pelas desilusões amorosas. Suas consequências e a busca pela satisfação interior. Kar-Wai sabe como ninguém falar das coisas do coração. O elenco é estrelado: Jude Law, David Strathairn, Rachel Weisz, Natalie Portman e a estréia da cantora Norah Jones como o pilar do filme. Após uma desilusão, sua personagem cai na estrada onde conhecerá os mais excêntricos personagens. Uma verdadeira jornada ao interior da América e ao mesmo tempo uma fuga de tudo aquilo que à fez sofrer. Convivendo com estes personagens incomuns encontrará o remédio para a cura de sua dor.

Os atores estão excelentes, até mesmo Norah Jones que eu achei que inicia o filme de forma meio irregular, pega no tranco e mostra que tem futuro e carisma, enfim uma mulher multi-talentosa. Rachel Weisz está linda. Natalie portman, apesar da tentativa de Kar-wai deixá-la feia com sua cabelereira de loirinha bombril, ainda assim, permanece encantadora. Jude Law galante como sempre, nesta vez no papel de um sedutor desencanado dono de um café. Ainda temos o excelente David Strathairn em uma participação curta, mas com certeza, a mais forte de toda história.

Parece que "Um Beijo Roubado" é um mosaico de todos os elementos que consagraram o cinema de Wong-Kar-Wai. A fotografia trabalhada e delicada, a presença de muitas cores, o slow-motion romântico e a presença marcante de canções, sempre muito bem escolhidas por sinal, que casam-se perfeitamente com seus quadros. Contudo eu acho que ele exagerou em todos estes elementos neste seu mais recente trabalho. Em alguns momentos chega a ser artificial e até forçado. Talvez seja a maneira de aproveitar a maior exposição e tornar seu cinema mais próximo de um novo público. O roteiro é básico, mas tem seus encantos.

Confesso que sai um pouco decepcionado. Quem sempre foi fã deve ter tido sensação semelhante. Outro dia uma conhecida falou comigo assim: Você que gosta de cinema, é verdade que "Um Beijo Roubado" é imperdível? É tão bom assim?! Pois é, para o público que ele pretendeu atingir com este filme, com certeza trata-se de novidade e algo imperdível. Para quem já conhecia seu trabalho, trata-se de mais do mesmo de maneira exacerbada. Espero que ele não se esqueça de suas origens e do público que o consagrou.





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