quarta-feira, 10 de novembro de 2010

APRENDIZ DE ALFAIATE

França, 2010
Direção: Louis Garrel

Não existe ator mais badalado e pop na França do que Louis Garrel. Mathieu Amalric? Excelente, mas Louis possue um charme todo especial. Não, não sou viado, mas não tenho problema algum em reconhecer as qualidades de um homem.

Louis Garrel, o eterno "François", nos oferece sua visão por trás das câmeras com o média-metragem "Aprendiz de Alfaiate".

O média filmado em PB, conta a história de Arthur, um aprendiz de alfaiate que trabalha no ateliê de Albert, um senhorzinho que pretende deixar o ateliê de herança para seu pupilo. Existe uma relação de pai e filho entre eles. Numa bela noite Arthur conhece Marie-Julie, pela qual apaixona-se fulminantemente. No princípio ela corresponde e Arthur chega a acreditar estar realmente amando. Mas Marie tinh um noivo e aquela paixão toda, não passava de fogo de palha. Para ela.

O papel parece ter sido escrito sob medida para Garrel, mas ele ta certo, ou dirige ou atua. O filme é um mosaico de referências de todos os filmes que Garrel atuou, principalmente dos filmes de Christophé Honoré, que sempre aborda as mazelas dos relacionamentos parisienses.

A paixão fulminante nos faz planar, levitar e fazer loucuras de supetão, mas a realidade costuma ser mais racional e costuma nos prender, para o bem ou para o mal. Filme delícia de se ver com destaque para a linda Léa Seydoux.





A NOITE QUE NOS DOMINA

EUA, 2010
Direção: Tanya Hamilton

Após a Bomba, estava mais tranqüilo com relação ao filme a seguir. Saberia que talvez não fosse um super filme, mas terrível também não poderia ser, pois tratava-se de um filme americano e diga o que quiser, mas este povo sabe fazer Cinema. Quer dizer que “American Pie” é bom então?! Claro que não amigo(a), mas na Mostra, não existem filmes do gênero.

“A Noite que nos Domina” trata de um período histórico dos EUA e mundial. Conta a história dos Panteras Negras alguns anos depois dos fatídicos confrontos.

Com o embasamento histórico como pano de fundo, o filme trata da relação entre Marcus e Patrícia. Após 4 anos Marcus retorna a sua cidade natal para o funeral do pai. Na cidade ele não é bem vindo, uma vez que todos acham que ele foi o responsável pela morte de um dos líderes dos Panteras ao delatá-lo. O taxam de dedo-duro, mas desconhecem os motivos que o levaram a fazer isso. Patricia por sua vez vive no passado e é paranóica. Ainda acredita ser alvo do FBI e sempre acha que está sendo espionada.

Contando com imagens de arquivo da época, homenagens a Malcom X e Martin Luther King e embalado pela ótima trilha do “The Roots”, o filme narra a luta de um povo pela igualdade social, mas tendo como mote principal a relação de Marcus e Patricia anos depois.

Existe a necessidade de lembrar do episódio, mas acima de tudo, de continuar a viver. É preciso continuar e deixar o passado para trás. O filme conta com alguns clichês dos filmes do gênero político e é previsível em alguns momentos, mas e daí? O filme é bom. Bom roteiro e ótimas atuações.




NA FLORESTA

Grécia, 2009
Direção: Angelo Frantziz

Existem vários tipos de frequentadores da Mostra. Aqueles que querem ver os blockbusters antes de todo mundo, aqueles que só procuram as obras de diretores conhecidos, aqueles que compram a permanente e tentam ver todos os filmes (embora na maioria das vezes ele sai no meio da sessão, ou antes, de mais de 50% deles).

Hoje vou falar dos aventureiros, aqueles que procuram os filmes mais inóspitos, dos países mais exóticos e que só o Cakoff e mais meia dúzia de gatos pingados viram.

Eu, particularmente, me encaixo nesta última turma. Procuro os filmes que sei que não vão estreiar no circuito comercial e por não haver mitos comentários ou nenhum sobre as obras, corremos o risco de literalmente nos depararmos com uma "Bomba".

Pode-se dizer que a bomba é uma instituição da Mostra. Para os aventureiros, é quase certeza de que ao menos uma bomba cruzará nosso caminho. Cakoff deve fazer de propósito, para gerar discussão, afinal, as bombas costumam ser inesquecíveis. Me lembro de ao menos dois filmes bombásticos (no pior sentido), que não saem de minha memórias pelo trauma causado de tão insuportáveis. "As Tentações do Irmão Sebastião" é um deles.

Neste ano já achava que não teria o desgosto, mas ela veio no meu último dia de Mostra. "Na Floresta" é um míssil! E o pior é que eu devo ter algo de masoquista, pois não consigo sair da sessão, acredito que o filme possa ter algo que me surpreenda, nem que seja nos cinco minutos finais. Mas as bombas não costumam ter reviravolta.

"Na Floresta" começa no meio do nada e termina no meio do nada. O rapaz que fez a legendagem eletrônica assustou-se quando descobriu que o filme tinha apenas 43 legendas. Isso mesmo, 43 breves diálogos durante 97 minutos. Pensei então com meus botões: Aaa, tudo bem, o filme deve ser meio lento, normal. Antes fosse.

Três jovens, um homem, um homem que gosta de homem e uma mulher, vão para uma floresta em uma praia paradisíaca da Grécia. Lá eles se entregam aos prazeres da carne e do pansexualismo (Serguei gostou) como diz a sinopse. O homem é namoradinho da menina, mas ele realiza os desejos do homem que gosta de homem as escondidas. Numa dessas escapadas, a menina descobre que seu namoradinho tira um sarro com o outro rapazinho. No início fica perdida, mas depois desencana e quer mostrar que o dela é melhor que o dele. Questão de gosto kkk.

Entre uma transa e outra eles bebem, fumam e brincam na floresta. Brincam na floresta, fumam e bebem. O diretor talvez achasse que iria revolucionar o cinema mundial ao mostrar closes de pintos, pintos gozando, boquetes homossexuais e etc ... Já vi pinto no telão, ja vi boquete no telão, já vi sexo explícito no telão, mas o sexo tinha propósito.

Em "Na Floresta", não existe uma história, são três jovens no meio do nada transando. O roteiro inexiste, a direção ... não aparece porque não foi necessária, consequentemente a atuação ... A câmera é nervosa, na mão, dá tontura. Parece uma "Bruxa de Blair" erótico em uma praia grega com falos pipocando por todos os frames. É falo na banheira, no mar, na praia a milanesa, puta que o pariu, vai gostar de pinto assim lá na casa do caraio!

Pois é, o que seria da minha Mostra sem as bombas. O pior é que essas trasheiras demoram pra sair da cabeca. Vou ter pesadelo com essa merda!





Mesa sto dasos

mesa sto dasos | Myspace Video

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

TIO BOONMEE, QUE PODE RECORDAR SUAS VIDAS PASSADAS

Tailândia/Reino Unido/França/Alemanha/Espanha/Holanda, 2010
Direção: Apichatpong Weerasethakul

Vencedor da Palma de Ouro em Cannes, "Tio Boonmee" será o filme mais procurado e badalado por todos os festivais em que passar. Por aqui não poderia ser diferente, e como ainda não há data de estreia prevista, não poderia perder a oportunidade de ver o filme mais comentado do ano.

O filme é totalmente budista. Logo, antes de tirar conclusões ocidentais, procure saber um pouco mais sobre esta religião, que eu particularmente, considero a mais sensata e nobre de todas. Somente assim você poderá tentar compreender o filme.

O filme é exótico e instigante. Ele cria uma atmosfera de suspense que envolve e acima de tudo, provoca o espectador. A cena da princesa na cachoeira, é uma das mais belas e emblemáticas do cinema recente. Esta cena também surge para explicar o que teria ocorrido ao filho de Boonmee.

No budismo, a morte não é um tabu, é apenas uma passagem. Nessa religião, todo ser vivo merece o mesmo respeito. Um peixe, um macaco e eu, possuímos o mesmo valor neste mundo. Acreditam em reencarnação, logo, pense 2 vezes antes de pisar naquela formiga, ela pode ter sido um parente seu. Sem ironia, sem brincadeiras, o budismo é assim.

Tio Boonmee acredita estar doente por causa de seu karma, por ele ter matado muitas pessoas e animais.

No final, o ápice. Tia e sobrinho ao ajudarem Boonmee sem questionamentos e de coração aberto, atingiram o Nirvana, a pureza máxima de espírito que independe da matéria. A alma, alimenta-se de bondade. Tornaram-se seres superiores.

E o céu ... bem, este é superestimado. Não existe nada lá. Ótimo filme merecedor de toda badalação. Infelizmente, incompreendido pela sociedade ocidental, materialista ao extremo.





SÓ ENTRE NÓS

Croácia/Sérvia/Eslovênia, 2010
Direção: Rajko Grlic

Um filme sincero, cômico, triste e tarado. Os cineastas do leste europeu sabem utilizar estes elementos como ninguém, trabalham a sexualidade e o humor negro sem papas, na maior naturalidade, como deveria ser.

O que temos aqui é uma verdadeira suruba familiar, não no âmbito literal é claro, mas na essência. Uma história sobre dois irmãos, suas mulheres, filhos e amantes, em um troca troca que poderia gerar confusão, mas não é que eles se entendem? Não não, eles não vivem em uma comunidade hippie. Vivem na bela Zagreb, que cidade bonita.

Medos, desejos e traições vêm a tona. Fraquezas e confissões são expostas. Um filme muito gostoso e sincero acima de tudo, com belos atores, personagens e roteiro.

04/11 - Matilha Cultural - 14h





VISTO/VIDA

África do Sul, 2010
Direção: Elan Gamaker

Costuma-se dizer que se a fotografia chamou a atenção é porque o filme não é lá essas coisas. Eu concordo. No caso de "Visto/Vida" o que chamou a atenção foi a péssima qualidade da cópia e da filmagem, mas o roteiro é criativo e inventivo, resultando em um bom filme, que pela pouca verba que dispunha, fez-se milagre.

O filme trata do eterno problema de imigrantes ilegais, mas aqui, o diretor dá uma invertida no natural, não é a africana que tenta arumar um marido francês para ficar legal na Europa e sim uma francesa que quer arrumar um marido africano para permanecer na África do Sul. A protagonista então faz um anúncio em uma radio local sobre a proposta e marca entrevistas no dia seguinte. Como podemos imaginar, casamentos arranjados não costumam funcionar ...

A edição e o roteiro criativos e inventivos fazem de "Visto/Vida" um programa divertido e gostoso, que proporciona algumas risadas apresentando um assunto tão explorado atualmente, mas pelo outro lado, deixando o dramalhão da questão de lado.

04/11 - Livraria Cultura 2 - 20h10





OCEANO NEGRO

Bélgica/França/Alemanha, 2010
Direção: Marion Hansel

No início dos anos 70, a França realizou quase 200 testes nucleares no atol de Mururoa, na Polinésia Francesa. Jovens marinheiros eram enviados para uma missão e local que eles desconheciam. Para alguns, tampouco importava, já para outros ...

Os testes servem apenas como pano de fundo para descrever e dissecar os 3 personagens principais deste filme agonizante e claustrofóbico, para eles é claro. Massina, Moriart e Da Maggio. Tem também o cão Geovanni, peça fundamental na película e na vida destes três.

Estes jovens encontram-se perdidos e frustrados por estarem participando de algo onde eles são mero detalhe. Eles não se encaixam no uniforme, na filosofia e tampouco naquele grupo de navais. Trata-se de um filme sobre solidão e sentimentos que vêm a tona quando nos sentimos encurralados sem poder expressar nossa própria opinião. O sofrimento e saudade são enormes.

No meio disso têmos Geovanni, o cão que encontra-se tão deslocado quanto eles e não por acaso os "adota" como donos. Ele representa a única válvula de escape destes 3 rapazes. O único ser em que se pode confiar e chamar de amigo no meio do nada do Oceano Pacífico. Ótimos atores. Belo filme.

04/11 - Matilha Cultural - 15h50





UMA CRIANÇA ABANDONADA À BEIRA DO RIO



Uzbequistão, 2010
Direção: Sabir Nazarmukhamedov

Este filme é daquelas preciosidades que vira e mexe nos deparamos na Mostra, isto é, se você for corajoso para descobrir novas cinematografias e explorar novos olhares sem medo de ser feliz. Sem recomendações, críticas ou referências, contando apenas com a boa sorte. As vezes nos damos mal, mas quando o filme é bom, não há preço que pague.

Três amigos revivem o passado através de longas conversas. Contemplam a natureza exótica e bela do local em que vivem e divagam sobre a vida. Um filme sobre valores, família e o cotidiano do que realmente importa em nossa passagem por este mundo.

O filme é pura poesia, logo, a fantasia não poderia faltar. O protagonista conversa com bruxas, anjos e mariposas. Aliás, ele próprio, é o anjo deste poético e belo filme. Lento sim, mas na medida e no tempo certo. Lindo!

03/11 - Matilha Cultural - 16h

O MITO DA LIBERDADE

EUA, 2009
Direção: Davidi Robert Mitchell

Filme independente americano muito bem feitinho. Histórinha sobre adolescência e as descobertas e mudanças desta fase inesquecível de nossas vidas.

O roteiro foca nos relacionamentos, a descoberta da sexualidade, a primeira transa, enfim, explora essa fase em que os hormônios encontram-se a flor da pele e só pensamos naquilo como questão de vida ou morte.

Os atores são ok, a direção boa e a trilha não encaixou muito bem. Também achei que há um excesso de personagens, alguns poderiam ser cortados tranquilamente, mas talvez tenha sido proposital para que a audiência teen encontra-se um personagem para chamar de seu.

Um filme justo, feito para relembrarmos com carinho desta transição para a vida adulta, onde tudo ainda é permitido e não temos muita responsabilidade, nem problemas. Descobertas, aventuras e acima de tudo, a importância de cultivar as amizades, estas sim, que carregaremos por toda a vida. Meus melhores amigos conheci na adolêscencia. Já diria Jim Morrison: Prefiro um banquete de amigos, a uma família gigante.

03/11 - Cinemateca/Petrobrás - 15h