quarta-feira, 29 de setembro de 2010

APENAS O FIM


Brasil, 2008
Direção: Matheus Souza

Finalmente consegui conferir o tão comentado e aclamado filme de estreia do jovem Matheus Souza, que arrebatou os prêmios de voto popular nos Festivais do Rio e de São Paulo. Muito merecidamente diga-se de passagem.

O filme conta a história de um jovem casal, ambos estudantes de Cinema na PUC do Rio, que também serviu de locação, que estão prestes a se separar. Um dia Adriana, interpretada pela gracinha Erika Mader diz para seu namorado Antonio, vivido pelo ótimo Gregório Duvivier que irá partir para uma viagem internacional, morar fora um tempo e que aquele seria o último dia deles juntos. Eles começam então a caminhar pela cidade e relembrando histórias do relacionamento. O amor mútuo entre os dois é claro e evidente, eles se amam, mas guardam a angústia da separação para si mesmos.

O filme é cheio de referências pop, como discussões sobre "Transformers", "Cavaleiros do Zodíaco", Britney Spears e Bozo. Aliás, única falha que encontrei foi nesse abismo que existe entre o Bozo e Spears. A geração que viveu o Bozo foi a minha, a geração que hoje esta na faixa dos 30 anos. Antonio tem 20 anos, mas enfim, mero detalhe.

Impossível não comparar a linguagem de "Apenas o Fim" com o lindo e clássico "Antes do Amanhecer". Sensível, inteligente e criativo. Dois atores com uma química perfeita e um diretor seguro e sabedor do que quer. De coração, espero que seja apenas o começo. O começo de uma promissora e longa carreira. Emocionante.





domingo, 26 de setembro de 2010

AQUI JAZ MAIS UMA SALA DE CINEMA. R.I.P QUERIDO GEMINI.


Ontem ao ler o jornal deparo-me com uma notícia muito triste: "Gemini, 35, apaga as luzes e fecha as portas amanhã. (hoje)".

Foi um choque, mais pela concretização do fato do que pela notícia em si. O Gemini ja vinha sofrendo há tempos com a falta de público. Diversificou a programação com um filme para cada horário de suas 2 salas com 379 lugares cada uma. Fez promoções do tipo compre 1 ingresso e leve o 2° com 50% de desconto (apesar de ser um dos mais baratos da região). Dava paçoquinhas e balas de goma de graça. Apesar de tudo, estava sempre vazio.

Na verdade, nós cinéfilos adoramos um cinema vazio, só pra gente, sem aquele chato que fica abrindo o celular a cada 5 minutos e joga aquela luz desagradável na sua cara, sem aquele cabeção que insiste em sentar na sua frente mesmo com a sala cheia de lugares ou ainda, aquele espaçoso f.d.p que esquece que tem gente no banco da frente e mete o joelhão ou pior, o pé fedido ao seu lado como se estivesse na sala de sua casa. Pois é, eu atraio os malas e já aconteceu tudo isso comigo em uma única sessão. Mas nunca no Gemini.

Localizado no coração da Paulista, mais precisamente no número 807, o Cinema mais kitsch da cidade, com seu escadão, seus carpetes cheio de grafismos em tons quentes em uma sala e frios na outra (sim, odeio carpetes, mas o do Gemini era especial, mesmo dando a sensação de que pulgas infestavam o local), suas confortáveis poltronas de couro, com direito a loveseats e a indefectível trilha sonora que antecipava as sessões embalada por Ray Conniff e sua orquestra, encerra suas atividades hoje as 21:40 exibindo "Cabeça a Prêmio" de Marcos Ricca.

Nestes 34 anos de cinéfilo inveterado já assisti o enterro de outras tantas salas de rua como o Cine Vitrine, que ficava na Augusta, o Top Cine também na Paulista e o Lilian Lemmertz que ficava em um shoppingzinho bem ruim na Pompéia. Vejo outros tantos sobrevivendo, mas não menos cambaleantes como o atual Cine Sabesp na Fradique Coutinho, que muda de nome todo ano de acordo com o novo patrocinador, o Lumiére no Itaim que segue os mesmos moldes do Sabesp e o HSBC, famoso Belas Artes que sofre para manter as atividades. Espero de coração que continuem sobrevivendo e saiam dessa agonia constante.

Muitas coisas poderiam ter sido feitas para salvar o Gemini, como por exemplo, fazer parte do circuito da Mostra de Cinema de São Paulo, uma vez que está na mesma região da maioria dos cinemas que abrigam o Festival. Porque nunca foi utilizado? Porque nenhum patrocinador interessou-se por este marco paulistano? São tantos porques que fica difícil encontrar a resposta. Eu sempre disse que meu sonho era ter muito dinheiro para adotar um desses cinemas. Infelizmente não consegui adotar o Gemini.

Cada vez que uma sala de cinema fecha, sinto uma dor cortante, vendo cada vez mais distante o sonho de um dia este país dar a devida importância a cultura. Só tenho a lamentar e muito. Triste, muito triste.

Hoje, 26 de Setembro de 2010, as 23:50 horas, jaz nesta cidade, um dos cinemas mais importantes deste país, mais um pólo de cultura que se esvai, deixando o Brasil cada vez mais distante da tão sonhada potência. Um povo sem cultura é um povo sem alma. Este tempo chuvoso e bucólico, típico de nossa cidade, hoje não é a toa. Os céus estão chorando e nós cinéfilos, também. Ray Connif no cinema e paçoquinha de graça, nunca mais.


quinta-feira, 23 de setembro de 2010

UMA NOITE EM 67


Brasil, 2010
Direção: Renato Terra e Ricardo Calil

Neste ano em que a TV Brasileira comemora 60 anos, podemos ver no documentário "Uma Noite em 67", como a tv brasileira ainda engatinhava e tentava descobrir como lidar com este meio de comunicação poderosíssimo e ainda meio desconhecido, onde ainda não havia o predomínio da Rede Globo e suas novelas.

Os repórteres do Festival são exemplos máximo desse amadorismo e maneira meio "tosca" de se fazer Televisão ao acenderem seus cigarros ao vivo enquanto entrevistam os artistas. Ao mesmo tempo em que é amador, torna-se espontâneo, mas com certeza não era nada premeditado. Os repórteres eram de uma malemolência ímpar que beirava a comicidade. Muito legal.

O documentário conta a história daquela noite histórica para a Música Popular Brasileira, onde os maiores nomes da MPB atual, ainda eram meros desconhecidos e buscavam seu reconhecimento. Nomes como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Edu Lobo, para citar apenas alguns dos monstros que estava concorrendo ao prêmio de melhor canção naquela noite.

Naquele Festival, o públicou tornou-se um personagem tão importante quanto os artistas e manifestavam-se através de vaias, muitas vaias.

O Doc. relembra o ataque de pânico de Gil que quase não se apresenta, o ataque de fúria de Sérgio Ricardo que não aguentou as vaias e quebrou seu violão, a conquista da plateia por Caetano que começou cantando sob vaias e terminou sob aplausos (emocionante) , a ridícula passeata contra a guitarra elétrica que na cabeça dos nacionalistas ferrenhos representava o imperialismo americano e o começo do fim da MPB. O isolamento de Chico Buarque com o surgimento do movimento Tropicalista, a primeira aparição dos Mutantes com Rita Lee no auge de sua beleza e muitas outras estórias.

O filme resume-se as imagens de arquivo da Record e depoimentos dos envolvidos naquela noite histórica. Segue o esquema básico de documentário, mas quem se importa diante de material tão rico.

O que mais me impressiona era o engajamento político dos jovens daquela época. Edu Lobo venceu o Festival com 22 anos com a linda "Ponteio". Todas as músicas vinham com mensagens políticas embutidas através de mensagens subliminares sempre criticando a maldita ditadura. E todos eram tão jovens ...

Infelizmente, sem querer puxar sardinha para o meu lado, fico triste com o vazio, o oco da geração atual. Fiz parte da geração cara pintada. Sim, ajudei a tirar Collor do poder e uma de minhas maiores emoções vividas foi pular junto com milhões no Vale do Anhangabaú ao ver o decrépito renunciar. Uma ideologia política engajada que hoje não existe mais. Thanx God eu ainda peguei o rabicho desta ideologia graças aos colegas e professores de minha escola. Os jovens de hoje estão perdidos e só querem saber de micaretas e bandas emo, coloridas ou cinzas. E o Brasil que se dane. Só lembram de patriotismo e engajameto em época de Copa do Mundo. Triste.

Como Cinema, não é grande coisa, mas como representação de uma época, é essencial. Importantíssimo para mostrar para a atual geração, que o povo detém o poder, se quiser. Mas hoje em dia, quem se importa? O que eles querem mesmo é tirar o pé do chão. E ainda vão eleger o Tiririca e o Netinho! PUTA FALTA DE SACANAGEM!





terça-feira, 21 de setembro de 2010

HOMENS QUE ENCARAVAM CABRAS

EUA, 2009
Direção: Grant Heslov

Primeiro trabalho na direção de Heslov, mas a parceria com Clooney ja vem de algum tempo, onde ele produziu e participou do roteiro de filmes como "Boa Noite, Boa Sorte" e "O Amor não tem Regras".

O elenco de "Homens que Encaravam Cabras" realmente é de peso. Além de Clooney temos Ewan McGregor, Jeff Bridges e Kevin Spacey. Mas somente isso não basta. O roteiro é fraco e forçado. Clooney não combina com esse tipo de comédia. Na verdade, parece uma tentativa "ruim" de realizar um filme nos moldes dos irmãos Coen, com todo aquele sarcasmo e humor negro que eles fazem tão bem.

O filme conta a história de uma divisão especial de soldados do exército americano. Uma divisão que deve manter-se no anonimato. Estes soldados especiais acreditam terem poderes paranormais e pregam o amor. Bridges mais uma vez faz o papel do louco encarnando o soldado paz e amor que deu origem a esta divisão especial. O título do filme refere-se a prova máxima de seus poderes, matar uma cabra somente com o olhar. Spacey faz o soldado invejoso que quer acabar com a farra e empregar a clássica maneira de ser do exército com todo o rigor. E McGregor, faz o repórter, sempre repórter, que vai atrás de uma história pra contar. Claro que ele não acredita em nada daquilo.

O enredo até que é interessante, mas foi filmado de maneira preguiçosa e boba, contando com o sucesso apenas pelo fato de reunir tantos astros. Fraco.

ps: o melhor do filme é a trilha classic rock com Boston e sua canção "More That I Feeling". Mucho bom.





segunda-feira, 20 de setembro de 2010

CORRIDA AO OSCAR 2011

Uma comissão especial formada por cineastas e críticos irá anunciar no próximo dia 23/09 o indicado brasileiro para concorrer a uma vaga de melhor filme estrangeiro ao Oscar do ano que vem, onde os cinco selecionados serão anunciados no dia 25/01/11.

Qual seu favorito? O Oscar 2011 acontece no dia 27/02/11.

DIREITO DE AMAR


EUA, 2009
Direção: Tom Ford

Bela estreia na direção de Tom Ford. Um dos mais respeitados empresários do mundo da moda, responsável por tirar da decadência a Gucci e atual chefão da Yves Saint Laurent, além de comandar a Balencianga e patrocinar Stella McCartney e Alexander McQueen, Ford mostrou muita sensibilidade e competência no seu début cinematográfico.

Que o figurino seria impecável, disso não havia dúvidas, mas Ford foi além e surpreendeu a todos com a história do professor homossexual vivido por Colin Firth, papel que lhe rendeu a indicação ao Oscar de melhor ator e a premiação em Veneza, justíssima por sinal.

"Direito de Amar" conta a história de um professor que perde seu parceiro em um acidente de carro. 8 meses após o acidente ele ainda não recuperou-se da perda e conta com poucos amigos, na verdade, apenas uma amiga, interpretada pela ótima Julianne Moore que possue um papel pequeno, mas pontual para entender a história do personagem de Colin.

O filme se passa na década de 60 e mostra como era difícil ser homossexual naquele tempo. O filme não é afetado. É claro que existem beijos entre dois homens, uma vez que o personagem principal é gay, mas Ford mostra tudo de uma maneira muito elegante e discreta. Se você é um macho alfa que passa mal só de imaginar dois homens se beijando, passe longe deste filme, mas se você ja é maduro o suficiente para aceitar as diferenças e opções de cada um e seguro de sua sexualidade, o filme deve ser visto, pois o filme trata de amor e da lealdade e sofrimento de um homem que enxerga somente uma solução para sua dor.

O roteiro é muito bom, o figurino e cenografia chiquetérrimos e os atores realizam um trabalho sensacional, principalmente Colin Firth. A ótima fotografia e a trilha lindíssima, completam esta bela e sensível primeira obra de Tom Ford.

O personagem de Colin acorda obsessivo por uma ideia. "Anjos" são enviados para que ele demova este desejo horrível de sua cabeça, e até conseguem, só que pode ser tarde demais, por isso, não lamente, viva! Seu parceiro vivia pregando isso. Ele disse que as vezes até sentia raiva de tanta felicidade que seu amado sentia, sempre sorrindo e de bem com a vida. Você nunca sabe o dia de amanhã, a vida não é uma ciência exata. Sorria e não deixe nada do que pode ser feito hoje, para depois.

"And just like that, it came".





HA HA HA


Coreia do Sul, 2010
Direção: Hong Sangsoo

O cinema coreano vem destacando-se e muito nos últimos anos. Cinema de qualidade com atores e diretores idem. Mas até então, o que mais aparecia eram seus filmes fantásticos como "O Hospedeiro", a trilogia que teve início com "Oldboy" e o vampiresco "Sede de Sangue" e por aí vai. Filmes excelentes, mas surreais, não que isso seja um problema, de maneira alguma, cinema é fantasia, mas é também saber dissertar sobre as coisas simples da vida, o cotidiano de todo dia. Talvez Kim Ki-Duk, do lindo "Casa Vazia" e "Time" seja um destes diretores que preferem abordar temas mais realistas, mas ainda assim, ele também gosta de utilizar da magia que somente o cinema pode proporcionar.

Eis que temos em "Hahaha", do diretor Hong Sangsoo, um filme sem maiores pretensões, onde uma história sobre gente como a gente, arrebatou o prêmio UN CERTAIN REGARD em Cannes neste ano. Nada de vampiros, mostros ou espíritos, quer dizer, mais ou menos, em dado momento o personagem principal encontra um velho guerreiro e busca conselhos com ele, mas é só.

O filme mostra o reencontro de 2 velhos amigos. Um cineasta fracassado e outro infeliz por não conseguir assumir a amante. Durante o encontro eles enchem a cara e contam histórias de suas vidas, que estavam mais próximas do que podiam imaginar.

Os personagens são ótimos, o roteiro leve, divertido e muito bem amarrado. Temos ainda uma tentativa de inovação no modo como são narradas as histórias, através de fotografias de ambos no encontro ouvindo-se somente o áudio.

Um filme divertido, leve e inteligente sobre gente como a gente, com os mesmos problemas e sem afetação. Um filme que mostra a sabedoria oriental e não tem medo de afirmar, SEMPRE, que devemos viver cada dia como se fosse o último. Aliás, conselho que eu sigo a risca e sempre incentivo os outros a seguirem também, afinal, nesta vida só temos uma certeza, e você sabe muito bem qual é. Não sabe? Vida longa ao cinema coreano!





quinta-feira, 16 de setembro de 2010

INDIE 2010

Começa hoje, 16/09 (para convidados) e vai até 30/09 o já consagrado Indie Festival no delicioso Cinesesc.

O Festival completa 10 anos e preparou uma programação de respeito com grandes filmes e diretores. Destaque para o super indie Todd Solondz com "A Vida durante a Guerra", filme que revisita os personagens de seu clássico "Happiness", 12 anos depois.

"Hahaha", de Hong Sang-Soo, que recebeu o prêmio do júri Un Certain Regard em Cannes neste ano também é outro imperdível destaque.

O Festival ainda apresenta as mostras especiais do japonês Kyoshi Kurosawa (nenhum parentesco com o mestre) e do tailândes Apichatpong Weerasethakul. Do japonês destaco o maravilhoso "Sonata de Tóquio" e do tailandês, vencedor da Palma de Ouro em Cannes neste ano com o filme "Lung Boonmee Raluek Chat" (que não veio), destaque para "Síndromes e um Século".

E ainda tem as inúmeras viagens indies de outros países esperando seus passageiros embarcarem. Tudo isso NA FAIXA! VASCÃO! e no cine mais charmoso da cidade, literalmente, não tem preço. Hahaha! Se joga!

veja mais: http://www.indiefestival.com.br/indie2010/sp/



ANIMALDIÇOADOS - FESTIVAL INTERNACIONAL DE ANIMAÇÃO DE HORROR


Do dia 17/09 a 23/09, acontece no Reserva Cultural, o Festival Internacional de Animação de Horror, Animaldiçoados.

São 69 filmes entre curtas, médias e longas brasileiros e estrangeiros. Muito legal, pois os festivais dos mais diversos gêneros estão bombando em Sampa city. Todo mês tem ao menos um e talvez por um erro de estratégia, o Animaldiçoados escolheu uma semana horrível para estrear, uma vez que no mesmo período, teremos o já consagrado INDIE 2010, que está completando 10 anos.

Digo que a data não é boa pois bate de frente com um Festival de prestígio e gratuito, fora que o público é praticamente o mesmo. Cinéfilos precisam de um dia com 30 horas neste mês. Espero que haja público para os 2 festivais, afinal, cinema nunca é demais.

Da programação destaco a animação japonesa "Dante's Inferno: Uma Animação Épica", onde seis diretores apresentam suas visões sobre os nove círculos do inferno.

veja mais: http://www.animaldicoados.com/ANIMALDICOADOS.html