segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Up - Altas Aventuras


EUA, 2009
Direção: Pete Docter e Bob Peterson

Mais um clássico da Pixar. Aliás, como esses caras são criativos e incansáveis. Outro dia vi um documentário sobre a fusão da Disney com a Pixar, muito interessante, onde podemos desvendar o porque de um sucesso atrás do outro.

"Up - Altas Aventuras", conta a história de um idoso que resolve concretizar seu sonho de conhecer e explorar a América do Sul. Sonho este que pertencia à sua falecida esposa e que consequentemente, é o motor que faz com que ele nunca desista da empreitada apesar das dificuldades.

O desenho na realidade foge um pouco do padrão infantil. Ele é melancólico e lembra um pouco "Wall-e" no que diz respeito ao roteiro.

O desenho é bem humano e reflete as dores da morte, solidão e a redenção que impulsiona um futuro livre de amarras com o passado. Parece pesado para crianças? Parece mas não é. O desenho mostra tudo isso levemente em uma linguagem mais que apropriada aos pequenos, afinal de contas, é preciso preparar-se desde criança para os obstáculos que a vida traz no pacote.

Mas o roteiro utiliza-se da realidade para mostrar que podemos sempre ir em busca de nossos sonhos. Sempre podemos fazer algo mais para ajudar alguém. A recompensa? Estarmos bem e felizes com nós mesmos.

Os personagens são incríveis, com destaque para o escoteiro mirim que acompanha o velho em sua empreitada e o cachorro "Doug" que é uma comédia.

Então temos tudo lá. Um sonho a ser realizado. As dificuldades para alcança-lo e a descoberta da amizade pura e verdadeira que ensina indiretamente aos bambinos que egoísmo não tem nada de bom.

Qualquer semelhança com o padre fanfarrão que saiu flutuando com seus balões é pura bobagem. A não ser o sonho de cada um e o colorido das bexigas.

Muito bom. Pena que não existam cópias legendadas em 3D.





quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Loki - Arnaldo Baptista


Brasil, 2008
Direção: Paulo Henrique Fontenelle

Finalmente consegui conferir o tão elogiado documentário sobre um dos principais nomes de nossa música tupiniquim, e bota principal nisso.

O documentário não apresenta nada de novo no formato e é até convencional, mas com um personagem desses, não têm porque criar firulas ou tentar inovar, o personagem retratado por si só é riquíssimo e manter o foco nele foi totalmente acertado.

"Loki" disseca a carreira deste gênio musical complexo e peculiar. A participação dos Mutantes nos grandes Festivais com Gilberto Gil embalando "Domingo no Parque", o casamento com Rita Lee e sua saída do grupo, a depressão pós separação, o abandono dos amigos e o presente em Minas Gerais ao lado de sua atual mulher e fã.

Arnaldo sempre foi a cabeça pensante do grupo. Compositor e arranjador de mão cheia, sua música arrebanhou fãs pelo mundo todo, mas perdeu-se na psicodelia do LSD, a droga mais utilizada pelos gênios que precisam adentrar outros mundos para explorar suas capacidades ao máximo. Temos inúmeros exemplos no mundo da música desta relação ácido X artistas, ainda mais nos idos de 1960/70.

Enfim, após a separação de Rita e sua saída da banda, Arnaldo despirocou de vez. Entrou fundo na depressão e viu seus amigos debandarem. Montou então a "Patrulha do Espaço" onde pôde realizar seus experimentos com a música progressiva, que aliás, dizem que foi um dos motivos da saída de Rita que se via cada vez mais distante daquela nova realidade musical, uma vez que não tocava nada. Depois veio a carreira solo, onde penou para conseguir ter seu trabalho produzido, pois todos tinham o pé atrás com relação ao doidão Arnaldo. Resumo da ópera: O homem fez um dos discos mais aclamados de nossa música até hoje, uma verdadeira jóia que dá título a este documentário.

Mas a loucura só foi aumentando. Era nítido sua fase negra nos trabalhos pós Rita. Letras tristes e pesadas, porém lindas. Rita Lee não quis se pronunciar, ninguém sabe o motivo da separação, mas através deste documentário, fica a sensação de que ela foi a vilã. Mas é impossível saber o que realmente aconteceu. Ficamos na imaginação. Espero que ela abra o jogo algum dia. Mas o homem sofreu demais.

Dado como pirado, foi internado e em uma noite de reveillon tentou o suícidio ao jogar-se da janela de seu quarto. Na verdade ele achou que sairia voando. Realmente é um milagre e dos grandes ele estar entre nós até hoje. Recebeu inúmeras mensagens de apoio do mundo todo, inclusive uma de que me lembro com clareza: Kurt Cobain em sua estada no país dizendo que gostaria muito de encontrá-lo.

Hoje ele vive em Minas, onde dedica-se à pintura ao lado de uma fã que esteve com ele por dias a fio em sua recuperação pós tragédia e que com seu imenso amor, trouxe Arnaldo de volta para nós. O resto já sabemos: Mutantes de volta, shows lotados e homenagens mil a este gênio de nossa música. E como diz um dos ex-integrantes dos Mutantes: Tem uns parafusos soltos sim, e daí? Muito apertado estraga a máquina. Tá ótimo do jeito que tá. Deus abençoe! Disse tudo.

ps: Tá rolando uma campanha na internet para que a "Patrulha do Espaço" abra os shows do AC/DC em Novembro. Seria histórico, ainda mais se Arnaldo resolver dar o ar de sua graça.





segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Amantes



EUA, 2008
Direção: James Gray

Uma relação destruída. A frustração. Tentativas de suícidio e a redenção. Este é basicamente o mote que move o roteiro deste excelente filme que está longe de ser romântico, apesar do título.

A bela sequência inicial já nos dá uma ideia do que virá. Tudo o que o filme representa está lá.

Leonard, o personagem do ótimo Joaquin Phoenix volta para a casa dos pais após o término de uma relação que o afetara profundamente. Ele traz sequelas deste rompimento, começa a tomar remédios e parece tentar disfarçar constantemente sua depressão. Vive um dia após o outro, sem grandes planos e tampouco ambições que um dia sua ganância juvenil almejara, como o desejo de ser fotógrafo. Trabalha na lavanderia da família entregando roupas a domícilio.

Eis que surge uma bela mulher, séria, de boa índole e que se interessa por ele. Para a família, trata-se do partido ideal, uma vez que a moça em questão é filha do homem que pretende realizar uma fusão de empresas, empresas das famílias em questão. De uma só vez arrumariam uma mulher para o filho e ao mesmo tempo, a relação poderia desencadear ótimos frutos para todos. Certo? Errado. O personagem de Phoenix até tem boas intenções. Sabe que a moça gosta dele e que o acerto deste relacionamento poderia ajudar, e muito, os negócios do pai. Mas ele não manda em seu coração. Ninguém detém tamanho poder de escolher quem amar.

Surge então a vizinha. Linda, problemática e frágil. A química é imediata, mas onde um enxerga amor o outro enxerga carinho. É isso mesmo, a personagem de Gwyneth Paltrow enxerga Leonard como um irmão e o procura para conselhos amorosos. Leonard por sua vez esta completamente apaixonado, endoidecido pela mulher como nunca esteve desde sua separação e por isso mesmo, submete-se a realizar tudo que Michelle (Paltrow) lhe pede. Inconsequentemente e irracionalmente. Pois é, parece que mais uma vez apaixonou-se pela mulher errada. Maldito coração!

Ele leva então a relação com as duas paralelamente. Começa a namorar a mulher certa, mas ama a mulher errada. A mulher certa o deseja e a mulher errada não quer saber dele, mas basta um estalar de dedos para ele ir correndo ao seu encontro. Basta uma pequena demonstração de que ela (a errada) possa TENTAR amá-lo algum dia, para que ele mande tudo para o inferno. Mesmo que sua felicidade dure um mês. Leonard é um cara cheio de sentimentos, machucado e que quer muito amar novamente e não somente "ser amado".

Mas mais uma vez o destino lhe prega uma peça e a conclusão chega a dar um embrulho no estômago. Ser feliz intensamente e loucamente ao lado de quem você escolheu repartir seu coração ou ater-se ao seguro colo da mulher que lhe ama, que a família quer, mas que você precisa APRENDER a amar? Aprender a amar a mulher "certa" ou esperar a "errada" aprender a te amar?

Muitos optam pela certeza e tem medo do duvidoso, mesmo que as escolhas não remetam ao desejo do coração. Leonard não queria um emprego estável e tampouco uma mulher perfeita. Ele só queria amar. Mas após tantas decepções, talvez o porto seguro da mulher "certa" seja um bom recomeço para salvar seu doente coração. Mas nunca antes sem tentar. Sempre tentar realizar o que este vagabundo batendo dentro de você deseja. E somente nós, sabemos o que ele quer. Ser feliz intensamente e plenamente, nem que por apenas um mês.

Destaque para mais um belo trabalho de Phoenix. Lindo filme.




quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Coraline e o Mundo Secreto


EUA, 2009
Direção: Henry Selick

Neil Gaiman, o célebre autor do maravilhoso Sandman que esteve à pouco na Flip, resolveu mudar o foco e escreveu um excelente livro voltado para crianças que recebeu uma adaptação maravilhosa para as telonas dirigida por Henry Selick, o mesmo diretor de "O Estranho Mundo de Jack", da obra de Tim Burton.

Coraline é uma pré adolescente que muda com a família para uma nova casa e lá descobre um portal para outro mundo. Sempre questionando os pais: Porque não posso fazer isso? Porque não posso fazer aquilo? Coraline é uma menina ansiosa por aventuras e que acha seus pais os seres mais chatos do mundo. Pois é, todos nós passamos por esta fase. Coitados de nossos pais.

Ela descobre então através dessa portinhola um mundo onde tudo é perfeito (ao menos parece), um mundo onde seus "falsos" pais fazem tudo o que ela quer. Um mundo onde ela não tem horário pra nada e os brinquedos criam vida. O verdadeiro sonho de toda criança. Mas Gaiman aos poucos vai mostrando que o mundo de sonhos não existe e na verdade pode virar um pesadelo rapidamente. Mensagens que vão entrando na cabeça da criança com o intuito de prepará-las para os perigos da vida.

O filme chega até a ser bem sombrio em algumas passagens. Temos então a falsa mãe que se mostra uma megera e a cena das crianças fantasmas.

O filme também é muito colorido, psicodélico e surreal, lembrando um pouco "Alice No País das Maravilhas" que está sendo filmado por Burton e tem estréia prevista para 2010.

Os personagens são ótimos. Temos o amestrador de ratos, as duas velhinhas loucas, o garotinho tímido que sempre aparece na hora certa e o gato que fala no reino dos sonhos. Visualmente temos outra viagem, um banho de cor e criatividade explodindo na tela. Coraline é corajosa e destemida. Reclama sempre do amiguinho homem, mas não vive sem ele. O roteiro baseado no livro, como não poderia deixar de ser, é maravilhoso e temos então uma animação encantadora, inteligente e muito recomendada para adultos.

Gaiman conseguiu transmitir a mensagem (nem tudo que brilha, é ouro) e juntamente com Selick, realizou uma animação perfeita. Cá entre nós, lá no fundinho, Tim Burton deve ter ficado com uma pontinha de inveja. Melhor para nós, pois Alice vêm aí. Com tudo.

ps 1: A voz de Coraline é da mini adulta Dakota Fanning.

ps 2: Não ouse chamar Coraline de Caroline.











Frost/Nixon


EUA, 2008
Direção: Ron Howard

Finalmente consegui conferir este Frost/Nixon que foi um dos candidatos à melhor filme do último Oscar, uma das edições mais fracas diga-se de passagem, mas como já discutimos bastante sobre este assunto, falemos da película.

Frost/Nixon conta a história das celébres entrevistas realizadas pelo entertainer David Frost em 1977 após a renúncia de Richard Nixon.

A carreira de Frost estava em baixa. Ele estava morando e apresentando um programa de variedades na Austrália quando teve a excelente ideia de realizar as entrevistas. A grosso modo, é como se o Otávio Mesquita resolvesse entrevistar o Sarney e tirasse dele tudo o que o povo brasileiro quer saber.

A empreitada mostra-se então apesar de extremamente interessante, pouco viável. Seu produtor faz questão de lembrar Frost que política não era exatamente sua praia e que sua última entrevista havia sido com os Bee Gees. Frost não se importa, esta obcecado e começa a peregrinação para vender as entrevistas para grandes emissoras. Ninguém se interessa. Acham muito arriscado e duvidam que Frost consiga realizar uma entrevista que realmente tire as respostas de Nixon. Os anunciantes rejeitam a ideia e consequentemente, sem anunciantes, não há televisão. Frost decide então bancar todo o projeto sozinho. Compra um horário, contrata grandes pesquisadores da vida pública de Nixon interpretados pelos ótimos Sam Rockwell e Oliver Platt, que ao meu ver, poderiam ter mais destaque e chega ao valor pedido por Nixon, que era apaixonado pelas verdinhas.

Estava tudo certo. Seriam 3 séries de entrevistas com 2 horas de duração cada, onde em cada entrevista seriam abordados diferentes assuntos sobre a vida de Nixon, sendo a última sobre o caso Watergate que derrubou o presidente.

Como era de se esperar, nas 2 primeiras entrevistas Frost foi totalmente engolido pelo tubarão Nixon que com sua malícia e vivência conseguiu até melhorar sua imagem. Nem os produtores e pesquisadores acreditavam na capacidade de Frost. Mas na derradeira e última entrevista, Frost vira o jogo e arranca de Nixon a tão desejada confissão de culpa.

Com esta última entrevista, Frost alcançou a tão desejada credibilidade e colocou sua marca na história da televisão americana que teve uma audiência de cerca de 400 milhões de pessoas.

Trata-se de um filme de ator. Frank Langella está ótimo no papel de presidente corrupto e Michael Sheen segura muito bem o papel de Frost, mas não era pra tanto, apesar de ser um filme bem melhor que o vencedor pop indiano.






quinta-feira, 3 de setembro de 2009

A Vez dos Meninos

Após o surgimento de inúmeras meninas no novo cenário musical brasileiro
como Mariana Aydar, Ana Canãs, Céu (minha preferida), Tiê e Marina De La Riva, chegou a vez dos meninos reindivicarem seu lugar ao sol.

Venho aqui para falar especificamente de duas figuras que acompanho há algum tempo e que possuem trabalhos recém saídos do forno: São eles o paulista Rômulo Fróes e o baiano Lucas Santtana.

Rômulo iniciou sua carreira com a banda Losango Cáqui com quem gravou dois álbuns em 98 e 00. Partiu para a carreira solo e em 2005 lançou o super elogiado álbum Calado, uma homenagem aos grandes mestres do samba com uma pitada de rock indie.

Mas devido ao enorme sucesso de Calado, a imagem de sambista figou grudada ao nome de Rômulo.

Com o lançamento do álbum duplo No Chão Sem o Chão, Fróes espera que essa imagem desgrude de sua pessoa. A melancolia e o samba ainda estão presentes, principalmente no disco 2 do álbum duplo, mas no primeiro disco, Rômulo flerta criativamente com o rock. O álbum tem uma inclinação deliciosamente roqueira.

A 1° parte do álbum entitulada de 1° Sessão - Cala a Boca Já Morreu é a parte nervosa do álbum, com a banda experimentando novas sonoridades voltadas para o rock e a 2° parte, de nome 2° Sessão: Saiba Ficar Quieto, destaca o lado compositor de Rômulo com suas belas e estranhas melodias.

Falemos agora de Lucas Santtana. Esse baiano de Salvador que participou da banda de Gilberto Gil como flautista durante 3 anos é filho de Roberto Sant'Ana, importante produtor musical que trabalhou com Tom Zé, Caetano e Gil na fase áurea da Polygram onde produziu diversos LPs, entre eles Refavela de Gil.

Com tamanha bagagem musical e um histórico desses, não é de se admirar que ele tenha sido muito influenciando pela geração tropicalista. Algumas de suas canções, principalmente as cantadas em inglês, remetem muito ao clássico álbum de Caetano, Transa.

Mas vamos falar do seu ótimo último disco: Sem Nostalgia. Neste trabalho Lucas aproveita toda sua vasta bagagem para realizar um álbum inovador de voz e violão! Voz, violão e uma pitada de natureza. Isso mesmo, a voz e o violão são acompanhadas por sons ambientais e arranjos de insetos, além de uma programação eletrônica bem discreta.

Como em seus trabalhos anteriores, temos algumas canções com letras em inglês. Três canções resultaram da parceria com Arto Lindsay e o músico Curumin está entre os convidados.
O disco é completo. Uma delícia. Ele gruda no ouvido e você não consegue parar de ouvir.

Belas canções como "Night Time in The Backyard", "Hold Me In" e "Cá Entre Nós" nasceram clássicas. A suavidade do violão, os sons da natureza ao fundo e a voz completando lindamente todos estes elementos. Lindo. Tem ainda as instrumentais sensacionais "Super Violão Mashup" e "O Violão de Mario Bros". Criatividade à flor da pele. Música da mais alta qualidade.

Desligue tudo, aumente o som e boa viagem. Um dos melhores discos da MPB recente.

Apesar do início nas raízes do samba e do tropicalismo, Fróes e Lucas nos presenteiam em seus novos trabalhos com o frescor e inventividade que a música necessita. Dois excelentes artistas e dois excelentes álbuns que já entraram para a história da nossa riquissíma MPB.

Então vamos ouvir os garotos. A Radio Trilha toca os 2 álbuns.

ps1: No dia 04/09 (sexta-feira), Lucas Santtana lança o novo disco no Sesc Pompeia.

ps2: Além de ótimos artistas, eles entendem a nova ordem da distribuição musical. Os álbuns encontram-se disponíveis para download. Vai no santo Google.

ps3: Como o Rômulo não quer taxado de sambista, fiz uma seleção mais roqueira de seu álbum.